Capítulo XIV- A ajuda vem de quem menos espero.

19 1 0
                                    


Miguel deveria ser muito idiota ao ponto de achar que eu acataria suas decisões pacificamente, logo eu!

  Porém, no meu estado atual, tentar passar por cima de suas ordens em plena luz do dia, não seria uma decisão muito sábia. Eu precisaria esperar até o anoitecer. Então, decido ficar deitada na maca observando os quatro cantos da sala de cura.

  O espaço se parecia com qualquer outra emergência hospitalar. Clara, livre de decorações e entediantemente silenciosa, porém sem toda aquela aparelhagem moderna ou estação com enfermeiros cumprindo os seus plantões.
  De vez em quando, algumas pessoas vestindo mantos de algodão branco vinham conferir os único três leitos ocupados do recinto. Os curandeiros conferiam os nossos soros, a nossa temperatura e os nossos ferimentos.
Depois de uma hora, a Samantha foi liberada para executar as suas atividades normalmente. A garota morena não olhou em minha direção quando tomou o caminho da saída, mas ainda sim notei que em volta do seu pescoço ainda existiam algumas marcas roxas em formatos de dedos.

Engoli seco o meu receio.

Mesmo ela sendo uma pessoa muito irritante, Samantha não merecia morrer por esse pequeno e insignificante motivo.

Posei os meus olhos na uma maca ocupada a frente. O Edgard não parecia ter tido nenhuma melhora nas últimas horas em que estavamos alí.

   O pequeno grupo de curandeiros insistia em tentar despertá-lo, mas o mesmo convulsionava todas as vezes que começava acordar quase entrando em colapso. Então os curandeiros decidiram colocá-lo em coma induzido para que o mesmo se recuperasse sem sofrer dores que sofreria estando acordado ou outra coisa muito pior.
   Fiquei pensando qual seria a reação de Lia ao saber o estado em que se encontrava o garoto. Com certeza, ela não teria uma reação tranquila, se dependesse de mim ela permanceria achando que o mesmo estava se recuperando bem. Eu já senti na pele o quanto dói saber que alguém quase morreu por sua causa e não era uma sensação agradável.
   Depois de lidarem com Edgard o pequeno grupo se distanciou saindo da sala, ficando para trás apenas uma moça muito alta que aparentava ter por volta dos vinte cinco anos. A moça tomou a minha direção parando junto a maca em que eu estava. Sorrindo de uma forma cautelosa e singela ela se apresentou.

— Olá Melinda! Eu me chamo Dina e vim conferir como está o seu ferimento. Sei que já fizeram isso antes, mas temos que continuar acompanhando a sua recuperação... — ela explicou mantendo o mesmo olhar singelo para logo desviar a sua atenção até a caixa de gazes estéreis em cima da mesinha ao meu lado — Como se sente? Perguntou enquanto pegava algumas gazes limpas.

— Eu me sinto bem... — falei sincera — Quando posso sair daqui?

   Eu precisava planejar o quanto antes a minha fuga e estar presa naquela sala, não iria me ajudar em muita coisa. Dina olhou fixamente em meu rosto por alguns segundos.
Percebi que os olhos dela eram portadores de heterocromia, um na cor azul e outro na cor cinza. A bonita anomalia parecia ser capaz de ler o que se passava em minha mente.

Engoli seco.

—Em breve... — disse pausadamente ainda pensativa —...só preciso conferir se a sua ferida cicatrizou por completo. Isso pode levar alguns dias para acontecer, nem mesmos os nossos excelentes recursos são capazes de conceder certos milagres... — disse de um jeito engraçado desenrolando as minhas ataduras gentilmente —...me avise se estiver doendo.

— Estou acostumada a sentir dor. Digo tranquilo enquanto observo a ferida ser exposta.

— Todos dizem isso até que ela comece. A curandeira disse um pouco mais séria.

Quão foi a nossa surpresa quando Dina terminou de desenrolar as ataduras e a minha ferida estava quase totalmente cicatrizada. Apenas existia uma pequena parte aberta e avermelhada, porém de forma muito superficial e pouco dolorosa.

Herdeira do EscuroOnde histórias criam vida. Descubra agora