Capítulo VII- Submundo.

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Está deitada em uma espécie de grama áspera e fria foi o quê notei no primeiro segundo em que minha mente recobrou a consciência.

   O meu corpo estava duro como uma pedra, grudada no solo, eu não me mexia. Respirei fundo, um ar gélido adentrou os meus pulmões junto a um cheiro diferente. O aroma era uma mistura de eucalipto, frutas cítricas e rosas vermelhas, um cheiro tão forte quase embriagante.

Ainda com os olhos fechados eu tentei sentir o lugar.

     Eu sentia correntes de ar cortarem o espaço atingindo as copas das árvores agitando as folhas que, por sua vez, liberavam mais daquele aroma cítrico entorpecedor. Haviam corvos entre os galhos piando vez ou outra.

Finalmente abri os meus olhos e dei de cara com uma enorme escuridão.
   
   Onde deveria existir um céu estava apenas uma mistura de nuvens cinzentas entre uma massa negra sem nenhum brilho de estrelas ou da lua. Uma massa tão escura como uma noite eterna. Raios cortaram aquela tela tempestuosa transformando as nuvens cinzas em nuvens vermelhas quase sangue.
    Me apoio em meus cotovelos erguendo apenas o meu tronco, olho para os lados tentando identificar onde eu estava. Todo o lugar era muito escuro para enxergar algo com clareza, mas eu sabia que estava em uma espécie de clareira de grama baixa. As altas árvores de eucalipto cercavam a clareira em um circulo perfeito, entre seus galhos eu consegui enxergar algumas massas pequenas negras, deduzir pertencerem os corvos dos quais eu havia escutado o canto.
    Me ergui com um pouco de dificuldade, devido as camadas de tecido que me cercavam. Olho para o meu corpo e noto que eu vestia um vestido escuro de mangas cumpridas. Toco a saia que eu estava vestindo, a mesma era feita de camadas de tule e cetim muito leves e lisas, o vestido parecia ser feita sob medida já que me caia perfeitamente. A parte de cima também era feita de cetim com um decote reto, caído sobre o decote estava minha medalha de prata, o Sigilo de Lúcifer que brilhava fracamente na escuridão.
Em volta de minha cintura havia um apertado corpete de couro entrelaçado por cadarços em minhas costas. Eu estava descalça, os meus pés estavam congelando devido a temperatura do lugar.
      Mesmo vestindo um vestido de mangas, os pelos dos meus braços estavam em pé por causa das ondas de frio que percorriam todo o meu corpo. Noto algo em volta de minha cabeça, uma espécie de arco, tateio com os meus dedos, era algum tipo de coroa encravada por pedras com cinco pontas tão finas quanto uma adaga, ao chegar com meus dedos em uma das pontas sinto uma leve fisgada e uma fina linha de sangue escore entre meu dedo.

Instintivamente levo a ferida a boca chupando o sangue que havia alí.

—Seja bem-vinda. Me deseja uma voz grave ao meu lado esquerdo.

Tomo um susto e salto para o outro tropeçando nas camadas da saia do meu vestido, caindo de costas no chão.

—Q-quem é v-você? Gagejo para a figura encapuzada em minha frente.

   Através de sua voz deduzir ser um homem, mas eu não tinha certeza já que o mesmo vestia uma comprida manta negra. O capuz cobria toda a sua cabeça e com a ajuda da escuridão ocultava a sua face. As mangas eram largas e igualmente compridas escondendo as suas mãos e se reparasse bem, parecia que o mesmo flutuava sobre a grama.

—Apenas um guia —ele respondeu com aquela voz grave que cortava a espinha — Os vivos não devem transitar por esses domínios desacompanhados. Agora siga-me, lhe restam pouco tempo.

     A figura encapuzada se vira e começa a flutuar na direção oposta para o começo de uma trilha escondida entre as árvores. Me levando rápido e de qualquer jeito puxando os tecidos da saia até a altura de meus joelhos, certamente eles me atrapalhariam na hora de caminhar.
     
A trilha era escura e muito úmida.

Herdeira do EscuroOnde histórias criam vida. Descubra agora