Agora ou Nunca

Capítulo 32

"Well you only need the light when it's burning low

Only miss the sun when it starts to snow
Only know you love her when you let her go
Only know you've been high when you're feeling low
Only hate the road when you're missing home
Only know you love her when you let her go
And you let her go..."

Passenger - Let her go

Deitado no chão da sala do hotel, com as garrafas de uísque vazias ao meu lado eu penso e sofro. Sofro e penso. Como ela me superou tão rápido? Como pode me trocar por aquele cara? Desistiu dos nossos sonhos tão depressa, abandonou nossos planos e passou a querer escrever sua história com outro. E droga, ela está grávida. Meu maior sonho é ter um filho, é ter um filho com ela. Ela era minha luz e agora brilha ao lado de outra pessoa. Porra!

Ligo para o serviço de quarto e peço outra garrafa. Preciso de mais, preciso de muito mais para aceitar que a perdi.
Ela nem ao menos me ouviu. Mas também nem precisava. Ela já seguiu em frente, enquanto eu continuo um lixo. Mas que droga, cara. As lágrimas descem como um rio, se juntam ao amontoado de emoções que virou a minha alma. Estou na pior. Achei que não podia ficar pior, depois de Donatella mas eu estava errado. Nada me devastou mais do que ver minha mulher com outro cara. Minha mulher. Quem me dera pudesse chamá-la assim.

Meu celular apita, a bateria está acabando. Há várias ligações não atendidas. Não quero falar com ninguém. Preciso de tempo, preciso de silêncio para sofrer sozinho. Não sei se conseguirei superar Kylie, mas tenho certeza que falar com outras pessoas não me ajudará a esquecer. Cada minuto depois que saí daquela casa me dilacera por dentro. Não tenho mais vontade de viver. 

A campainha toca.

Cambaleando, tento chegar até a porta, achando que é o serviço de quarto.
Quando abro, para minha surpresa, é o cara que estava com ela, o tal Ethan.

- Que porra você quer aqui, cara? - ralho

Ele me olha desconfiado, dos pés a cabeça e dá uma olhada na suíte.

- É assim que você pretende reconquistá-la? Entregando os pontos? - pergunta sarcástico.

Ele está tirando uma com a minha cara? É isso mesmo que estou ouvindo?

- Qual é a tua, cara? O que você quer? Veio para acabar de pisotear?

- Do que você está falando? - pergunta

- Você já tem o tesouro. O que mais quer tirar de mim?

- Eu não quero tirar nada de você, meu chapa. Eu quero saber sobre você. O que fez para magoá-la a ponto de ela não querer mais olhar na sua cara? - pergunta

- Não vejo como isso pode interessar para você. - disparo

- Interessa muito mais do que você imagina. Vai me deixar entrar e me contar essa história direitinho ou quer que eu vá embora e você perca Kylie para sempre?

Sem responder, me afasto para que ele possa entrar e vou em direção ao bar. Ele fecha a porta atrás de si e olha atentamente para a suíte desarrumada.

- Você bebe algo? - pergunto

Ele se senta na poltrona a minha frente, cruza as pernas e as mãos.

- Não, obrigado.

Me sirvo de uísque e me sento, olhando para ele e tentando decifrar suas intenções.

- Então, qual é o real motivo de você estar aqui? - pergunto

- Quero saber o que você fez para ela.

Suspiro.  É difícil relembrar tudo.

- Estávamos juntos, eu e Kylie. Tudo corria na mais perfeita paz. Eu planejava me casar com ela num futuro muito breve, mas alguém atrapalhou meus planos. Minha ex-mulher decidiu tomar minha empresa. Arquitetou uma falcatrua vergonhosa, para me chantagear. Não tiraria a empresa de mim se, até o fim de meu divórcio com ela, eu me afastasse de Kylie e fingisse um relacionamento com ela. Obviamente, deu tudo errado. Kylie pensa que estou reatando com Donatella e a deixei de lado. Sumiu, não me deixou dar nenhuma explicação e quando eu consigo achá-la ela está grávida de outro. - Passo a mão nos cabelos, nervoso.

Ele me olha atentamente, tentando me desvendar. Sei que está em dúvida se estou falando a verdade.

Ele se ajeita na poltrona e olha bem nos meus olhos.

- Vamos acabar com isso, então. Kylie e eu não estamos juntos. - dispara.

O QUE? Como assim?

- O que está dizendo? Você vai largá-la grávida? - sinto a raiva subir em meu corpo.

- Não. Kylie e eu somos apenas amigos. Eu sou gay. Recém divorciado. Ela apenas fez o circo todo para você pensar que eu era o pai do bebê. - revela.

Não sei mais o que pensar. Kylie e ele não estão juntos?

- Nada disso está fazendo sentido.

- Não faz para mim também. Por isso te procurei para saber o porque de ela preferir esconder a gravidez de você.

- Espera um pouco, você está dizendo que o bebê é meu? - pergunto

- Os bebês são seus sim. - revela sorrindo.

Uma onda de felicidade repentina atinge meu corpo e eu me sinto flutuando. Vou ser pai. Tudo que eu mais queria, finalmente é uma realidade. Até que a ficha cai.

- Espera, você disse OS bebês? Há mais de um? - pergunto espantado.

- Sim, são gêmeos. Dois meninos. - sorri.

Passo as mãos pelo rosto, desnorteado. Cacete! Dois filhos de uma só vez! Eu sou o cara mais abençoado da face da terra. Vou até ele e me ajoelho ao seu lado. As lágrimas descem pelos meus olhos e eu sou emoção pura.

- Cara, você precisa me ajudar. Eu preciso que ela me aceite de volta. Essas crianças são a melhor coisa que poderia ter acontecido para mim. - peço.

Ele levanta o queixo e me olha sério.

- Vou ajudar. Porque acredito que você está falando a verdade. - se aproxima e aponta um dedo para mim - Mas se eu souber que você está fazendo algum mal a ela, você vai me pagar caro. Estamos entendidos? - indaga

Admiro sua proteção a Kylie, ele não faria tudo isso se não tivesse carinho enorme por ela.

- Sim.

- Sente-se, Erick temos muito o que conversar. - aponta a poltrona a sua frente.

Me sento devagar, limpo o rosto com as costas das mãos e sorrio. Parece que a sorte finalmente está mudando para mim.

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