As árvores cada vez mais se fechavam ao redor de Carlos e o Marcos, o que deixava tudo mais escuro. Tudo que podia se escutar era a respiração ofegante de Marcos, que caminhava com dificuldade e que por diversas vezes teve que parar para descansar. Carlos se limitava a apenas seguir Marcos e procurou não dizer nada, para evitar fazer muito barulho.
Em alguns minutos puderam visualizar a pequena cabana ao longe, que emitia uma pequena luz que saia da sua única janela, que provavelmente vinha de um candeeiro. Marcos parou e ficou a observar por algum tempo a cabana.
− Carlos, desligue a lanterna − disse Marcos, desligou sua lanterna − agora eu preciso que se esconda, enquanto entro e converso com a Adela.
− O que? Eu não vou ficar aqui a sua espera e...
− Você me prometeu que obedeceria, não lembra? − Marcos lançou ao Carlos um olhar severo.
− Mas... Eu não posso deixar você estar lá sozinho... É muito perigoso − Carlos ficou nervoso com a situação.
− É perigoso para você, não para mim. A Adela pode estar perturbada, mas ainda é minha mulher. Se você entrar comigo, ela pode surtar e fazer alguma besteira, então, eu irei entrar e conversar com ela. Enquanto isso, você fica observando... Se perceber que algo deu errado... Você... Entra e pega a Nádir e depois corre, sem olhar para trás.
Carlos pensou em protestar, mas sabia que esse era um bom plano. Na verdade era o único plano que tinham. E ele sabia que se entrasse na cabana, junto com Marcos, a Nádir correria um grande perigo.
− Sim, entendi.
Marcos concordou com a cabeça e virou-se novamente em direcção à cabana. Carlos procurou uma árvore, na qual pudesse se esconder e quando achou uma grande o bastante para ficar atrás, olhou para Marcos e viu que já estava bater na porta da cabana. Quase que imediatamente Adela abriu a porta e pareceu surpresa ao ver o marido. Porém, logo seu rosto expressou um sorriso e chamou para dentro.
Marcos já se encontrava dentro da cabana quando Adela, antes de fechar a porta, olhou para fora, aparentemente para conferir se ele realmente estava só. Em seguida a porta se fechou. Carlos, que tentava ver tudo de onde estava, frustrou-se ao perceber que não conseguia ver ou escutar nada que se passava dentro da cabana.
Carlos não poderia ficar ali, teria que se aproximar mais da cabana caso Marcos precisasse de ajuda, ele pudesse saber. Então, contrariando a ordem do Marcos, Carlos se agachou e aproximou-se o mais silênciosamente da cabana, se escondeu próximo a janela da cabana.
O interior da cabana era bem simples, contendo apenas uma pequena mesa com três cadeiras velhas e uma pequena cama ao canto. Marcos abraçava Adela, que retribuía o abraço enquanto chorava.
− Querida, você está bem? − perguntou Marcos, enquanto puxava uma cadeira para a mulher.
− Sim, só estou feliz por você estar aqui. Eu me sinto tão sozinha nesse lugar − respondeu Adela, sentou-se na cadeira oferecida pelo marido.
Marcos pegou outra cadeira e sentou-se de frente para a mulher.
− Então, vamos para casa. Você não precisa ficar aqui sozinha e você sabe disso. Aqui não é sua casa.
− Você sabe que não posso voltar − disse ela, usando a manga da camisa para secar as lágrimas que desciam pelo rosto − Nesse momento a polícia deve saber o que eu fiz. Se voltar, serei presa imediatamente. E eu não quero isso.
− A polícia não tem certeza se foi você que causou o acidente e nem que me esfaqueou. Eu não contei nada. Podemos pensar em uma história. Por favor, volte comigo e me deixe ajudar você.
− Marcos, pare de se enganar. Não tem mais volta para mim. Aquele jovem, o namorado da Nádir, deve ter me visto naquele dia do acidente. Se tiver sobrevivido, com certeza deve ter contado tudo para a polícia.
− Ele sobreviveu, mas não te viu naquela noite. Ninguém tem prova alguma contra você. Se você vier comigo agora, poderemos pensar em algo. Por favor, pense no assunto. Não poderá ficar aqui para sempre.
