Capítulo vinte e três

800 79 4
                                    

— Avice, se não formos embora notaram nossa ausência. — a voz de Júlia soou por detrás da ruiva.

A princesa se virou para olhar a rebelde, a qual imediatamente notou o rosto ruborizado e inchado, e os olhos tão vermelhos que pareciam chorar sangue.

— A culpa não foi sua, respire — disse, abraçando a princesa.

Avice sentiu o peso de seu corpo desabar em cima dela, apesar de no começo não terem um bom relacionamento, o fato de tê-la ali a deixava aliviada.

— Eu matei pessoas e... Vi aliados nossos morrendo e... — os soluços dela a impediam de terminar uma única frase.

— Às vezes precisamos lutar, precisamos matar pessoas e infelizmente ver pessoas morrendo. É terrível, eu sei, mas quando vamos à guerra temos que ser conscientes de que a única coisa a se presenciar é a morte.

Nada do que dissessem lhe pouparia, a culpa a atormentava, a imagem do corpinho da irmã de Margareth no chão a aterrorizava. Mesmo que suas mãos já estivessem limpas, ela ainda sentia o líquido quente e avermelhado impregnado em suas mãos, podia tentar pensar em qualquer coisa, mas nada tiraria de sua mente o que presenciou.

— Avice, temos que ir — Júlia se afastou, encarando-a — agora.

Após trocar suas vestes e ter seus machucados cobertos por faixas, seguiram de volta para o castelo.

A escuridão da noite indicava que já era madrugada, mesmo assim, eles não pararam.

Continuaram a cavalgar, até chegarem nas proximidades do palácio, pela manhã.

— Se perguntarem, estávamos apostando uma corrida — Nate sugeriu, encarando os demais.

Todos concordaram movimentando a cabeça.

— Eu não consigo simplesmente fingir que nada aconteceu — sussurrou Avice, ainda perplexa.

Relembrando todos os momentos terríveis, o som dos gritos e os choros vindos do fundo da alma.

— Fará isso por nós Avice — Júlia implorou com os olhos — certo?

Ela assentiu.

— A levarei para o quarto e ficarei ao seu lado — Nate desceu do cavalo e estendeu a mão para a irmã.

— Que eu consiga ao menos dormir. — reclamou Júlia.

— Acabamos de sair de um massacre, matamos pessoas que estavam cumprindo com o dever e você ainda pensa em dormir? — interrogou Nate.

— E o que nos resta? — o olhar dela fora cortante.

— Ela está certa, Nate — Nolan interferiu — enfrentar isso requer descanso, por mais difícil e insensível que pareça — pousou os olhos em Avice — uma guerra não dura apenas um dia, esse é só o começo, precisamos ser fortes e por favor, pacientes uns com os outros.

Um breve período de tensão se apossou do lugar, junto do medo e do intermitente silêncio. Contudo, permanecer ali, um olhando para o outro como se tentasse ler os pensamentos mais profundos era inútil. Avice precisava respirar e tentar se desligar, Nolan precisava pensar em suas estratégias, Júlia precisava descansar e Nate precisava escolher qual caminho iria seguir, afinal, até o momento era imparcial, mas como continuaria assim depois de tudo que viu?

. . .

A princesa estava no quarto, deitada em sua cama ainda pensando no acontecimento catastrófico, seu peito doía a cada lembrança brutal de corpos sendo estirados no chão. Ela própria se torturava, culpando a si mesma o tempo inteiro.

A princesa prometidaOnde histórias criam vida. Descubra agora