Capitães da rua

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A peripécia que se segue aconteceu no dia dois de novembro - de algum ano não recordado -, feriado nacional.

A data fora escolhida porque era o dia em que todos os anos, não apenas os moradores daquela rua, mas toda a pequena cidade orava pelos seus mortos.

Quem não se sentia bem indo a um dos dois cemitérios que havia na cidade, fazia suas orações ou homenagens em casa mesmo, silenciosamente.

Naquele dia ensolarado, após o horário do almoço, a garotada, aos poucos, foi se reunindo.

No total, oito delinquentes, de variadas idades. Logo, cada um tomou o seu posto.

A chefa do bando, a mais velha entre os delinquentes, de aproximadamente 15 anos, era quem tinha, junto ao pescoço, em um colar de penca de chaves, por debaixo da blusa, a chave do estabelecimento ao qual decidiram furtar.

O local era uma casa velha onde antes funcionava um bar, mas, àquela época, servia de armazém para guardar sorvetes e laticínios.

O plano era o seguinte: os mais lentos deveriam vigiar as duas extremidades do local, que, por sorte, não era muito extenso; os mais habilidosos ficaram encarregados de praticar o delito.

O único impedimento até ali era que, não muito distante, um morador fumava pacientemente um cigarro na porta de sua casa.

Aproveitando isso, decidiram que aquele seria o sinal: tão logo o homem desaparecesse, o plano deveria ser rapidamente posto em prática. E assim ocorreu.

O garoto que fora encarregado de entrar no local, com a ajuda da chefa e de mais uma garota, forçou seu corpo esguio contra a porta deteriorada, que, prontamente, deu seu grito de madeira velha.

Por um instante, todos ficaram apreensivos, ponderando se o risco valeria realmente à pena, já que nenhum deles tinha feito aquilo antes.

Mas, todos ali eram espertos o suficiente para saberem que o passo em falso já havia sido dado. Agora, só restava acreditar que o garoto seria rápido.

Sob os gritos abafados de apreensão da chefa, porque o morrer do sol anunciava o nascer da noite, o garoto rapidamente saiu com a quantidade combinada, algo em torno de 20 iogurtes.

Depressa, as duas garotas fecharam a porta e saíram correndo para acompanhar o restante do bando, que, já ao longe, gargalhava e gritava euforicamente:

- PERNAS-PRA-QUE-TE-QUEROOOO!

Contos de RouxinolOnde histórias criam vida. Descubra agora