eu não gosto de sonhar porque acho que eu não mereço sentir a dor da minha propria imaginação se desintegrando e atirando um balde de água fria no meu rosto mas acontece que ultimamente alguém simplesmente arrancou todas as fitas repetidas que passavam pela constante mutação mecânica do meu cérebro durante o meu sono por alguma coisa sem pé nem cabeça e agora eu tenho vontade de correr quando eu acordo; se é que eu acordo alguma hora antes da minha real hora de acordar.
eu me aproximo lentamente de uma multidão de rostos maquiavélicos e entorpecidos maquiando o próprio senso crítico. eu tenho a certeza de que algo sente um grande desconforto por vê-los dispostos numa imensidão arenosa tão escassa de vida que recorreriamm à opção de morte ensaiada sem nem pestanejar. a partir de então, ninguém mais tem tanta certeza de que o segundo sol sob as suas próprias cabeças é real ou se só existe para quem faz parte da mesma redoma infinita de sentimentos nostalgicamente angustiantes.
aparentemente não adianta correr e não adianta procurar água porque sabem que não vão achar e tampouco existe vide humana além dessa, o resto são só pequenos aglomerados de abelhas inofensivas que produzem um mel tão doce que é capaz de corroer por dentro qualquer um dos seus órgãos. pra falar a verdade, eu realmente gostaria de ser picada por uma delas só para sentir a dor de estar viva e correndo de uma ameaça no mínimo real o suficiente.
e foi aí que aconteceu.
o oásis vermelho apareceu na multidão. desenfeitado de água e de coqueiros frutíferos, talvez possa ser um espécie mais pobretona de tudo que eu conheça. uma caixa de fitas cassete-cerebrais que mal eu sabia como havia vindo parar ali foi arremessada contra o chão de areia. alguém provavelmente veio de algum lugar longe o bastante para que eu sequer tenha certeza de qual língua se provavelmente fala e ele ficou fuçando na caixa imensa até achar algo que valesse realmente à pena e iniciou um processo bastardo de reprogramação humana.
e agora a única coisa que eu consigo ver é o seu rosto pingando de tantas lagrimas acumuladas.
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𝗇𝗈𝗏𝖾𝗆𝖻𝖾𝗋
Poesía‧⁺◞ ̑̑: 𝖆𝖑𝖑 𝖙𝖍𝖆𝖙 𝖜𝖊 𝖈𝖆𝖓 𝖉𝖔 𝖙𝖔 𝖍𝖊𝖑𝖕 𝖔𝖚𝖗𝖘𝖊𝖑𝖛𝖊𝖘 𝖎𝖘 𝖘𝖙𝖆𝖞 𝖆𝖑𝖎𝖛𝖊 #1 drabble - 27/11