Devolva minha filipinha!

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Não que eu tenha recebido ou devolvido filipinhas com muita frequência, mas foram vezes suficientes para que eu tenha esquecido completamente da primeira vez que recebi uma de meu avô, quem começou toda a brincadeira.

O espaço de tempo entre elas era grande, porque uma filipinha é um acontecimento raro.

Quando demorava mais do que o normal, sempre tinha a sensação de que a qualquer momento meu avô chegaria em casa extasiado, perguntando à minha mãe onde eu estava - o que não demorava muito de acontecer.

Eu escutava a resposta de minha mãe e, sem demora, corria para a porta da cozinha, para esperá-lo me chamar:

-- Pretaaaaa, o que dizia com um sorriso no rosto e as mãos jogadas para trás, a fim de esconder o tesouro encontrado, o que, em verdade, era inútil, porque o brilho em seus olhos delatava o que trazia às mãos.

Depois que ríamos bastante e nos abraçava-mos, ordenava a mim, sempre em tom jocoso:

-- Me devolva minha filipinha!

Todas as vezes que eu recebia uma filipinha de meu avô, eu ficava fascinada, mas também apreensiva por querer devolvê-la o mais rápido possível. (deus me livre ficar devendo algo, ainda mais pro meu vô).

As filipinhas mais frequentes eram bananas de diferentes tipos: prata, água, maçã, pêra.

Há muito tempo não recebo nem devolvo filipinhas.

A verdade é que lembranças como essa me fazem perceber que sinto saudades de ficar abraçada filipinosamente com meu vô, enquanto ele cantarolava, baixinho, partes soltas de cantigas dos tempos de sua infância.

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