− Eu sei. E quanto a Nádir? − perguntou Adela.
− O que tem ela? − perguntou Marcos, ficou visivelmente nervoso.
− Eu não posso leva-la para nossa casa. Ela só atrapalha nosso relacionamento. Então, o que faremos com ela? − perguntou Adela também mostrando um início de nervosismo.
− Nós somos sua família e aquela também é a sua casa.
− Esta vendo? Você sempre a defende, não é mesmo? O que você realmente quer é me deixar aqui e ir morar sozinho com ela, não é? − Adela se levantou bruscamente da cadeira e começou a andar de um lado para o outro.
− Adela, por favor. Eu vejo a Nádir apenas como minha filha. Eu te amo e você sabe disso. Tudo isso só está na sua cabeça. Não faça isso. Vamos voltar a viver como uma família.
− Não. Não. Eu sei exatamente o que sente pela Nádir. Eu não estou a imaginar, eu vejo o jeito que olha para ela. Você não vai conseguir me enganar.
Marcos, levantou-se da cadeira, foi em direcção à mulher com os braços abertos, mas por sua vez, rejeitou o abraço do marido, deu-lhe um empurrão. Marcos tentou ficar calmo.
− Querida, eu vou chamar a Nádir e nos três iremos voltar para casa.
Marcos caminhou em direcção à porta que estava fechada, porém foi interrompido pela mulher, que disse:
− Se você abrir aquela porta, eu te mato e depois mato ela.
Marcos se virou para mulher e percebeu que esta, apontava uma arma para ele. Adela, apesar da situação, parecia estar calma. Marcos , por outro lado, estava o mais tenso possível.
− Querida, sou eu, Marcos, seu marido. Por favor, abaixa a arma.
Agora eu quero que você vá embora – Disse Adela.
− Eu não vou embora, não vou deixar você sozinha nesse lugar. Você é minha mulher e meu lugar é ao seu lado. Então, você poderia abaixar essa arma para podermos conversar?
Adela pareceu novamente voltar à razão e abaixou a arma. Ela parecia ter duas personalidades, que alternavam entre si, o que a tornava uma pessoa imprevisível.
Marcos parecia saber do perigo ao lidar com a mulher, pois mesmo com a mulher baixando a arma, permanecia distante.
− Você tem razão, como sempre tem. Eu vou com você.
Podemos resolver tudo isso juntos e voltar a sermos felizes.
− Claro, querida. Você verá que tudo será resolvido.
Podemos mudar de casa e deixar todas essas lembranças amargas para trás. Podemos começar uma nova vida.
− Sim. Mais como eu disse, Nádir não poderá ir connosco.
Essa é minha condição.
− E o que faremos com ela? − perguntou Marcos, apreensivo.
− Você não fará nada. Eu farei − disse Adela, enquanto olhava para a porta trancada.
− E o que você fará? – Marcos claramente estava com medo da resposta daquela pergunta.
− Eu vou entrar e acabar logo com isso − disse Adela − e você pode me esperar aqui ou lá fora, se preferir.
− Querida, não faça isso. Deixa ela em paz. Se você preferir podemos mandar ela morar com algum parente. Sempre há uma outra alternativa.
Adela pareceu não ouvir o que foi dito pelo marido e seguiu em direcção à porta fechada. A arma estava bem firme em sua mão. Marcos observava a mulher sem reação e o Carlos, que ainda observava toda a cena, pensou em se levantar e entrar na cabana, porém foi impedido por um Oliver que gritava:
− Adela, não vou permitir que faça isso com a menina...
Você está completamente fora de controlo − gritou Marcos, e foi contra a mulher, que não conseguiu reagir a tempo, deixou-se cair no chão. A arma voou da mão de Adela, caiu no chão a uma certa distância.
Carlos observava tudo sem saber o que fazer. Adela se levantou do chão rapidamente e foi em direcção ao marido, deferiu vários golpes no seu ferimento na barriga, o que levou Marcos a gritar de dor e em seguida cair no chão. Adela parecia possuída e não parava de ferir o marido, que não revidava.
