Já estava anoitecendo quando Thomas finalmente estacionou a van escolar "consegui evitar os caminhos principais e avenidas, onde provavelmente encontraríamos polícia. Vamos deixa-la aqui", disse Thomas enquanto desligava o motor.
"Vamos simplesmente deixar a Lívia aqui?", perguntou Clara com um olhar indignado "não sei se abandonar uma menina de seis anos em um beco durante a noite é uma boa ideia, Thomas".
"Não se tem muito o que fazer, Clara. Se contarmos pra alguém podemos ser reconhecidos, e de qualquer forma, a polícia já está a procura dela. O investigador Ricardo com certeza está", respondeu Thomas.
O investigador Ricardo...
Só de lembrar de Ricardo, Clara já sentia nojo. Sua determinação em acabar com ele estava em seu auge. Olhando para Thomas, ela não pôde mais julga-lo por fazer o que faz. Ela agora entendia melhor seus motivos.
"Como vamos mata-lo?", Perguntou Clara de forma direta.
Thomas a olhou um pouco surpreso. "Imaginei que talvez saber toda a verdade fosse te colocar no caminho certo, Clara. Mas... Agora preciso que confie em mim e espere a hora certa."
Clara baixou um pouco a cabeça, mas logo as mãos de Thomas passaram sobre seu rosto a conduzindo para um beijo. E com sua voz mais suave e grave, ele perguntou "Você confia em mim, Clara?"
Olhando em seus olhos, sentindo sua respiração, entendendo todos os seus motivos... Não havia razão para que ela simplesmente negasse a verdade que agora a cercava.
"Confio", Clara respondeu.
Não foi tão fácil deixar Lívia sozinha na van, Clara havia dado um beijo em sua testa e disse que tudo ficaria bem. O que mais ela poderia dizer, afinal?
Dentre tudo que ela passava em casa, talvez aquela van não fosse tão ruim assim.
"Vou te ver denovo, Kate?", perguntou Lívia inocentemente.
"Claro que sim! Olha só, eu prometo que um dia a gente vai se ver", respondeu clara, olhando de maneira afetuosa para a Lívia.
Ela deu um abraço apertado na menina.
"Mas lembra que tudo hoje foi segredo de menina, ta?", disse Clara estendendo a mão para Lívia.
Lívia também estendeu sua mão para ela "eu juro!", disse a menininha sorrindo.
Após isso, Clara disse que o pai dela já viria busca-la, fechou a porta e então, com muita dor no coração, saiu para ir embora junto a Thomas.
Eles caminhavam em direção a uma estação de trem. Descartaram as roupas e as máscaras que Thomas trouxe, Clara desamarrou o cabelo e Thomas somente a observava. Ele ficou com as armas que levaram durante o sequestro e as guardou em sua calça.
"Eu quase atirei naquele cachorro, sabia?", disse Clara, quebrando o silêncio.
Thomas deu risada "foi mesmo, é?"
"Qual a graça hein?", Ela perguntou fazendo bico.
"É que o cachorro teria te mordido da mesma forma", Respondeu Thomas rindo "As balas são de festim, só fazem barulho".
Clara parou um pouco pra pensar, como Thomas pode sempre ter alguma carta na manga assim?
Ela simplesmente não sabia que ficava brava ou aliviada.
Acabara de dizer que confiava nele mas ele a enganou. Porém ela também não queria ter ficado com armas carregadas com projéteis verdadeiros.
"E por qual motivo não me disse isso naquela hora, Thomas!?", Disse clara, transparecendo desconfiança.
"Porque queria que você sentisse que estava no poder. Confiança é a chave do sucesso, Clara", disse Thomas de forma confiante.
Por mais que no fundo, Clara não tivesse gostado nem um pouco da resposta, ela entendeu.
Quem sabe não tivesse posto tudo a perder se soubesse que estava na verdade, desarmada?
"Clara, vou chamar um taxi pra você, somente eu irei na estação", disse Thomas, subitamente.
"Ahn? Mas eu não deveria voltar com você?", perguntou Clara, obviamente surpresa.
"O investigador já deve desconfiar que sou o responsável pelo sequestro da Lívia, as coisas agora tendem a piorar. É melhor que você não seja vista pelas câmeras comigo e aqui, Clara.", Disse Thomas exibindo um meio sorriso.
"Vai ficar tudo bem mesmo se voltar sozinho?", Clara perguntou com um ar de preocupação na voz.
Thomas somente a beijou e fez que sim com a cabeça. Assim que o táxi chegou, ele deu um valor que Clara não pôde ver ao motorista e então partiu para a estação de trem adentro.
Thomas havia chamado o táxi que estava parado na frente da estação onde embarcou, mas logo que entrou no táxi Clara se perguntou se não seria melhor ter chamado um motorista por aplicativo.
O taxista exibia um forte semblante de poucos amigos, além de corpulento, tinha uma horrorosa cicatriz acima da sobrancelha. Algo que Clara pôde ver pelo retrovisor do automóvel.
Sequer o “boa noite” de Clara ele se deu ao trabalho de responder. E após confirmar o local de destino, um grande silêncio tomou conta.
Mas… Após tudo que Clara passara naquele dia, ainda parecia uma viagem confortável e segura. Ao contrário de como havia sido na van escolar.
Durante o caminho, Clara ficou pensando sobre como Thomas estava arquitetando o assassinato do investigador, e também, qual seria exatamente sua participação nisso tudo.
Ela tentou varrer isso da cabeça, pois, também tinha de lidar com Thomas, a relação era marcada por acontecimentos bizarros. Clara lembrou de ter lido uma vez sobre casais que passam por situações de alto risco e geralmente acabam ficando mais próximos devido ao trauma. Mas no caso de Clara e Thomas, a própria relação era algo de alto risco, somente de estarem juntos tudo poderia dar muito errado.
Ao mesmo tempo que era boa e única, também era uma relação sombria e psicótica.
Clara se viu olhando para suas mãos, imaginando-as junto as de Thomas.
Tentou se lembrar do calor delas, do toque e textura…
E jurou por um segundo ver suas mãos cheias de sangue. Um vermelho bem forte dos pulsos aos dedos.
Ela se assustou, mas assim que piscou não havia sangue algum.
E não demorou para Clara entender o que estava acontecendo.
De fato, não era sangue, tampouco alucinação;
Clara percebeu que era o vermelho da luz de uma viatura policial que estava logo atrás.
Ela mal teve tempo de pensar o que aconteceria se a polícia parasse o táxi no qual se encontrava, pois o motorista da viatura deu sinal para que o taxista fosse para o acostamento.
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MORTO EM COMUM [Original]
Romance[Esta não é uma história de romance comum] Alguns casais podem dizer que se conheceram por algum amigo, lugar, festa em comum. No caso de Clara e Thomas, este algo "em comum" é um MORTO. Cuidado. Assassinatos em série, manipulação psicológica e uma...