Capítulo V-Memórias de um caído

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Eu estava em um longo corredor.

    A iluminação era baixa provida apenas por tochas espalhadas em espaçados pontos nas paredes. O corredor estava decorado com tapeçarias trançadas em linhos coloridos. Os tapetes tomavam conta de toda aquela superfície, algumas reproduziam cenas antigas, outras a natureza, mas em sua grande maioria relatavam os seres alados envoltos por luzes ofuscante que escondiam as suas faces. Caminhei sem pressa por todo trajeto observando cada detalhe que aquelas obras detiam.

Uma imagem tomou a minha mente por rápidos segundos.

   Me vi em um pequeno cômodo com apenas uma janela iluminada pela luz do sol. Os raios do dia cortavam o espaço e pousavam em um surrado tear em minha frente. Um menino entrou correndo na pequena sala, ele gargalhava e o seu sorriso era contagiante, inocente e sincero. Eu não enxerguei o seu rosto, apenas consegui distinguir os seus cabelos negros bagunçados e as vestes de linho branco que ele vestia muito maiores do que o seu tamanho.

O garoto aparentava ter apenas onze anos de idade.
   
    Ele, logo toma a cadeira vazia em frente aquele tear velho, mexendo no seu mecanismo repetidas vezes, empurrando a madeira pra frente e pra trás sem perder a oportunidade de dá mais gargalhadas travessas a cada gesto de sua peripécia. Era nítido a falta de destreza do garoto, mas ele insistia no trabalho.

" PUM!!!" A porta atrás de mim se abre com um forte estrondo e eu não consigo disfarçar o susto que tomei.

— Luccas!!! — exclama — Já lhe proibir de voltar aqui!... — repreendeu o garoto uma senhora de cabelo brancos bem esticados e presos num longo rabo de cavalo. Ela vestia as mesmas vestes que o menino, só que as delas lhe cabiam perfeitamente. —... E se um dos seus irmãos lhe pegasse aqui outra vez?

O menino se virou em direção a senhora, o seu rosto era uma completa mistura entre irritação e medo, os seus olhos escuros brilhavam como a noite então, junto ao seu nome reconheci a quem eles pertenciam.

   Estou de volta ao longo corredor, a tapeçaria em minha frente levemente torta tinha sido obra de uma das minhas travessuras. A árvore da criação, normalmente imponente, agora pendia para um dos lados. Eu me lembro de ter sido castigado por um dos meus irmãos por ter feito aquilo. Abri as minhas duas mãos com as palmas viradas pra cima, fiquei olhando os antigos cortes cicatrizados há anos, a dor e a ardência eram quase vivas como um lembrete de meu castigo.
  

  Uma enorme porta no final do corredor se destrancou em um breve clique. Mesmo com os seus dois metros de altura e largura, eu não havia notado a sua presença alí.
A sua cor marrom escura lhe camuflou entre as sombras sinuosas daquele corredor mal iluminado. As correntes que a envolviam caíram no chão de mármore ecoando em meus ouvidos. Caminhei um pouco mais depressa do que antes e empurrei a sua pesada madeira revelando a enorme sala que ela escondia.

O recinto era gigantesco.

   O pé-direito deveria ter no mínimo cinco metros de altura, eles eram sustentados por enormes pilares feitos de mármore cinza que percorria toda a extensão do salão em uma linha reta perfeita. Uma enorme clarabóia triangular feita de vidro deixava a luz da lua cheia adentrar o ambiente, a luz prata se misturava ao branco das paredes e refletia sobre o chão de mármore dourado.
  Haviam outras tapeçarias decorando o ambiente, espalhadas pelas paredes entre os pilares, porém não retratavam pessoas ou paisagens em específico, mas momentos de toda a história cósmica. Elas tremulavam e mudavam de cor, outras imagens surgiam e sumiam antes mesmo de eu consegui identificar o que era.

Espadas tinilaram e vozes estridentes invadiram o lugar anteriormente calmo.

   No meio do salão apareceram, do nada, várias pessoas, em sua maioria jovens de todas as idades vestindo roupas de couro claro para combate, empunhando todos os tipos de armas. Espadas de lâminas longas e médias, adagas tão finas quanto agulhas, lanças e arpões... até largos arco e flechas eles tinham em suas mãos. Todas as armas possuíam um tipo de pedra preciosa em seu punho, que brilhavam a cada golpe dado o que dava força e poder a quem as manejavam.

Herdeira do EscuroOnde histórias criam vida. Descubra agora