Capítulo 14 - A FORCA

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Estava tudo perfeito, Kathelly sentia a respiração forte e o corpo quente de Zeck.

Caiu numa breve madorna. Conhecia bem aquela sensação de quando a magia do espelho vinha lhe visitar, parecia que a distância não interferia no poder do artefato. Sabia que era mais um sonho, ou uma visão, que vinha tendo esses dias, como se o espelho quisesse mostra segredos da sua origem.

Percebeu que estava ajoelhada sobre algo úmido e mole. Ao abrir os olhos, não enxergou nada porque sua cabeça estava coberta por um saco de linho velho, feito para coletar estercos de cavalo na carruagem, descobriu pelo mau odor que estava sufocando. Seus braços amarrados para atrás, a corda estava apertada com força machucando os pulsos. Mexia-se tentando escapa, sua costa doía das chicotadas de alguns dias atrás. O silêncio profundo se tornou em murmúrio ensurdecedor de uma multidão raivosa.

Aqueles eram tempos difíceis, o século das trevas como muitos diziam, a fome e a praga predominavam. Tudo era motivo para violência, o sangue satisfazia as pessoas.

— Carrasco tire esse saco da cabeça da prisioneira — disse a voz de um senhor.

O Carrasco apenas obedeceu a autoridade.

Uma mão forte e grossa puxa o saco brutalmente da cabeça de Andrômeda, arrastando seu cabelo junto. kathelly se ver junta a multidão, observando a garota Andrômeda que viu em outros sonhos em ocasiões diferentes. Jogada na Lama em meio a praça pública, em volta por cidadãos enfurecidos por justiça, cuspiam palavras de injúria e ódio. Fico pasma quando viu o palanque em sua frente. Onde dois jovens desnutridos amarravam uma corda em preparo da forca, ao lado um pouco acima, um camarote com cadeiras estofadas. Estava Cornélio o Juiz da cidade, bem ao centro. Logo atrás com júri a Condessa Malvina de Malcultar e o Conde Robert de Malcutar, que eram chamados pelo título de posse.

— Bruxa — gritou com a voz rancorosa e estridente uma jovem mulher em meio à multidão, arremessando uma batata nas costa ferida de Andrômeda.

Kathelly se encontrava fisicamente no local, mas era como se as pessoas não notassem sua presença, mesmo esbarrando nela.

— Meu povo acalma os ânimos. Sabemos que não se trata disso o julgamento dessa mal-afortunada — falou o Comandante da guarda da cidade tentando apaziguar a multidão.

Andrômeda gemia no seu interior, com a pancada que recebeu da batata, ficou grata por não ser uma pedra. Muito mais havia por vir, a multidão segurava bolsas com legumes putrefatos. Ela com as mãos apoiadas na lama não se importava com mais nada, estava suja, seu corpo exalava um odor fétido, sua boca fedia a sangue coagulado. O vestido, mesmo sendo de alto valor, não tinha mais cor, estava rasgado por causa da luta que teve com o guarda, que na noite anterior tentou estuprá-la. Porém o soldado não foi bem sucedido, após deslocar o pênis com uma bicuda dela.

Só mais alguns minutos estaria livre de todo aquele sofrimento, talvez a forca fosse uma dádiva divina, um portal para a liberdade, um veredito de misericórdia. Nunca se conformou com uma vida de escrava.

Ela olhou o céu da manhã nublado, pensou o dia perfeito para minha ascensão. Começou a cantar uma antiga canção que aprendeu com sua ama de leite, sua voz fria ecoou pela cidade com o último lamento de morte, causando calafrios nos mais crentes.

— Calada — ordenou o carrasco ao seu lado.

Não cessou sua voz por causa do brutamonte que poderia arrancar seus dentes com um soco, e sim por que avistou a única pessoa que lhe amava de verdade na vida, Princesa Ellè, que descalça corria pela rua principal da cidade, em sua direção aos prantos e lágrimas, sem importar em pisar nos estercos de cavalos, e bois ou mela sua camisola azul clara na lama. Quando se aproximava escorregou em uma fruta podre, caindo de busto na lama, melando quase toda a camisola e parte do corpo. Com esforço levantou em lágrima e agarrou Andrômeda, com toda a força que pode.

ESTRANHO MUNDO DE KATHELLY ANDRÔMEDA (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora