Capítulo 1: Desolação

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Não há palavras para descrever o sentimento nulo que havia naquele lugar. Onde um dia já foi um lar feliz, apenas restou morbidez e desgosto. Um abrigo destruído que foi reparado de forma amadora continha somente uma alma viva, e isso ainda era questionável. Os móveis empoeirados caíam no esquecimento, acompanhados da sujeira descontrolada que dominava o local. A escuridão se apossava de cada canto dos cômodos mesmo com o sol iluminando os céus. E desse breu, uma música de origem desconhecida carregava angústia em cada batida.

Isso tudo nos leva a um quarto específico, o mesmo de onde a música vinha. Mas não havia só o projetor sonoro ali. Em cima de uma cadeira, um rapaz de pele clara recheada de cicatrizes nas costas e braços estava de pé. Seus cabelos brancos completamente descuidados quase cobriam seus olhos e seus olhos jaziam o vazio de onde veio. O jovem mantinha uma corda enrolada no pescoço, e em poucos segundos, sem hesitação nenhuma, chutou a cadeira que o apoiava. Ele tentava conter o desespero enquanto era enforcado, e após dois longos minutos, deu seu último longo suspiro. Era a oitava vez no mês que Barry tentava se matar, e agora, ele conseguiu descansar. Pelo menos por alguns instantes.

Ele logo acordou com outro longo suspiro. Começou então a se debater, estando pendurado pela forca. Rapidamente, pegou sua faca do coldre em sua calça e cortou a corda, caindo no chão sem forças, recuperando lentamente o fôlego.

— Por que..? Por que eu não morro?! Por que eu não consigo morrer!!! – Ele falava enquanto esmurrava moderadamente o chão. — Eu não aguento mais...

Essa é a marca de sua decadência. Depois de tudo, suas esperanças estavam mortas mais uma vez, e a única coisa que ele desejava era acabar com sua dor interna, uma dor incessante que queimava o âmago de sua alma.

Depois do ocorrido, Barry caminhou devagar, quase cambaleando, até a sala onde o sofá estava cheio de furos. Antes de se sentar, jogou a faca no centro de um alvo de brinquedo que estava cheio de cortes. Assim que se assentou, pegou o controle da televisão a sua frente e a ligou. Coincidência era que o canal sintonizado era o que trazia notícias e imagens de Crawn.

Nos exatos um mês da explosão parcial da cidade de Crawn, não há nenhum sinal de melhora. Estamos sobrevoando a cidade e só encontramos pessoas fortemente armadas e também depredações e nenhum tipo de esferas civilizadas. Há também indícios de comunidades escravas e grupos de malfeitores, comumente conhecidos como vagabundos. – A repórter no helicóptero mostrava imagens aéreas da completa destruição. — Lembrando, o exército é impedido de interferir pela retaliação vinda de dentro. Dados afirmam que a cidade continha armamento de nível militar. A quarentena impede que qualquer tentativa de saída da cidade venha violar as outras cidades.

Barry assistia àquilo com desgosto. Mas a conformidade de ter ouvido diversas vezes o que viria a seguir já não cortava tanto seu coração.

O atentado se deve a um único homem que ainda não se sabe como, detonou o norte de Crawn inte_ – A mensagem televisiva foi interrompida quando Barry desligou o aparelho.

É um pouco difícil de não perceber, mas tudo parecia estar contra Barry. A total decadência não tinha indícios de que algum dia iria cair por terra. Era por isso que o jovem queria fugir de tudo. Estava preso num mar de depressão e melancolia que o assolaria para o resto de sua eterna vida. A benção de antes se tornara uma maldição a qual roubava qualquer esperança de encontrar paz.

Enquanto Barry tentava reprimir as mágoas dentro de si, alguém bateu na porta, o que era incomum agora que ele se encontrava no fim do mundo.

Devem ser salteadores. – pensou ele – Mas eles geralmente não batem na porta pra avisar que estão entrando. Provavelmente é uma armadilha.

Gênesi - Queda em AscençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora