O risco

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Ponto de Vista (P.O.V.): Rapunzel

Querido diário,

Todo o dia que passa é mais uma decepção para mim. Sinto falta dos meus poderes, e acordar cantando a música da Flor do Sol sem qualquer tipo de resposta não é bem o estímulo que eu gostaria...
Sorte tem o David, quem dera eu nunca tivesse nascido com esse poder... Gothel jamais teria me usado, eu poderia ter memórias da minha infância no reino, crescendo com meu povo, eu nunca teria me afastado dos meus pais, tudo seria tão diferente.
Mas sabe o quê? Não devo ficar me lamentando agora, a vida apesar dos pesares é maravilhosa, afinal, foi faltando liberdade que hoje eu dou valor a cada segundo da minha vida. Graças a Gothel, eu sou uma pessoa que me contento com pouco, sou respeitosa com todos, valorizo a minha família e tenho palavra.
As vezes me pego pensando nisso, como sou alguém abençoada, como todos somos. A vida é tão efêmera, mas majestosamente encantadora. Nós vivemos todos os dias pensando que somos eternos, sempre planejando o dia de amanhã, e de repente, o amanhã não chega, poupamos, pensamos, nos precavemos, fazemos programações e para quê?
Perdemos a magia da natureza, não enxergamos a beleza da vida, não aproveitamos como deveríamos e então tudo passa, tudo muda. Mas sempre esteve lá, bem em frente, só esperando para que alguém observasse essa perfeição reservada a todos, um direito inato de todo e qualquer ser vivo.
Foi pensando nisso, que convidei David para passearmos nos jardins reais, queria aproveitar para conversar com ele, afinal, não é todo o dia que se descobre que você tem um irmão.
Ele é um garoto bonito, moreno, muito inteligente e um dos melhores estrategistas que já conheci, eu realmente posso dizer que ele daria um bom governante. Fiquei mentalizando isso noite passada... Será que devo mesmo um dia me tornar rainha? Nunca foi meu sonho, mas vejo prazer no rosto dele quando em reuniões com nosso pai, conversamos sobre economia, política, como cuidar bem do povo, etc.
Assim, ao som do canto de passarinhos e da exuberante paisagem, perguntei a ele se lhe agradaria ser rei. Ele no começo achou engraçado, mas entendeu onde eu queria chegar. Vi um brilho diferente em seus olhos, um lampejo de puro desejo e contentamento só de imaginar essa perspectiva, e assim, já tinha a minha resposta.
Mais tarde, resolvemos nos sentar e pedimos para Maria, uma das prestadoras de serviços do castelo, para fazermos um piquenique. Comemos, bebemos um refrescante suco de manga com laranja e deitamos casualmente na grama, onde eu fazia carinho em sua cabeça e depois cócegas em seu pescoço. Foi um momento muito agradável.
Passamos a tarde curtindo entre irmãos, olhando as nuvens e apontando para os diferentes formatos, brincando feito crianças, enfim, de fato aproveitando o dia. Nossos pais olhavam de longe e não conseguiam segurar o riso, estavam muito felizes que, apesar do choque inicial, nós havíamos nos dado muito bem. Confiamos e ajudamos uns aos outros como uma verdadeira família deveria fazer.
Não vou mentir que gostaria de ter aproveitado desse momento para falar com meus pais sobre a carta, mas resolvi que não. Vou primeiro avaliar a situação por mim mesma para não preocupá-los e ver o que essa pessoa quem a escreveu tem a me dizer.
Veja como o tempo voa quando está se divertindo, quase completei a página, mas sinto que tenho tanto a escrever ainda...
Para ser sincera, agora estou sozinha, deitada na grama, sobre a toalha do piquenique de mais cedo escrevendo. O vento está muito forte, o clima está se fechando muito rapidamente hoje, até há pouco estava um tremendo Sol e agora nuvens mais escuras estão aparecendo.
Que estranho, olhei melhor agora e percebi que cometi um engano, o tempo não está se fechando completamente, apenas em uma parte. Quero dizer, do meu lado esquerdo o Sol ainda brilha, mas no direito o vento toma conta, nunca vi nada assim em toda a minha vida. Estranho.
O mais estranho ainda, é que agora, 5 minutos depois de ter escrito isso, um mini arco-íris surgiu entre esses dois opostos, separando-os e ao mesmo tempo detendo a altura de uma porta regular. Os ventos se tornaram mais fortes, muito fortes.

-Lê-se somente um último e final risco no diário, de quem não tem tempo de completar o que queria escrever-

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