Por mais que Henry tentasse se concentrar no que o homem à sua frente dizia, os sons chegavam aos seus ouvidos como zumbidos. Ele não sabia dizer se era pelas incontáveis doses de whisky que ingeriu ou pela raiva que o consumia por dentro.
Raiva de Julie, de Sarah e de toda essa merda que estava envolvido.
Por falar em Sarah, foi exatamente o nome dela que o trouxe de volta para a realidade. O rapaz, ainda parado no balcão, batia com a mão na superfície de madeira tentando chamar a atenção de Henry.
— Sarah... Detetive Sarah Torres, pode chamá-la? Eu preciso falar com ela...
— Quem é você? — O tom de voz saiu ríspido, e Henry não se deu ao trabalho de disfarçar o incômodo.
— Peter? — Sarah surgiu interrompendo o diálogo. Ela caminhou em direção ao amigo com passos lentos, como se flutuasse pelo chão. Os olhares dos dois homens grudaram em seu rosto deixando-a desconcertada, e o único som possível de se ouvir era do ventilador velho girando no teto.
— Então? — Foi a única pergunta que o amigo conseguiu fazer.
— Vamos conversar lá fora.
Ela passou por Henry que estava apoiado no balcão ainda sem camisa. Os dois se encararam por um breve momento, até que finalmente ela saiu pela porta da recepção, sendo seguida por Peter.
— Quer me matar de preocupação? Você diz que vai interrogar um tal de "senhor sarcasmo" e some?! Não atende a porra do celular... — Peter gritava e gesticulava enquanto andava de um lado para o outro, chutando involuntariamente o cascalho do estacionamento.
— Quer falar baixo... — Sarah segurou o braço do amigo, fazendo-o parar. — Eu vou interrogar o Henry, mas não consegui fazer isso hoje.
— Henry? É o bonitão lá da recepção?
— Ele mesmo... eu... eu não consegui falar com ele ainda.
Percebendo o olhar acusador de Peter, Sarah deu de ombros. Não olha pra ele. Não olha pra ele.
— Ele tá bêbado ok?! Não dá pra sair interrogando alguém assim...
— Certo... — O amigo continuava olhando para a detetive desconfiado, mas resolveu não prolongar o assunto. — Faça isso amanhã, só não some mais assim. — Ele depositou a mão no ombro da colega com carinho. — Agora eu preciso ir...
Acionando um pequeno controle preto que tinha nas mãos, Peter entrou no carro estacionado, enquanto Sarah caminhava de volta para a recepção abraçada ao próprio corpo. Antes que pudesse entrar no hotel, ela escutou o carro do amigo parando próximo a varanda.
— Sarah, só mais uma coisinha... — Peter se apoiou na janela do automóvel, fazendo a amiga se virar e encará-lo. — Normalmente se tira a roupa antes de tomar banho, mas gostei da camisa molhada.
Peter piscou para a detetive, que sentiu as bochechas esquentaram.
O resto da noite passou como um borrão. Depois de sair do quarto, Sarah não tinha mais visto Henry. Ela fez o melhor que pode para se distrair e afastar os pensamentos que a dominavam, mas foi inútil. Naquela noite o mundo parecia conspirar em puxá-la para baixo.
Um loop infinito sobre os assassinatos passava na televisão, escancarando a opinião sarcástica dos comentaristas sobre a ineficiência da polícia. Se ficar no quarto era ruim, sair, então, estava fora de questão. Não queria correr o risco de cruzar com Henry nos corredores do hotel; não sabia muito bem o que dizer; ou se conseguiria resistir a uma possível nova investida.
Naquela noite, ela fechou as cortinas do quarto, ligou o ventilador e desligou o celular, sem ao menos olhar as inúmeras chamadas que tinha perdido de Peter. Sarah só queria deitar, e foi isso que fez, ou pelo menos tentou fazer. Quando estava preparada para afundar nos travesseiros, uma batida na porta roubou a atenção da detetive.
Quem será que está batendo? 👀
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Motel Ander's
HorrorSarah Torres será a detetive responsável por tentar solucionar a sequência de mortes que vêm acontecendo em AnderWood. O que ela não imaginava é que seu caminho se cruzaria com o de Henry, um morador conhecido por todos na pequena cidade devido ao h...