— Avice, se não formos embora notaram nossa ausência. — a voz de Júlia soou por detrás da ruiva.
A princesa se virou para olhar a rebelde, a qual imediatamente notou o rosto ruborizado e inchado, e os olhos tão vermelhos que pareciam chorar sangue.
— A culpa não foi sua, respire — disse, abraçando a princesa.
Avice sentiu o peso de seu corpo desabar em cima dela, apesar de no começo não terem um bom relacionamento, o fato de tê-la ali a deixava aliviada.
— Eu matei pessoas e... Vi aliados nossos morrendo e... — os soluços dela a impediam de terminar uma única frase.
— Às vezes precisamos lutar, precisamos matar pessoas e infelizmente ver pessoas morrendo. É terrível, eu sei, mas quando vamos à guerra temos que ser conscientes de que a única coisa a se presenciar é a morte.
Nada do que dissessem lhe pouparia, a culpa a atormentava, a imagem do corpinho da irmã de Margareth no chão a aterrorizava. Mesmo que suas mãos já estivessem limpas, ela ainda sentia o líquido quente e avermelhado impregnado em suas mãos, podia tentar pensar em qualquer coisa, mas nada tiraria de sua mente o que presenciou.
— Avice, temos que ir — Júlia se afastou, encarando-a — agora.
Após trocar suas vestes e ter seus machucados cobertos por faixas, seguiram de volta para o castelo.
A escuridão da noite indicava que já era madrugada, mesmo assim, eles não pararam.
Continuaram a cavalgar, até chegarem nas proximidades do palácio, pela manhã.
— Se perguntarem, estávamos apostando uma corrida — Nate sugeriu, encarando os demais.
Todos concordaram movimentando a cabeça.
— Eu não consigo simplesmente fingir que nada aconteceu — sussurrou Avice, ainda perplexa.
Relembrando todos os momentos terríveis, o som dos gritos e os choros vindos do fundo da alma.
— Fará isso por nós Avice — Júlia implorou com os olhos — certo?
Ela assentiu.
— A levarei para o quarto e ficarei ao seu lado — Nate desceu do cavalo e estendeu a mão para a irmã.
— Que eu consiga ao menos dormir. — reclamou Júlia.
— Acabamos de sair de um massacre, matamos pessoas que estavam cumprindo com o dever e você ainda pensa em dormir? — interrogou Nate.
— E o que nos resta? — o olhar dela fora cortante.
— Ela está certa, Nate — Nolan interferiu — enfrentar isso requer descanso, por mais difícil e insensível que pareça — pousou os olhos em Avice — uma guerra não dura apenas um dia, esse é só o começo, precisamos ser fortes e por favor, pacientes uns com os outros.
Um breve período de tensão se apossou do lugar, junto do medo e do intermitente silêncio. Contudo, permanecer ali, um olhando para o outro como se tentasse ler os pensamentos mais profundos era inútil. Avice precisava respirar e tentar se desligar, Nolan precisava pensar em suas estratégias, Júlia precisava descansar e Nate precisava escolher qual caminho iria seguir, afinal, até o momento era imparcial, mas como continuaria assim depois de tudo que viu?
. . .
A princesa estava no quarto, deitada em sua cama ainda pensando no acontecimento catastrófico, seu peito doía a cada lembrança brutal de corpos sendo estirados no chão. Ela própria se torturava, culpando a si mesma o tempo inteiro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A princesa prometida
FantasiaSer princesa é abdicar da própria vida com o objetivo de proporcionar ao seu reino a melhor chance, Avice sabia bem disso, fora ensinada desde antes de aprender a falar sobre os seus deveres e era claro que isso incluía um casamento arranjado, porém...