Marcos, que sentia seu ferimento sendo aberto e o sangue escorrer pela sua barriga, conseguiu reagir após bloquear um dos socos dados pela mulher. Em questão de segundos, ele havia imobilizado a mulher no chão.
− Carlos... Carlos... Agora − gritou Marcos – Tire a Nádir daqui.
Carlos entrou rapidamente na cabana e foi direito a porta que estava trancada. Ao girar a maçaneta viu que o local estava completamente vazio, a não ser por um pequeno colchão que estava no chão. Nádir estava sentada, com as mãos e pés amarrados por cordas bem grossas. Ela estava com os olhos arregalados e ao ver o Carlos, indicou com a cabeça às mãos e os pés. Carlos se ajoelhou próximo a Nádir e começou a desamarrar as cordas. O nó dado não era dos melhores que viu mais deu um pouco de trabalho para ser desfeito.
Finalmente ela estava livre, porém não se levantou. Invés disso, levou as mãos aos olhos enquanto começava a chorar. Carlos, sem pensar, abraçou-lhe, e ela retribuiu o abraço.
− Ah, Carlos, me desculpe por tudo isso. Eu fiquei com tanto medo que você tivesse morrido no acidente... Eu não conseguiria me perdoar se algo tivesse acontecido com você...
Eu...
− Nádir, precisamos sair daqui. Depois teremos muito tempo para conversar − disse Carlos, segurando a mão da Nádir e saíram.
A luta entre Marcos e Adela continuava. Carlos puxou a Nádir até a saída, porém, antes de passarem pela porta ouviram um barulho de tiro. Os dois viraram rapidamente e não conseguiram entender o que ocorreu. Marcos e Adela estavam praticamente abraçados e se encaravam. Em questão de segundos Marcos estava no chão, completamente coberto por sangue, que escorria pelo piso de madeira da cabana.
− Não! − gritou a Nádir, que largou a mão de Carlos – o que você fez?
Adela parecia mais surpresa que eles com o ocorrido. Seus olhos estavam vidrados na arma que estava em sua mão.
− Eu... Eu não queria... Foi um acidente. − disse Adela, desviando o olhar da arma para os dois.
Carlos queria sair dali o mais rápido possível, mas Nádir parecia paralisada com a cena do Marcos caído no chão sem vida.
− Tudo isso é sua culpa − disse Adela para Nádir – Tudo seria diferente se você não existisse. Marcos estava enfeitiçado por você... Completamente cego e agora olha o que aconteceu com ele, está satisfeita?
− Mãe, por...
− Cala a boca. Agora você vai pagar tudo o que causou.
Você e o seu namorado metido a besta.
Adela apontou a arma para filha. Carlos correu para perto da namorada, abraçando-a. Os dois permaneceram juntos e puderam sentir que seria o fim.
− Eu te amo, Alice − disse Carlos abraçou a Nádir com força.
− Eu também te amo e obrigado por não desistir de mim − disse a Nádir.
− Eu nunca desistiria.
Os dois se beijaram e em seguida fecharam os olhos, esperando ouvir o barulho da arma a ser disparada, o que nunca ocorreu, pois a porta de entrada da cabana foi aberta com violência e uma voz gritou:
− Polícia, largue a arma!
Carlos e a Nádir abriram os olhos e se depararam com o agente Marcelo parado próximo a porta, com uma arma apontada para a Adela.
− Eu não vou repetir – disse Marcelo se aproximou lentamente da Adela.
Ela colocou lentamente a arma no chão e levantou as mãos para cima. Carlos e a Nádir, que até o momento continuavam abraçados a assistir os acontecimentos, se afastaram da linha de fogo, foram para o canto da sala.
− Agora, eu quero que chute a arma devagar para mim. E não pense em fazer nada – disse Marcelo que observava cada movimento feito pela Adela, que seguiu as ordens dadas pelo agente, chutou a arma, para próximo do homem a sua frente.
− Muito bem, agora deite no chão devagar e coloque as mãos nas costas – Marcelo relaxou um pouco as mãos sobre a arma.
