NO VELÓRIO

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Era uma quarta-feira

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Era uma quarta-feira. Talvez o dia mais pacato e aleatório da semana para a maioria das pessoas, o meio da semana não é muito estimulante, se é que me entende.

Mas para Clara Goldberg era um dia excepcionalmente ruim, tendo em vista que era a data do funeral de seu primo, George.

Desde que podia se lembrar, Clara visitava George ou era visitada por ele. Seu pai e sua tia era muito próximos e ligados, o que gerava constantes encontros em família.
Mas não era como se ela e George fossem realmente próximos dado a diferença de idade. Ele tinha 26 e ela somente 17, George era um exemplo a ser seguido por Clara, ao invés de um amigo íntimo.

Ainda assim, o sentimento estranho e o nó na garganta eram angustiantes. Clara estivera em funerais antes inclusive o da sua própria mãe; mas este em particular lhe atingia de forma diferente: pois se tratava de um assassinato.

Quando uma pessoa que estava doente vem a falecer, as pessoas aceitam. Veja bem, não é como se realmente aceitassem a morte e a falta que essas pessoas viriam causar, mas sim sobre o fato de que uma hora ou outra elas iriam deixar este mundo.
Mas no caso da morte inesperada de alguém em perfeita saúde e ainda jovem, é inaceitável. É como se o fluxo que devia ser seguido fosse quebrado, como se algo no mundo não estivesse certo, e pior ainda; é como se toda a fragilidade humana fosse exposta de forma nua e crua para quem fica.

Milhares de pensamentos passavam pela cabeça de Clara, sentada no banco de trás do sedan do seu pai enquanto olhava para a estrada em volta sendo deixada para trás.
"Será que George tinha sofrido? " era o pensamento mais recorrente. Não tinha muitas informações.
Todos os seus pensamentos foram cortados pela voz de seu pai.

"Clara, comprou o que te pedi?" disse o pai, olhando do retrovisor interno para ela enquanto dirigia. Clara podia ver os olhos dele, no mesmo tom de cor intensa que os dela.

"O que?" Disse Clara ainda distraída em sua própria mente.
"A coroa, filha" disse o pai estalando a língua. "Pedi pra que comprasse a coroa de flores para levarmos ao funeral do George".
O pai de Clara costumava ser muito rígido, ainda mais quando se tratava de deveres e responsabilidades. Para ele pouco importava o sentimentalismo e os sonhos. E somente em situações como um funeral se mostrava mais solidário para com os outros.
"Me desculpa Alonso, esqueci" respondeu ela. "Quando chegarmos no cemitério eu compro com seu cartão".

Clara não tinha o costume de chamar seu pai de 'pai'. Não é como se ela não o considerasse, mas a severidade com que ele a tratava não parecia ser de pai para filha.
Mas ainda assim Alonso Goldberg continuava chamando Clara de filha boa parte das vezes.

Chegando ao cemitério houve o tipo mais estranho de reunião. Os parentes, e haviam muitos, davam boas vindas.
Era estranho ver os falsos sorrisos nos rostos. E como haviam rostos, gente que Clara sequer conhecia.
Eles diziam em tom infantilizado para com Clara "mas olha só como você cresceu!", "já está uma mocinha, Clara" e diversos outros tipos desnecessários de comprimentos que se era possível fazer em um evento fúnebre, Clara respondeu com o máximo de cordialidade que pôde. Ela não costumava socializar muito.

MORTO EM COMUM [Original]Onde histórias criam vida. Descubra agora