O Desaparecimento

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Mais um dia havia começado no bairro do Luanda Sul (Viana/Luanda). A população do Luanda Sul era de mais ou menos três mil habitantes e como resultado de um bairro com uma pequena população, todos se conheciam.
Os moradores do bairro já começavam a acordar, com a sua população se preparando para mais um dia de trabalho, e para ir a faculdade. Este último era o caso do Carlos, morador da rua 967, casa número 56F, que acabou de abrir os olhos, ainda atordoado pelo sono devido à má noite que teve. De imediato não veio a sua cabeça a imagem da jovem que o visitou na noite anterior, apenas se permitiu ficar na cama por alguns minutos, fixando o olhar sobre o tecto.
Carlos não se interessava por nenhuma matéria que era dada na faculdade, mas seu fascínio por futebol começou cedo, quando tinha apenas 9 anos de idade, o seu pai havia lhe ofertado uma bola de futebol (Jabulani).
Agora, Carlos está com 22 anos e ainda se interessa por futebol, o que fazia pensar as vezes que o melhor para o seu futuro era se tornar um jogador de carreira internacional, entretanto seu pai Bruno Daniel não gostava da ideia do seu filho se interessar tanto pelo futebol, pois queria que seu filho seguisse a carreira de médico, já a sua mãe Maria Daniel, o apoiava em tudo.
A família Daniel era muito comum. Comum até demais. O Sr. Daniel era um homem alto e forte, corpo atlético, herança da sua juventude. Sr. Daniel era vendedor de imóveis, embora no Luanda Sul não existisse um mercado tão promissor para essa área profissional, por isso a sua esposa discutia sempre pelo facto de ele ter de viajar vezes sem conta.
A Sra. Daniel era uma mulher magra e baixa, com cabelos cacheados e curtos, ela sempre apresentava uma calma expressa em seu semblante. Era formada em advocacia, mas não exercia a profissão, pois por escolher própria, preferiu abdicar da profissão para se dedicar à família.
Carlos sentou-se à beira da cama e continuou a observar o seu quarto. Carlos agora estava mais lúcido e pequenos fragmentos da noite passada começaram a surgir. As lembranças começaram a surgir aos poucos. Ele se lembrava de ter acordado, não lembrava a hora, e ter se deparado com uma jovem ao lado da sua cama, bonita, e se não fosse pelo seu aspecto triste e assustado, pelas roupas sujas e o corpo tão tenso e contraído
O rosto da jovem lhe parecia familiar, tinha uma nítida impressão de que conhecia ela de algum lugar, mas não conseguia lembrar de onde. Sem perder tempo levantou e foi pro banho, pois tinha aula na faculdade logo nas primeiras horas.
Tomou banho e retornou ao seu quarto, colocou uma roupa e foi para a cozinha para tomar o pequeno almoço.
A família já estava toda sentada à mesa.
Bom dia - disse Carlos.
Os pais levantaram as cabeças em direcção a ele, mas somente a mãe retribuiu o bom dia para o filho, o Sr. Daniel estava entretido no jornal, que tapava quase todo o seu rosto. 
Carlos não estava com muita fome, por isso ficou-se apenas pelo chá.
O silêncio tomou conta do ambiente. Carlos ficou com a cabeça baixa, olhando para a mesa. O Sr. Daniel deu uma leve mexida no jornal, o que chamou a atenção do Carlos que quando olhou para o jornal, seus olhos pousaram sobre a fotografia que estampava a capa do jornal, ficou paralisado por alguns minutos, não acreditava no que via.
Sua mente voltou até a noite passada, mais precisamente no sonho que teve com uma mulher no seu quarto clamando por socorro. E a confirmação veio na hora. A fotografia que estampava a primeira página do jornal mostrava uma jovem com um nome sorriso. Sem dúvida era ela. A jovem que estava na primeira página do jornal era a mesma jovem que havia aparecido no seu quarto na noite passada, mas como isso é possível?
A jovem em seu sonho estava tão abatida e suja e na foto do jornal estava tão feliz e bonita.

− Quem é a Moça da foto, pai? – Carlos imediatamente perguntou ao pai. O Sr. Daniel estava tão concentrado no que estava lendo que de imediato não percebeu que a pergunta era para ele. Isso só aconteceu porque a senhora Daniel o chamou novamente e disse que Carlos havia feito uma pergunta.

− O que foi filho?

Falou alguma coisa?

O pai agora havia abaixado o jornal sobre a mesa e o olhava com aquela expressão seria que o pai sempre tinha.

− A jovem que esta na primeira página do jornal, quem é ela? O pai dobrou o jornal para poder observar a fotografia e seu rosto mostrou uma expressão de entendimento.

− Há sim... Esta Jovem está desaparecida desde ontem...

É o assunto do momento na cidade de Luanda. Ninguém sabe o que aconteceu com ela, em um belo dia ela saiu para ir para a Faculdade e nunca mais foi vista. Aqui diz que a polícia está a investigar o caso e que acha que a jovem deve ter fugido de casa.

Carlos não acreditava no que o pai havia acabado de dizer... Como isso era possível? Ontem uma jovem desaparece sem deixar rastos e aparece em seu sonho. Isso não era possível.

− Mas por que ela esta na primeira página do jornal? Jovens que desaparecem não é uma coisa comum em Luanda? – a voz do Carlos mostrava nervosismo e torceu para que o pai e a mãe não notassem.

− Sim realmente é muito comum... Porém, este caso é especial porque esta jovem é daqui... Do nosso bairro... E ela estuda na sua faculdade filho. Neste momento, Carlos perdera as esperanças de permanecer o mais tranquilo possível perto de seus pais. Já não se importava se eles iriam perceber, suas mãos tremiam e percebia-se que o seu rosto estava o mais pálido que poderia ficar.

− Filho você esta bem? – o Sr. Daniel havia levantado de sua cadeira e estava ao seu lado com as suas mãos sobre o ombro do Carlos.

– você está a passar mal? Estás doente?

Neste momento, a Sra. Daniel, que estava na pedra da cozinha, foi para o lado de Carlos, com uma expressão de que não estava entendendo o que havia acontecido com o filho. Os dois permaneceram ao seu lado, até que o jovem conseguiu se acalmar um pouco.

− Estou bem... É que eu fiquei meio nervoso com a notícia... Uma jovem da minha faculdade desaparece e ninguém tem notícias... Como isso é possível? Nunca aconteceu nada parecido neste Bairro.

− Calma, filho, sempre há uma primeira vez pra tudo... A polícia já está a investigar o ocorrido e logo vão encontrar a menina. Podes ter certeza disto. Ela deve ter fugido com algum namoradinho... Coisas de jovens. – a Sra. Daniel falava com aquela voz doce que sempre o acalmava.

Carlos não conseguia acreditar no que estava acontecendo e não podia contar nada para os pais, pois pensariam que ele estaria ficando louco e logo tratariam de marcar uma consulta com o psicólogo.

O bairro do Luanda-sul é conhecido principalmente por sua tradição e por ser muito... Mas muito pacato. Como poderia de uma hora para outra uma jovem desaparecer? Acreditava que não seria difícil para a polícia localizar a Jovem, mais o facto de ela ter aparecido em seu quarto na noite passada e desaparecido como um fantasma o deixava com muitas duvidas, com calafrios por todo o corpo e com uma sensação muito má.

Várias eram as suas duvidas, entre as principais, estavam:

Será que ela está morta e seu espirito apareceu no meu quarto para tentar se comunicar?

Se sim, por que aparecer para mim, um jovem que ela não conhecia?

O que isso significa?

Carlos tinha muitas perguntas e nenhuma resposta.

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