𝟏𝟐𝐭𝐡 𝐚𝐜𝐭: 𝐡𝐮𝐧𝐠𝐫𝐲 𝐭𝐢𝐫𝐞𝐝 𝐬𝐚𝐝 𝐚𝐧𝐝 𝐢𝐧𝐯𝐢𝐬𝐢𝐛𝐥𝐞

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todos os dias que passam pelos meus olhos me fazem querer desistir de olhar para o sol de manhã, mesmo que eu tenha consciência da minha capacidade de olhar para o sol sem óculos e ainda assim não sentir dor nenhuma nos olhos. vai ver que isso é um sinal de que eu deveria arrancá-los daqui de uma vez. à cada segundo que passa, reações químicas dentro de mim acontecem como uma roleta russa dentro de mim e eu simplesmente não falo pra ninguém porque tenho medo e sempre morri de medo de qualquer resposta que eu não consegui sintetizar antes de receber. às vezes pessoas previsíveis me irritam mas a imprevisibilidade me dá sono e não existe um meio termo entre querer ou não querer algo. ou eu preciso disso ou eu não preciso, a regra é simples.

todos os dias quando eu volto da escola eu procrastino e minto pra mim mesma tentando pensar numa língua diferente da minha língua mãe dentro do meu cérebro, que as vezes eu penso ter desenvolvido um idioma próprio e codificado porque nem eu mesma entendo, nem a minha mãe e nem o meu psicólogo. porque eu não tenho um psicólogo. hoje eu cheguei numa espécie de momento de recaída propriamente nomeado. eu estava confortavelmente bem até umas duas horas atrás mas o meu cérebro iniciou um processo de inércia e eu quis arrancar o meu estômago fora para eu nunca mais sentir fome. eu estou de dieta. eu comprei várias mangas para comer de lanche.

eu sinto como se lentamente eu fosse consumida pela minha falta de sentimentos bons, amorosos e qualquer balela desse tipo. a minha mãe já me disse que eu me privo de sentir coisas relacionadas ao amor e sobre a platonicidade, mas relacionamentos platônicos são idiotas e eu sou o midas do inferno brasileiro que magoa tudo que eu encosto. em algum momento eu decerto vou parar de me alimentar direito e vou tentar miseravelmente fugir do meu próprio ser desgastado e polido. hoje eu olhei muito de perto para o meu rosto e percebi que eu tenho manchas solares no nariz e eu quis chorar. eu olhei para as minhas pernas flácidas no espelho da minha penteadeira e quis arrancá-las de mim. se todos os meus problemas orbitassem a minha aparência eu não teria problemas tão indecifráveis dentro da minha cabeça desorganizada e autodestrutiva. eu queria me afogar no meu próprio vazio, porque talvez em alguns meses eu esteja habitando o vácuo existencial.

no mês passado eu me envolvi com a melhor amiga da minha ex namorada e uns cinco dias depois eu briguei com a minha outra ex namorada que eu chamava de melhor amiga porque era mais confortável e menos invasivo. eu às troquei porque o amor platônico bateu na minha porta de novo e eu não preciso que você entenda. eu nunca gostei da amiga da minha ex namorada, na verdade eu acho que só quis provar da crueldade mais uma vezinha na vida tentando fazê-la se apaixonar por mim no menor intervalo de tempo possível.

e eu consegui. mas eu nunca senti nada por ela, quem dirá amor de verdade.

resultantemente, eu aprecio algumas coisas que não deveriam ser apreciadas e nem sequer tenho amigos. e eu não me incomodo com isso.

hoje eu tive o meu último teste de física do ano e eu tive uma crise silenciosa no meio da prova e o problema nem era a prova. às vezes eu vou até o limite de alguém pra ver se ela aguenta conviver com o meu pior estado por muito tempo sem que eu fique louca e me retraia como eu sempre fiz.

as vezes eu queria me sentir amada, mas só sentir mesmo. eu não consigo amar alguém verdadeiramente e eu já passei da fase de achar que eu tenho algum concerto e que alguém pode me convencer de que eu posso sim ter uma nova namorada.

eu gosto de fazer com que me odeiem mas eu odeio a sensação de me sentir odiada do mesmo jeito que você pode até gostar de ficar sozinho mas não gostar da solidão. porque quando você percebe que não tem ninguém, coisas medíocres passam pela sua cabeça.

eu já afastei cinco garotas de mim desde o início do ano e já pensei estar gostando de quatro garotos diferentes ao longo do meu ano letivo, mas nada dura mais do que duas semanas e eu mesma cultivo algo invisível: eu o plano, vejo crescer, rego e quando ele está pronto para ser colhido, eu o devoro com terra e tudo.

eu queria arrancar o meu cérebro fora antes do meu aniversário. eu odeio aniversários. eu sempre choro por motivo nenhum. mas é um dia especial. os meus amigos me amam. eu deveria me amar. eu tenho tudo que eu poderia ter e mais um pouco. eu não deveria ser tão cruel comigo mesma. eu deveria parar de chorar. eu não vou visitar paris nesse ano. nem bordeaux. nem lyon. nem toulouse.

𝗇𝗈𝗏𝖾𝗆𝖻𝖾𝗋Onde histórias criam vida. Descubra agora