“O que é uma gota de água pra quem já está molhado?”, com certeza você já deve ter ouvido esta frase em algum momento da sua vida ou ouviu alguma outra similar a mesma, porém de baixo calão. Ela significa: você já está numa situação ruim, uma coisinha a mais não vai piorar muito mais.
Pois para Clara Goldberg essa frase nunca fez sentido, afinal, se já está ruim pra que piorar mais?E foi exatamente no quão pior a sua situação que já era complicada poderia ficar. Afinal, alguns podem pensar que namorar um assassino em série, perder a virgindade em um necrotério e mentir para a polícia faria com que Clara aceitasse sem problemas o fato de ter sido convidada a sequestrar alguém.
Mas o pior ainda estava por vir.O sequestro que Thomas Montenegro planejava era de uma criança.
Antes mesmo de ter tempo de responder, Thomas já deu partida no carro e seguiu um caminho.
Clara rapidamente fechou o porta-luvas que continha o revólver que Thomas pediu para que ela usasse.
“Você enlouqueceu de vez, Thomas!! Que história é essa de sequestrar alguém?”, berrou Clara, indignada dentro do carro de Thomas.“Você pediu provas que o investigador Ricardo era um abusador. Vou te dar as provas”, retrucou Thomas de forma suave e ainda mantendo um leve sorriso.
“Quem diabos você quer sequestrar, Tom?”, perguntou Clara, ainda de forma indignada.
“Lívia Handman, a filha do investigador Ricardo”, respondeu Thomas.Então era isso, sequestrar a filha de um investigador da polícia. Era o fim da linha…
“Thomas, como…. Na verdade por qual motivo ela? Você sabe quantos anos ela tem? Como pretende fazer isso?”, perguntou Clara.
“Ela tem só seis anos, Clara. Vamos, você entende né? Ela é a fonte, se você queria provas, qual seria melhor do que o testemunho da própria vítima?” disse Thomas.
Aquilo era loucura, tudo que Clara havia feito nos últimos tempos não se comparava a pegar uma arma e sequestrar uma criança…
A arma…“Thomas, você ainda não me respondeu. Como pretende fazer isso? Vai usar essa arma pra quê?” perguntou Clara.
“Clara, vamos usa-la para render uma pessoa. Preciso que confie o mínimo em mim. Eu tive que sair com o carro as pressas pois não temos muito tempo!”, disse Thomas, que em meio a toda aquela situação, não demonstrava nervosismo.
…
Thomas havia estacionado o carro cerca de duas quadras de distância da rua onde naquele momento se encontravam. Ele e Clara estavam com blusa de capuz preto e seguravam máscaras. Máscaras de plástico com forma de cão, a de Thomas era cinza e a de Clara, alaranjada. Ambos possuíam revólveres.
Clara estava muito nervosa. Como foi concordar com aquilo?
Quando se está prestes a cometer um delito, se você não costuma fazer isso com frequência, é claro, acontece uma guerra dentro de você. O medo de ser apanhado, a ansiedade de pensar sobre o que vão pensar de você. De que você pode travar. Isso fora a tremedeira, suor e o pânico.
Mas, o exemplo anterior era sobre um delito. O crime que Clara estava prestes a cometer era o sequestro de uma criança.Ela se esforçava pra se lembrar de plano de Thomas:
“Vamos fazer assim Clara, eu analisei os horários e o percurso da van escolar que leva e trás Lívia após sua aula. Todo dia sem excessão, ela fica por último na van. Vamos agir depois do desembarque da penúltima criança da van. Serão três pessoas, o motorista, a mulher e assistente dele e a Lívia. Você vai distrai-los, só tem que fazer isso, Clara. O revólver é somente para assustar em último dos casos, entendeu?”Mas em seguida, Clara se lembrou da única frase que a convenceu a participar de tudo isso:
“Sei que você não está gostando, Clara! Sequestrar crianças não é mesmo algo que um bom casal deveria fazer junto, ok, não somos um casal normal no fim das contas, certo? Mas também podemos gravar tudo que ela disser contra o Ricardo. Vamos, pare de me encarar assim.
