Mi Cielo - Shots Of Love

Preciso de você

Eu mal conseguia respirar.
     
Sentia a frequência violenta dos meus batimentos cardíacos contra o peito, e a necessidade de repor o ar ardia em meu corpo. Mas não conseguia. Minhas mãos trêmulas tentavam girar a torneira da pia no que parecia um esforço inútil já que minha visão também começava a embaçar.
      
Conhecia bem aquela reação, embora nunca estivesse de fato preparado para encará-la. Fazia um bom tempo desde a última crise, no entanto. Mas podia ver que algo assim aconteceria mais cedo ou mais tarde... Afinal, estar no meio de uma turnê mundial, depois de meses viajando e trabalhando diariamente, longe de casa e daqueles que amava, me colocava no extremo do estresse e bastava apenas isso para que minha ansiedade me derrubasse.
      
Levanto a cabeça e encaro meu reflexo no banheiro da arena. Meus olhos vermelhos, peito ofegante e cabelo bagunçado explicitavam escancaradamente meu estado desanimador.

Eu tinha acabado de fazer o meet & greet com meus fãs e estava prestes a seguir com minha rotina pré-show quando pensamentos acelerados começaram a nublar minha mente, me fazendo perder a minha descontração. Cenários estranhos começaram a invadir minha cabeça e fui dominado por esse sentimento inquietante, que se enveradava inconvenientemente.
      
- Shawn? Ei cara, o que está acontecendo aí?
      
Brian, meu melhor amigo, pergunta ao tentar abrir a porta que eu havia trancado. Ele notou o modo como eu saíra num rompante da sala de instrumentos, e sabia que ele viria me conferir.

Busco um pouco mais de ar e respondo, quase sem fôlego.
      
- Está tudo bem, eu só preciso ficar sozinho aqui por um tempo. - Meus olhos começam a lacrimejar, sem qualquer motivo específico. - Eu preciso ficar um pouco longe da correria.
      
Ouço seu suspiro e nesse momento sei que ele percebe o que estava acontecendo.
       
- E você não quer que eu fique aí com você?

Pergunta prontamente, forçando mais uma vez o trinco.
       
Normalmente eu até o deixaria entrar para que eu pudesse colocar pra fora o que me atormentava, mas não era o que eu queria dessa vez. Preferiria lidar com isso sozinho.

- Não é necessário, meu amigo. Vou ficar bem. Você pode ir descansar um pouco antes do show.
       
Sei que esta não era a decisão que ele  esperava ouvir de mim mas eu sei que me respeitaria quanto a isso.
      
- Tudo bem... Se precisar de mim, sabe que estarei aqui por você. Estou indo pra Área II jogar um pouco.
       
Escuto ele se afastando da porta e a tensão me faz exalar. Me apoiando na quina da pia, cubro meu rosto com as mãos e fecho os olhos fortemente, tentando buscar distrações para a queimação que sentia em todo lugar.
       
E é assim que penso imediatamente em Camila. Lembro das várias vezes que já conversamos sobre ansiedade e o que ela me disse sobre o que poderíamos fazer para amenizar os efeitos dela em nossa vida excepcionalmente exposta e imediata, que nos pressionava por resultados o tempo todo.

Ela me ajudara diversas vezes ao tentar me confortar com a ideia de que, ao nos dedicarmos mais à nós mesmos, aprenderíamos a identificar sinais de que algo estava errado antes mesmo dessa avalanche final acontecer.

Suspiro, pensando que falhara de alguma forma em cuidar de mim mesmo e agora tinha que lidar com as consequências disso.

É então que subitamente vejo o sorriso acolhedor dela em minha mente. E o seu olhar castanho claro atencioso olhando pra mim ao dizer que eu precisava ser mais gentil comigo mesmo, mais compreensivo e amoroso. Principalmente nos momentos em que eu começasse a não me sentir bem.

Ao lembrar dessas palavras e perceber sua influência em como eu parecia me ver, penso inevitavelmente em como sentia a sua falta. Não à via há pouco mais de um mês, e, estando do outro lado do mundo,  nossos fusos horários não coincidiam nunca. Quando eu estava acordando, ela já estava indo dormir e, assim, chamadas de vídeos eram raras e rápidas.