Capítulo 15

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E saímos da casa. Começamos a andar rapidamente até a escola, porém cobrindo o rosto, já que em todos os postes, até mesmo em outdoors, tinham a minha foto, do João e da Medusa, com os dizeres bem grandes: ADOLESCENTES DESAPARECIDOS! Tenho pena já que nunca iram nos encontrar até toda essa guerra terminar.

Medusa estava estranha, estava quieta, o que me preocupou já que a mesma não para de falar, porém lembrei que ela estava assim desde do beijo, juntei com que ela tinha me dito e concluí que pode ser que a mesma esteja se culpando, ou se julgando uma pecadora. Eu estou normal, não sei de quem eu gosto realmente. João ou Medusa? Sinceramente, isso é o que eu menos penso, o meu pensamento só tem voltado para a imagem do meu pai, preocupado e chorando com o meu desaparecimento, mas fazer o que? Esta é minha vida agora, andar pela rua cobrindo o rosto com uma daquelas máscaras brancas que pessoas de baixa imunidade usam, e ao mesmo tempo vigiando as minhas costas e a da Medusa, já que nunca sabemos quando irá ocorrer algo.

Paramos em frente a um murro com alguns metros de distância da entrada secreta que Medusa tinha dito. A estrada secreta, nada mais era do que a porta onde o colégio jogava os seus resíduos enquanto os mesmos esperavam o carro passar para levá-los para o seu destino. Era uma porta razoavelmente pequena, nem sei como iremos fazer para passar por ela, porém todo esforço é mínimo, já que nem consigo imaginar o que o João tem passado.

- Temos que esperar o homem que leva o lixo para fora, abri-la, depois disso ele faz dois percursos, um de pegar o lixo que deixou na porta e levá-la até o carro, que fica no final da rua, já que não consegue subir esta ladeira. - para de falar e aponta para o carro enorme no final da rua. - Nesta hora, entramos.

- Okay! - digo encostando-se ao murro todo pintado de vermelho. - Agora o que devemos fazer é esperar.

- Laís, preciso falar contigo. Sobre ontem, sobre aquele beijo... Talvez eu só tenha confundido as coisas, talvez eu só queira ser sua amiga e pensei que era outro sentimento.

- Talvez seja isso mesmo, ou talvez você goste de mim. - falo enquanto a porta se abre. - Vamos esquecer isso! Temos que prestar atenção ali! - sai de dentro do colégio, um cara branco, baixinho que coube exatamente na medida da porta, com o uniforme vermelho e preto, e várias sacolas pretas de lixo na mão. Depois de deixar-las no chão, ele deu uma respirada funda, pegou-as novamente e as levou até o carro, foi nessa parte que corremos. Chegamos até a porta e fizemos uma fila, Medusa entrou primeiro agachada e eu em seguida.

Ao adentrar ao colégio, noto novamente a cena do bosque artificial, nada mudou, as mesmas arvores artificiais, a mesma grama, e a mesma casinha lá no final. Eu e Medusa corremos até o casebre, peguei a chave e a abri.

Entramos e fomos direto até a estante de madeira em que estava o livro. Tiramos as máscaras, Medusa foi vigiar a porta, e eu peguei o livro. O livro estava bem sujo, com manchas de café, partes rasgadas, e as folhas amareladas, porém as informações estavam lá dentro. O livro era nada mais nada menos do que a famosa e espetacular, Bíblia sagrada. Dei uma risada de leve, até que senti o primeiro golpe em minha perna, caí em cima da estante com os livros em cima de mim.

Olhei para a porta, e lá estava Medusa lutando com os vampaias (é incrivelmente interessante como as armas de vela conseguem se adaptar a qualquer formato, quando estão no pulso, são completamente pequenas, quando saem viram armas enormes) com o auxilio das armas de vela, porém eram vários, vários demônios daqueles, até que pensei rapidamente que só um demônio pode matar outro demônio, puxei meu colar do pulso e senti a transformação.

É a primeira vez que fico consciente na forma de vampaia, sinto o sangue aquecendo, os dentes crescendo, a vontade de beber sangue, e um pouco da perda da consciência. Só vejo o meu corpo se movimentar rapidamente para todos os lados, porém o controlo para voar em cima dos vampaias, faço isso, porém nunca consigo pegar nenhum. Medusa mata alguns, mas em vão, já que a cada momento um novo aparece. Lembro dos treinos e tento morder algum outro vampaia, vejo que um está de costas para mim e o mordo até o mesmo virar cinzas em minha boca. O gosto das cinzas é extremamente bom, prazeroso, o que faz meu lado animal querer mais, e ir com muita força para os vampaias, mordo vários, que se dissolvem em cinzas, porém não o bastante, já que vários estavam entrando, ouço os gritos de Medusa, tento procurá-la até que a acho, um vampaia estava com ela em suas mãos, porém a mesma não estava conseguindo se mexer, não penso duas vezes, corro para tentar mordê-lo, só que ele se vira e assopra um pó em mim, até que caio no chão.

O mundo todo gira, e minha visão falha até eu fechar os meus olhos e sentir um zumbido alto em meu ouvido, até gritar para parar, só que só aumentava, era desesperador e incomodante, eu queria que parasse, gritava para isso, só que a cada momento em que gritava, minha voz não saia, e sentia minha garganta fechando, penso que estou morrendo, até tudo se silenciar. Não ouço mais os gritos de Medusa, o zumbido, nada mais. Tudo está calmo, não consigo me mexer, nem abrir os olhos, só ouço o nada, será que eu morri?

Até que ouço choro, choro de várias pessoas, gritos de surpresa, e pelo barulho parece que estou no meio de uma multidão de gente, até que abro os olhos lentamente e vejo minha visão melhorando e lá estava, todo mundo do colégio me vendo no chão, a diretora, os alunos, Katie, Pietro, e até mesmo, meu pai. O vejo chorando, acompanhando da diretora que tenta conter as lágrimas e também o pessoal.

- Não há nada para se ver aqui! Vão já para suas salas! - grita, chorando.

- Olha, ela é uma aberração! - diz um aluno, me fazendo notar que ainda estou no corpo como uma vampaia. Tento me mexer, mas não consigo, só consigo ver.

- Alguém grava isso! - diz outro, enquanto vários pegam os celulares, Katie chora, a diretora manda pararem e meu pai... Ele corre, corre chorando pela multidão, enquanto uns falam: Olha o pai da aberração.

Começo a tremer, a tremer tanto que poderia fazer aquelas árvores artificiais caírem só com o meu tremor, vejo Katie cobrindo seu rosto na blusa de Pietro, vejo os flashs dos celulares, até que fecho os olhos. E tudo some.

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