Cialía, a mulher pássaro

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Cialía não tinha medo do novo. Ela gostava do novo, chorava por ele. Ter contato com o novo, pra ela, era como fuga temporária de uma gaiola. Digo isso porque, pra mim, Cialía era pássaro aprisionado. Eu tinha pena de Cialía, porque me sentia pássaro livre. Ela vivia com sua avó, quem não lhe demonstrava amor, apenas controle sobre sua vida.

No início da adolescência, Cialía era proibida de se divertir como as outras garotas de sua idade, que iam à praça, no centro da cidade, aos finais de semana. Uma vez, mostrou-me um livro de bruxarias que havia encontrado no guarda-roupas de sua avó. A partir daí, quando conversava comigo, sempre se referia a ela como "bruxa". Um dia, sem mais nem menos, ela fez questão de voar pra bem longe. Tão longe que nunca mais a vimos. Finalmente, sua avó sentiu sua falta -- tarde demais!

Lembrar da solidão do cárcere de Cialía é recordar de ilusões minhas. Eu me sentia tão mais forte que ela. Mas eu não fui e talvez hoje eu ainda não seja. Cialía era forte, de verdade, pois se deixava emocionar durante nossas brincadeiras. Com Cialía descobri que ser forte é mais do que se achar livre. Com ela percebi que ser forte é transbordar emoções e não ter medo de correr riscos.

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