Capítulo IV- Aquela que o seguiu.

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O incomodo era transparente na face de Miguel. Uma lenta melodia tocava no sofisticado elevador enquanto ambos desciam os dez andares restantes.

- Temos que realmente usar essa coisa? Perguntou inquieto.

- Claro! - Luke respondeu - Como você quer chegar lá embaixo?

- Do mesmo jeito que cheguei aqui em cima. Diz.

- Nem todo mundo aqui pode se teletransportar Miguel.

Luke rispidamente volta a apertar o botão do térreo.

- Para de apertar isso! Desse jeito você vai quebrar. Reclama.

Luke o ignora completamente e o silêncio volta a tomar conta do cubículo onde estavam.

- Como pôde deixar isso acontecer? Miguel quebra o silêncio.

Luke respira fundo antes de começar a sua defesa.

- Quando eu fui enviado para proteger uma mortal eu não sabia de quem realmente se tratava, aparentemente só me contaram metade da história. Então confesso que fui negligente, eu não esperava que ela fosse ser atacada por um demônio, eles não agem por conta própria e não saem atacando mortais comuns por aí e você sabe disso. Não mais! Se justifica ocultando uma parte de sua história. Luke não queria divulgar aos céus o caos que estava se tornando o submundo.

- Ela não é uma mortal comum e você não costumava ser negligente Luccas. Disse Miguel, as suas palavras eram sinceras o quanto eram duras.

- Tem certeza que me conhecia irmão? Luke questionou.

Os irmãos se encararam fixamente. Miguel se sentiu um pouco ofendido já que sim, amava o seu irmão.

- Acho que eu nunca o conheci de verdade já que se tomou a decisão que tomou... Disse magoado.

Miguel se voltou para as portas do elevador fechadas em sua frente. Os mecanismos rangiam com a velocidade que o motor o redigia andarem a baixo.

Luke permanece calado e volta a apertar o botão do térreo.

- Eu deixei de ser muita coisa há muito tempo... - disse baixinho - ...e abrir mão de muita coisa, mas ganhei muitas também.

- Quais?... Miguel pergunta curioso.

Ser um caído, em sua concepção não se haviam vantagens, apenas era uma traição a tudo que ele mais estimava.

- Uma das maiores coisas que ganhei foi minha liberdade, eu não sou mais um capacho do céu, então eu faço o que eu quero. Disse com um sorriso satisfeito em seu rosto.

- É isso mesmo que você pensa que somos? Miguel o questionou soando levemente magoado.

Luke assentiu com muita segurança.

- Não, nós não somos capachos e você não faz o que quer... - afirma -... apenas ganhou um novo mestre e por causa de sua ambição está fadado ao trabalho sujo. Miguel friamente esclarece a realidade de Luke o que faz o mais novo expelir todo o ar do seu pulmão enfurecido.

Luke volta a apertar o botão do elevador freneticamente pela décima quinta vez.

- Mais que porcaria lenta! Reclama.

- Pensei que você gostaria de voltar pra casa um dia. Miguel solta.

- Irmão francamente... Acho que nunca vai entender o porquê eu "traí" os céus. Explicou fazendo aspas no ar.

- Nisso você está certo. Garante o mais velho.

Luke tinha esperanças de que um dia os seus irmãos o entendesse de alguma forma. Ele não procurava por perdão, mas sim por compreensão, algo que muitas vezes, era escassa entre os seus irmãos. As portas do elevador se abrem revelando o lobby principal do prédio. Luke toma a frente saindo rapidamente do pequeno espaço deixando Miguel pra trás. Ainda existia muito recentimentos entre os dois, mesmo que tivesse se passado alguns milênios, a queda ainda era um fardo pesado para alguns carregarem.

Herdeira do EscuroOnde histórias criam vida. Descubra agora