Lembre o que sentiu quando descobriu que seu primo George tinha vídeos seus! Não foi legal né? Agora imagina sofrer isso sempre, porém o próprio ato da abuso, e pior, na sua própria casa!”Thomas era um assassino, um psicopata, sem dúvidas. Apesar de seu charme e encanto, a forma como ele fazia Clara se sentir, ainda assim era um homem frio e calculista. Clara sabia de tudo isso, mas, de forma alguma pensava que Thomas estava errado.
Tudo aquilo por mais macabro que fosse, tinha uma boa razão.Estava na hora.
Thomas a olhou, colocou as mãos em seus ombros e, olhando em seus olhos, fez a solicitação “eu não consigo fazer isso sem você, Clara. Preciso que espere próximo a casa que te indiquei, vê? Aquela de portão marrom. Assim que a assistente da van entregar a criança para os pais, preciso que a distraia. Espere ela entrar e fale algo com os dois. Assim eu posso me aproximar pelo outro lado.”
Clara obviamente estava insegura e tremendo de ansiedade. Sentia que daria tudo errado. Pra ela, era como uma premonição na qual seria presa e tudo acabaria ali.
Mas ela precisava afastar aqueles pensamentos…“Afastar…”, susurrou Clara, para si mesma.
“Como disse?”, perguntou Thomas
“É bom que dê certo, Thomas! Se não eu mesma vou acabar com você!”, disse Clara sentindo todas as suas emoções de uma só vez. Porém agora decidida a agir.Ela se virou, prendeu os cabelos e foi andando em direção ao portão marrom. Colocando o revolver por dentro da saia escolar e coberto pela blusa de capuz preto que Thomas também lhe dera no carro. Segurava a máscara na mão. E não tinha ideia alguma do que falaria para distrair o motorista e assistente da van escolar que trazia Lívia Handman, a filha do investigador Ricardo.
Ela finalmente chegou na frente do portão da casa, uma casa simples de dois andares. Calculou cerca de doze metros de distância de onde Thomas estava escondido.
Quando parou, levou um baita susto. Um cão começou a latir de dentro do portão. Latir muito alto. Ela ouviu a janela de cima da casa abrir, alguém foi olhar. Clara saiu andando no direção oposta da qual veio.
Mas não poderia se afastar muito, o que faria?
Ela nem se atreveu a olhar pra cima e ver quem abriu a janela. Porém olhando fixamente para frente viu a van escolar dobrar a esquina em direção a ela e a casa do portão marrom.O que aconteceria agora? Teria Thomas uma plano ‘b’?
Não, ela não podia deixar de fazer aquilo.Era agora ou nunca.
Então esperou que a van chegasse até o portão, colocou a máscara de cão alaranjada e seguiu em direção da van, agora estacionada.
A assistente estava tirando uma criança da van, um menino com cerca de cinco, seis ou sete anos. Em seguida uma senhora de idade saía do portão marrom, feliz em receber, quem sabe seu netinho?
A rua estava pouco movimentada ainda, mas Clara viu ao fundo um casal andando na direção oposta a ela. Isso não a intimidou.
Ela se aproximou e falou de forma audível, porém um pouco engasgada, talvez esganiçada “Hey, todos vocês! Olhem aqui, gente! Querem ver um truque de mágica?”.Foi instantâneo que todos, até a criança, olhassem para Clara. Na direção oposta a de Thomas.
Porém, o cão, que agora Clara pôde ver que era da raça pit bull, saiu da casa. Começou a rosnar em direção a Clara e foi correndo ataca-la.
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MORTO EM COMUM [Original]
Romance[Esta não é uma história de romance comum] Alguns casais podem dizer que se conheceram por algum amigo, lugar, festa em comum. No caso de Clara e Thomas, este algo "em comum" é um MORTO. Cuidado. Assassinatos em série, manipulação psicológica e uma...