Os espasmos no corpo de Henry iam cessando a cada nova batida. O som, que antes era quase inaudível, ia se tornando cada vez mais evidente à medida que o homem despertava. Só então, abrindo completamente os olhos e fitando o teto branco, percebeu que ainda estava em seu quarto e que alguém tentava insistentemente "derrubar" a porta, e ele já sabia quem.
- Entra, Bel! - Sua voz saiu grave e rouca enquanto ele se sentava na beirada da cama, passando a mão pelos cabelos.
- Menino do céu! Eu pensei que não ia acordar mais. O café já tá servido e daqui a pouco os hóspedes começam a descer. Vamos, se arrume. - Isabel andava pelo quarto, juntando as roupas espalhadas pelo chão enquanto falava.
Henry, mesmo a contragosto, se levantou vestido apenas com uma cueca boxer preta e caminhou descalço em direção ao banheiro, fazendo a mulher virar o rosto.
- Que isso, Bel, não tem nada aqui que você já não tenha visto... Algumas coisas só cresceram um pouco.
- Isso é jeito de falar menino? - A senhora jogou uma peça de roupa qualquer na direção do homem, que sorria divertido.
- Eu sonhei com ele hoje... - Escorado no batente e olhando para os próprios pés, o riso desapareceu na mesma rapidez com que surgiu. - Não sei dizer se era um sonho, ou um pesadelo.
- Se é com alguém que amamos é sonho, meu menino. - Isabel, ainda parada no meio do quarto e usando a barriga como apoio para um pequeno cesto de roupas, olhava com ternura para Henry.
- Pode até ser, mas você sabe que eu não amo ninguém, Bel...
O homem entrou no banheiro, batendo a porta atrás de si.
Descobrir o responsável por todos aqueles crimes estava sendo mais difícil do que Sarah imaginava. Os moradores, ansiosos por novas informações, começavam a pressionar as autoridades a cada novo dia que se iniciava em AnderWood.
Caminhando pelo corredor, sem desgrudar os olhos do celular, ela mandou uma mensagem rápida para Peter combinando de se encontrarem logo mais na delegacia. Com as revelações de Henry sobre a garçonete, a detetive pretendia oficializar o depoimento e intimar mais uma vez o grupo de garotos que estavam no bar.
Assim que entrou no salão onde são servidas as refeições do hotel, a jovem encontrou Isabel abraçada a um cesto de roupas na lateral do corpo, indo em direção à lavanderia que ficava no fundo da propriedade.
- Bom dia, menina. - Bel sorriu para a detetive.
- Bom dia. - Sarah retribuiu o gesto da anciã.
- Fica à vontade, filha, o café já tá servido. Eu só vou deixar essas roupas ali pra lavar e já volto.
Bel sumiu pelas portas que davam acesso ao quintal do lugar, enquanto Sarah ocupava um lugar à mesa.
A jovem se servia com algumas frutas quando o barulho da porta da recepção sendo aberta e o som da sineta do balcão sendo tocada logo em seguida chamaram sua atenção. Ela esperou alguns segundos, até que novamente o sino estridente voltou a ecoar.
Sarah empurrou a cadeira para trás, depositando o guardanapo que estava em seu colo sobre a mesa, e caminhou em direção à entrada.
- Bom dia. - A detetive cumprimentou educadamente o casal que estava parado em frente à bancada de madeira.
- Bom dia, moça... Por gentileza, gostaríamos de um quarto.
- Ah, me desculpe, eu não... - Sarah se se debruçou sobre o balcão, tentando olhar na direção do quarto de Henry, que ainda não tinha aparecido para o café.
- Se você não se importar, estamos com um pouco de pressa. Viemos a passeio e queremos aproveitar a manhã no lago da cidade.
- Sim, claro, vou ver o que posso fazer... Vocês têm que preencher uma ficha, que fica por aqui...
A detetive se virou e começou a abrir algumas gavetas do arquivo. O móvel era composto por oito grandes repartições, praticamente toda a "vida" do hotel estava ali, entre fichas de clientes e documentos. Ela ainda vasculhava, até que a penúltima gaveta chamou a sua atenção, já que era a única que possuía tranca. Ela segurou no puxador e balançou algumas vezes, mas, como esperado, estava trancada. Correndo os olhos rapidamente pelo local, a mulher notou que um molho de chaves reluzia discretamente, pendurado bem ao lado do arquivo.
Ela dedilhou o objeto, analisando-o por alguns segundos. Praticamente todas eram iguais. Seguindo um padrão comum, ela escolheu a menor que encontrou e enfiou no trinco da gaveta.
- Perdeu alguma coisa no meu arquivo, detetive? - O descontentamento na voz grave de Henry fez Sarah dar um pulo.
- Caramba, você tem prazer em me assustar... - A loira escorou no balcão.
- Assustar não está na minha lista de prazeres ainda, detetive.
- Eu só... Estava procurando a ficha de cadastro para os novos clientes. - Ela apontou para o casal, que continuavam parados impacientes atrás dele.
- Ah sim, claro. - Henry desviou a atenção para eles, sorrindo secamente. - Bom dia, sejam bem-vindos. - E voltou a encarar à mulher.
Ele se aproximou lentamente da detetive, praticamente encurralando-a no balcão com seu próprio corpo. Sarah era capaz de sentir a respiração pesada do homem há centímetros do seu rosto, e o cheiro do banho recém tomado invadindo suas narinas. Ela engoliu seco à medida que Henry se aproximava mais, parecendo não se importar com os clientes ali presentes.
- A chave dessa gaveta fica aqui... - Ele sussurrou com a boca colada no ouvido da mulher, enquanto esticava o braço e pegava o pequeno pedaço de metal dourado que estava debaixo do Livro Caixa.
Ela virou o rosto na direção de Henry, fazendo com que seus lábios encostem ligeiramente nos dele. O desejo entre ambos era palpável, e Sarah, por sua vez, tentava controlar a respiração, sem desviar seus olhos do olhar predador do homem.
- Da próxima vez, acorde mais cedo e atenda você os seus clientes, assim não precisarei saber aonde está a chave.
Ela empurrou o homem para trás sem cortar o contato visual, até que finalmente se esquivou e saiu caminhando de volta para o salão.
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Motel Ander's
HorrorSarah Torres será a detetive responsável por tentar solucionar a sequência de mortes que vêm acontecendo em AnderWood. O que ela não imaginava é que seu caminho se cruzaria com o de Henry, um morador conhecido por todos na pequena cidade devido ao h...