𝟏𝟏𝐭𝐡 𝐚𝐜𝐭: 𝐥𝐚 𝐝𝐨𝐥𝐜𝐞 𝐯𝐢𝐭𝐚

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em questão de anos à fio, eu não me lembro da última vez em que eu senti a necessidade de arrancar os meus membros com as próprias mãos para que eu me sentisse viva ou no mínimo parte de algo ou sequer digna de pena.

eu tenho vontade de arrancar a pele do meu rosto e colocar cinco dedos fundos dentro do meu próprio crânio sem finalidade alguma, talvez nem haja nada lá dentro mesmo.

se eu colocase uma minhoquinha numa vara de pescar e tentasse fisgar algo dentro do meu coração, morreríamos todos de fome pela própria ambição, e é por isso que eu nem tento me convencer de que eu sou uma pessoa boa ou amorosa ou sentimental. acho que no fundo eu só quero ser lembrada mesmo.

eu quero receber milhões de parabéns no dia do meu aniversário porque eu mereço e porque eu sou gentil e porque eu sou incrível e a minha presença nunca se torna cansativa, já que todos os meus amigos me amam incondicionalmente e o meu namorado se apaixona por mim todos os dias e sempre diz pra minha mãe que ele ganhou na loteria por me ter e ela sorri com um orgulho jamais visto, porque ela sabe que eu sou a filha perfeita que toda mãe sempre quis ter e eu tenho o corpo perfeito assim como o dela, um sorriso de capa de revista e uma voz que soa como veludo aos ouvidos de quem se preze a me parabenizar porque eu sei que sou talentosa e que eu sou bonita demais para ser desperdiçada.

mas eu me joguei num poço num dia desses, corroí os meus pulmões, o meu fígado e comi o meu próprio coração numa salada caesar, usando o meu cérebro e pequenas mangas verdes como aperitivo. hahaha.

𝗇𝗈𝗏𝖾𝗆𝖻𝖾𝗋Onde histórias criam vida. Descubra agora