Contrato inviolável

Família

  Third abriu os olhos e viu o teto que já começava a se tornar perturbadoramente familiar e suspirou.

Vinte dias, já fazia vinte dias que estava ali, naquela vila que mais parecia uma microcidade e sempre com alguma coisa no dia para atrasar sua partida. Não podia ficar ali, mas seus argumentos nunca venciam os da Luhana. A Kim terrível e que conseguia vender gelo para pinguim.

Contudo ela tinha razão em tudo o que lhe dizia.

"Porque a pressa? Você não está trabalhando, estudando, nada, não tem compromisso nenhum para qual voltar!"

"Pense como férias, você voltou para cá para ser padrinho do Yutie, agora aproveita as férias!"

"Você não quer ir para a mansão da sua família, já me disse isso, então qual o problema de ficar aqui em casa? Temos espaço, não precisa ficar em hotel ou coisa assim?"

E a melhor de todas as desculpas esfarrapadas que ele acatava como um idiota!

"Já viu como temos mil coisas para fazer aqui né, um par de mãos a mais sempre é bem-vindo!"

E o fato foi que a casa onde Yuto ia morar era quase de frente a casa principal dos Kim, ou seja, ele estava ficando em um quarto de frente para onde Yuto moraria para sempre e aquilo lhe dava... Uma sensação masoquista de ficar mais um pouco e ver o que nunca teria.

Ele era ridículo, mas não conseguia parar a si mesmo nem seus sentimentos. Que bom que se recordou da noite de bebedeira, ao menos sabia que tinha mal trocado alguns beijos com elas e caído na cama bêbado demais. Não tinha transado, não tinha...

O que tinha começado como pena de um garotinho solitário tinha se transformado em necessidade a tal ponto que aceitou tudo que Yuto lhe propôs só para não ficar sem ele e no fim, ficou sem ele.

O tempo que passaram juntos também não foi saudável e ele sabia, ele sempre soube, mas seus sentimentos eram loucos e ele aceitaria qualquer coisa desde que pudesse sentir o cheiro daquela pessoa cínica e voluntariosa e pudesse tocá-lo nem que fosse um pouquinho. Mas no casamento ele viu o lado que Yuto tinha antes de ficar sem aqueles três e descobriu que jamais poderia substituir e que tinha que aceitar que ficaria sem nada.

Ele tentou aceitar por dois longos e arrastados anos e onde estava ao invés de seguir em frente?

Ali, aprisionado por sua própria miséria e por mais desejos de migalhas que nunca teria.

Era tão lastimável... Tão miserável sua vida agora.

Mas quando ela não foi?

Ele cresceu idiotamente acreditando que quando Yuto estivesse grande e entendesse seus motivos, ia ficar com ele feliz e eles teriam um casamento feliz. Ele esteve tão certo disso... Ele...

— Não mesmo, papai!

— Luhana, isso é o melhor e...

— Negativo papai... O melhor é a família. Sempre será a família!

— AU AU AUUUUU!

Third se sentou na cama assustado. Aquilo foi um latido ou um uivo? Ele não sabia que tinham cachorros ali.

— Gente do céu! Vocês não vão acreditar! – Aquela era a voz da irmã do meio da Luhana, Mia. Thrid achava ela muito divertida... – Eu achei esses dois bebês abandonados na estrada que vai para Incheon, dá para acreditar? O PCY disse que um deles está desnutrido, cadê o tio Chansung?

— Chansung é médico humano, minha filha...

— Ué, e isso importa papai? Ele é um ser vivo, tadinho...