Adela fez o que foi pedido e esperou enquanto Marcelo se aproximava com as algemas na mão. Em poucos segundos, Adelaa estava algemada e completamente imobilizada. E só então Marcelo pareceu notar a presença dos jovens que estavam no canto do aposento.
− Carlos, o que aconteceu aqui? O que aconteceu com o Marcos?
Carlos contou tudo que havia acontecido desde a casa de Marcos até a cabana. Enquanto escutava o que Carlos falava, Marcelo alternava seu olhar entre o Carlos e a Adela, que não disse nada desde que havia chegado. A Sra. Mayer mantinha os olhos fixos no corpo do marido, que estava bem próximo de si.
Carlos relatava os factos finais que haviam ocorrido, quando Adela começou a sussurrar palavras e todos pararam para escuta-la:
− Eu não queria... Eu não queria... amor me desculpe...
Você sabe que eu te amo... Eu sempre te amei... Mas ela sempre ficou entre a nós... – Adela desviou os olhos do corpo do Marcos para Nádir e continuou a dizer – Você vai pagar... Vai pagar por tudo que fez... O Marcos vai ser vingado, você me ouviu?
− Não ouça o que ela diz. Ela está claramente perturbada – disse Marcelo que se agachou próximo a Adela, de uma forma que pudessem ficar cara a cara – Senhora Adelaide Mayer, está presa pelo crime de assassinato e sequestro. A senhora tem o direito de permanecer calada e tudo que disser poderá ser usado no seu julgamento.
Marcelo levantou a Sra. Mayer do chão e olhou novamente para a Nádir.
− Temos que sair daqui. Sugiro que voltemos para Viana. O protocolo diz que eu deveria chamar uma ambulância para avaliar vocês, mas infelizmente aqui não tem rede. Então... Terão que esperar um pouco.
− Tudo bem. Tudo o que eu mais quero é sair daqui mesmo – disse o Carlos, olhou todo o local a sua volta – Mas o que vamos fazer com o Marcos? Ele não pode ficar aqui, pode?
− Não, mas, não podemos leva-lo agora conosco.
Assim que chegarmos à esquadra ligarei para os médicos legistas para virem avaliar a cena do crime e recolherem o corpo. No entanto, agora precisamos sair daqui.
Marcelo foi até a porta levou Adela, que de início resistiu um pouco, mas apercebeu-se logo de que seria inútil resistir, achou melhor apenas se deixar levar pelo policia. Os jovens seguiram o agente até o lado de fora da cabana.
− A viatura esta há uns metros de distância... Vamos logo – disse Marcelo caminhou em direcção as árvores sem olhar para trás.
Demoraram cerca de 10 minutos para chegar ao local onde estava estacionada a viatura da policia, uma vez que Adela tentava se soltar dos braços do policia a cada minuto. Em uma das tentativas de fuga, ela conseguiu se desvencilhar dos braços de Marcelo e foi direito para Nádir, que imediatamente foi protegida pelo corpo de Carlos. A mulher pareceu não se intimidar pela acção de Carlos e foi com tudo em sua direcção, porém foi impedida pelo Marcelo, que lhe deu uma gravata que a deixou sem ar.
− Essa mulher está muito nervosa, não é mesmo?- Perguntou o Marcelo – vamos embora.
A Nádir sentou-se no banco da frente, enquanto que o Carlos foi designado a ir no banco de trás, junto com Adela, que permaneceu com a cabeça baixa, enquanto prendia a sua algema na porta do carro. Ao sair, a viatura levantou poeira e permaneceram em alta velocidade chegando rapidamente na via expresso que levava a Viana.
Carlos, que olhava pela janela do carro, não sabia o que o aguardava pela frente, mas estava feliz por estar a caminho de casa e, principalmente, por saber que a Nádir estava bem e que se encontrava bem próxima.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Busca incansável
Mystery / ThrillerDepois de um dia longo, Carlos estava em seu quarto, sentia que estava em algum ponto entre o dormir e o acordar, mas quando seus olhos pareciam claramente fechados, algo trouxe de volta...De início era uma voz distante, no entanto quando foi acorda...