- O resultado da perícia do carro da Hellen Parker chegou. - Peter jogou uma pilha de papéis na mesa em direção a Sarah.
- Encontraram alguma coisa? - Lançando um olhar descrente para Peter, ela retirou a arma da cintura deixando-a sobre a mesa e começou a folhear a papelada.
- Nada relevante. Além do fato de não ter nenhuma reserva em hotéis e nenhuma casa alugada em seu nome, ninguém a viu por aqui.
- Isso é impossível. - Ela se afastou e caminhou em direção a um quadro pendurado na parede da sala, onde várias fotos dos crimes estavam presas no isopor. Ela as encarou por um bom tempo, como se processasse em câmera lenta as informações de cada uma.
Sarah e Peter são amigos de longas datas e normalmente parceiros no trabalho. Já tinham presenciado cenários tão devastadores, que seriam capazes de fazer até o melhor profissional da área perder o sono. Corpos decepados, crianças mortas, homens carbonizados, cadáveres em decomposição faziam parte do dia a dia da dupla. Os dois sabiam bem o quão horrendo o ser humano poderia ser.
Os crimes considerados "comuns" pela sociedade sempre eram deixados de lado por Sarah - e por qualquer detetive - quando um possível serial killer com requintes de crueldade, planejamento e frieza estava à solta, sedento pelo momento certo para fazer uma nova vítima.
Investigar mortes com tanta frequência, fez a mulher perceber que nada sabia sobre a vida.
A detetive passou o dedo indicador por cima de cada foto lentamente, retirando o alfinete que prendia uma delas ao quadro e caminhou de volta para a mesa.
- Essa aqui é a garota do bar né? - Ela jogou a foto em direção a Peter.
- Isso, Rose Johnson.
- Hoje no almoço, uma senhora que trabalha no hotel que estou hospedada, disse que conhecia uma das garotas e só pode ser ela, já que era a única vítima que morava na cidade. Vou conversar com ela...
Sarah voltou a se sentar e a folhear os papéis.
- Nenhum crime solucionado Peter. - Ela cruzou os dedos e apoiou o queixo sobre eles, encarando o amigo. - Das quatro mortes, nenhuma evidência... Nada.
Como se pudesse ler os pensamentos da detetive, Peter pegou uma caneta marca texto, que estava ao lado de sua agenda e apontou para Sarah, que rapidamente começou a destacar algumas linhas em um dos papéis.
- Rose Johnson foi a primeira. - Ela passou a ponta amarela fluorescente por cima do nome da jovem, grifando-o. - Emma Baker a segunda, Susan Morris a terceira e, por último, Hellen Parker. - Com todos os nomes grifados, Sarah ficou por alguns segundos analisado o pedaço de papel.
- Você acha mesmo que todas foram mortas por uma só pessoa Sarah?
- Eu não acho... Tenho certeza. - A mulher fitou o amigo franzindo o cenho. - Quatro mulheres, ambas desaparecidas em um prazo curto de dias, e todos os crimes seguindo um padrão. Quem fez, sabia como agir.
Juntando os papéis novamente, batendo-os em posição vertical contra a mesa, a detetive se levantou, guardando a arma novamente no cós da calça. A mulher apoiou às duas mãos na mesa e inclinou o corpo para encarar o amigo com um sorriso.
- Mas nós somos Sarah Torres e Peter Adams, investigadores da Delegacia de Homicídios do Texas. - A mulher pegou a arma do parceiro que também estava sobre a mesa, e a colocou em sua frente. - E a gente só saí daqui com esse assassino preso ou de preferência morto.
Peter se levantou pegando a pistola e fechando o notebook.
- Que comecem os jogos...
O sol já havia se despedido por completo, dando lugar a lua que refletia timidamente no céu escuro. O vento soprava sereno, chacoalhando os galhos das grandes árvores que cercavam o hotel. Henry, com a ajuda dos próprios pés, empurrava o balanço de madeira, estilo namoradeira*, montado num canto mais isolado da varanda. O ranger das correntes a cada vai e vem, quebrava o silêncio que pairava ali.
O homem levava a garrafa de cerveja à boca, quando os faróis do mustang vermelho passaram por ele e, iluminaram todo o estacionamento. Finalmente o carro parou e ele viu Sarah descer, batendo a porta do veículo.
- Boa noite detetive. - A voz grave e rouca do homem ecoou pelo local, fazendo a mulher saltar pelo susto, cruzando as mãos no peito.
- Eu poderia prender você por quase me matar do coração.
- Sempre tão delicada... - O homem se curvou, destampando uma pequena caixa de isopor que estava no chão, e enfiando a mão no gelo, pegando mais uma garrafa. - A senhorita ainda está em serviço ou já pode aceitar uma cerveja?
- Uma policial sempre está em serviço senhor sarcasmo, porém, vou aceitar essa gentileza. - Ela caminhou em direção ao balanço e, se sentou ao lado de Henry que lhe entregou a garrafa.
- Cortesia da casa. - Ele ergueu a mão que segurava o recipiente e piscou para a mulher.
- Mas e você... Está de folga hoje à noite? - Sarah deu um gole diretamente no gargalo e encarou o homem.
- Alguns quartos foram desocupados e acabei ficando só com três hóspedes. Dois já subiram para os quartos... - Henry levou a garrafa mais uma vez à boca - E uma tá aqui bebendo comigo.
- Bom ponto... Mas, hoje foi um dia cheio e eu também preciso descansar.
- Muito trabalho com a investigação?
- Muito trabalho a se fazer, isso sim. Tenho que acelerar as coisas, mas, ao mesmo tempo, é como se eu não saísse do lugar...
- Como assim? - Henry jogou a garrafa vazia no cascalho e abriu o isopor, pegando mais uma.
- Ainda não sei... preciso voltar pra primeira vítima. Investigar a primeira morte e ver o que deixei passar. - O homem ofereceu mais uma cerveja para a detetive, que negou com a cabeça.
- E qual foi a primeira?
- Uma jovem chamada Rose Johnson.
- Humm... - Henry deu mais um gole na bebida e limpou os lábios com o dorso da mão. - Essa conheço, eu estava lá.
Balanço Estilo Namoradeira*: Balanço com lugares para duas pessoas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Motel Ander's
HorrorSarah Torres será a detetive responsável por tentar solucionar a sequência de mortes que vêm acontecendo em AnderWood. O que ela não imaginava é que seu caminho se cruzaria com o de Henry, um morador conhecido por todos na pequena cidade devido ao h...