Mãe-da-lua

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Pra quem não compreendia sua dor, era uma cena esquisita, que se repetia a qualquer hora do dia: ficava em pé, na porta do quintal, olhando para o horizonte, enquanto dava gritos sofridos, chamando pelo filho.

Não obtinha resposta audível. Só sentia o peito apertando, explodindo de angústia, saudade, arrependimento. Tudo isso junto. Tristeza que só sente quem perdeu um filho que ama.

Filho homem, só teve aquele. As outras mães, suas vizinhas e amigas, que não eram órfãs de filhos, não compreendiam a mãe-da-lua. Às vezes, achavam que ela tinha mesmo era enlouquecido.

Não se importava que pensassem isso a seu respeito, pois a verdade é que estava mesmo louca: louca de uma dor pungente. Era uma dor que deixa a alma em carne viva e os olhos vermelho expressivo, prestes a romper sangue incolor e seco.

O que não entendia era como é que aquilo poderia ter acontecido com seu único filho. Falta de cuidado é que não foi. Falta de aviso é que também não foi. Não o deixava à toa.

Sempre estava a sua procura, pelas ruas da cidade, para colocá-lo na linha ou levá-lo para casa. Que falassem as más línguas. Todo mundo estava de prova que sua patrulha materna era eficaz.

A vizinhança reclamava do show que ela dava quando encontrava o filho na rua. O garoto detestava os gritos exagerados de sua mãe. Tanto, que discutiam na rua, na frente de qualquer pessoa.

Mas, agora, tudo isso não importava. Nada importava. O mundo é que ruísse, como ela.

Mesmo em meio a tanta dor, a mãe-da-lua alimentava, no lado esquerdo do peito, um sonho que sabia ser impossível.

Bem que a causa de sua dor imensa podia ser tão somente um pesadelo. Ou uma peraltice do seu instinto materno de luz.

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