Capítulo dezesseis

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Era por volta das sete da manhã, estava sentado em uma das cadeiras do palácio prestes a ser coroado como o herdeiro do trono.

O dia estava agitado e o sol já brilhava intensamente como se fosse ser um dia glorioso, os criados corriam de um lado para o outro preparando o famoso baile de coroação.

O meu ânimo se espalhava por meu corpo só me alertando de que faltavam poucas horas para eu finalmente conhecer a minha futura esposa, a princesa Alya de Mitneia, a qual fora prometida à mim desde o dia de seu nascimento.

Meu irmão era poucos segundos mais novo que eu, isso me tornava o sucessor do trono. Apesar de gêmeos, nunca fomos completamente idênticos, quero dizer, no caráter, mesmo que parte do nosso ego fosse genética pura.

Quase não tínhamos rivalidade, a não ser o fato de eu ter nascido primeiro. Meu irmão sempre desejou o reinado, contudo, jamais admitiu que seria capaz de fazer qualquer coisa por ele. Além de sua ânsia obscura para subir ao trono em meu lugar, a chegada de Alya fez com que seus sentimentos triplicassem, agora não era somente o trono, existia uma mulher.

O meu coração fora dela desde o momento em que a vi descendo de sua carruagem para adentrar as portas do palácio, lembro-me de seus cabelos escuros escorridos até a cintura, os olhos feito a noite em seu ápice, o jeito doce, amável, gentil e seu sorriso largo e apaixonante.

Era por volta das oito da noite, estávamos todos preparados para dar início à festa, mas, quando um dos soldados saiu atrás do rei para chamá-lo em seus aposentos, uma cena chocante o fez aparecer segundos antes de abrirmos o portão.

Sua voz desesperada e cheia de angústia ecoou no salão, dizendo:

— O rei está morto!

Meu irmão olhou-me com desespero e subimos as escadas juntos para nos certificar do que havia acontecido, e lá estava o meu pai.

Um cálice com vinho estava ao lado de seus pés, o líquido estava derramado em volta de sua cadeira e seu rosto estava debruçado sobre a mesa a qual ele ficava grande parte do tempo, revendo lembranças de minha mãe.

Ara se debruçou sobre o corpo, aos prantos como um bebê e eu tentei ao máximo manter o meu posicionamento, agora definitivamente a coroa seria posta em minha cabeça, infelizmente, não por meu pai.

Decidimos adiar a coroação, e no mesmo dia um dos nossos criados morreu ao tomar a mesma garrafa com vinho, o que fora confirmado que o rei havia sido assassinado por envenenamento.

Os meses se passaram e nada de descobrirmos quem havia sido o traidor.

Era difícil acusar alguém sem ter provas, mas algo dentro de mim apontava para uma pessoa que eu jamais condenaria; o meu próprio irmão.

O peso da culpa fora me martirizando, eu o vi saindo dos aposentos de nosso pai no mesmo dia, bem depois de mim, justo quando não havia soldado algum por perto.

Durante semanas ele ficou quieto, mas em todos os momentos eu pensei que ele só estava com raiva por eu ser o futuro rei, e não porque estava planejando algo maligno.

Mesmo assim, a minha desconfiança só se tornava mais intensa. Com certeza ele tinha uma parcela de culpa, com certeza.

Não havíamos descoberto de fato quem era o traidor e já estava na hora de seguir em frente, precisávamos realizar a cerimônia de coroação antes que a população entrasse em colapso.

Eu estava pronto, só esperando o bispo dar a benção, quando guardas me seguraram pelo braço como se eu fosse um criminoso, a imagem do rosto do meu irmão encarando-me friamente ainda está vívida em minha lembrança, ele não parecia arrependido, pelo contrário, o sorriso instalado no canto de sua boca era aterrorizante.

Seu dedo estava apontado em minha direção e ele sussurrava como se estivesse completamente consternado; traidor.

Os olhos de Alya pousaram sobre mim marejados, ela estava totalmente em choque.

Mesmo com a acusação eu me opus, gritando incessantemente que eu era inocente até que minha voz sumiu. Ninguém acreditava em mim.

Fui posto no calabouço, de alguma forma meu irmão havia conseguido me incriminar e automaticamente a coroa passou para ele, o qual fora coroado cinco dias depois de minha condenação; o exílio.

Quando finalmente reencontrei Ara ele confessou sua traição, já era de se esperar, ele queria mais que tudo ser rei e sua paixão cega por Alya o incentivou ainda mais a cometer o crime.

A ganância sempre fora presente em sua vida, ele tinha prazer em falar das riquezas da família e todas às vezes que papai falava que eu seria o rei, a raiva ficava estampada em seu rosto. Contudo, eu não esperava tamanha traição, principalmente vinda de meu irmão, meu único irmão. 

. . .

Durante muito tempo passei fome e fiquei na miséria, comendo as migalhas de pessoas do vilarejo e me escondendo nos córregos sujos, até que um dia um menino bondoso me encontrou, me levou para sua casa e sua mãe me abrigou, me deu comida e me ajudou a sair do precipício em que eu estava.

Mira foi meu grande amor durante o exílio, entretanto meus pensamentos não conseguiam se desligar de Alya, dias antes de tudo acontecer havíamos nos deitado, ela já não tinha mais a sua pureza, logo viera a notícia de que ela estava esperando um herdeiro e algo dentro de mim insistia em me dizer que aquele filho era meu, mas, apesar dessa certeza eu não podia me certificar de nada, me aproximar do castelo seria como me entregar para a morte.

Os anos se passaram, tudo estava em paz, eu vivia uma vida boa no campo junto de Mira e Thomaz, portanto, não nutria mais a raiva por meu irmão e nem o desejo de voltar ao castelo, até Ara aparecer e arrancar o único vestígio de minha felicidade.

Ao descobrir que Alya ainda me amava, ele me encontrou e acabou com a virtude de Mira, abusando-a de maneira cruel.

Anos depois, para minha maior tristeza, ele a tirou de mim cruelmente.

De repente fui surpreendido mais uma vez pelo caos.

Júlia e Thomaz presenciaram o assassinato e foram marcados pela violência do rei.

Me reergui dessa vez sozinho, por eles. Criei o movimento rebelde, estava pronto para tirar Ara do reinado.

As crianças tornaram-se jovens e devido ao ódio adquirido há anos atrás, se tornaram grandes guerreiros rebeldes, onde procuravam a vingança assim como eu, como eu os ensinei.

Mas infelizmente nosso plano falhou quando Thomaz se apaixonou pela garota a qual deveria matar, não era mais do que esperado, apesar de fisicamente não ter nada de Alya, o seu jeito era o dela, animada, gentil e distraída.

Era árduo viver com a impunidade, tudo o que eu tinha foi tirado de mim. A coroa, Alya, a liberdade e por fim Mira.

Ara nunca estava satisfeito com as desgraças que causava em minha vida, mas uma coisa ele me ensinou em tudo isso, perseverar.

Agora ele é o meu alvo e eu não vou descansar enquanto não vê-lo agonizando em sua própria destruição.

EU SOU ORION CAMPBELL, O REI LEGÍTIMO, LÍDER DOS REBELDES E O RESPONSÁVEL PELA RUÍNA DE ARA.

A princesa prometidaOnde histórias criam vida. Descubra agora