Observei ele sair e não fiz nada, eu nem sabia explicar o que sentia por ele, admitir em voz alta era muito doloroso. Eu já tinha ficados com garotas, mas nunca tinha sentido o que sentia por ele, era diferente quando Deku estava por perto, mas eu não conseguia falar nem em pensamento.
- Eu sou... Eu sou... Eu gosto de... - Então uma coisa que eu não fazia a anos aconteceu, eu chorei. Chorei feito um bebê.
Escutei o barulho da porta da frente sendo aberta, será que ele tinha voltado? Minha mãe entrou na cozinha e escondi o rosto rapidamente, chorar já era vergonhoso, chora na frente de outra pessoa era fraqueza, eu não era fraco. Passei por ela de cabeça baixa e fui para o meu quarto, bati a porta com força, as lágrimas teimando em sair, me rendi ao choro. Minhas pernas fraquejaram e fui de encontro ao chão, estava sentindo um aperto no peito, a tristeza foi logo sendo substituída pela raiva, me agarrei como pude a esse sentimento pra fugir da dor.
Levantei, respirei fundo, caminhei até o espelho na parede e me encarei, olhei cada canto que ele havia me tocado, mas mesmo que me esforçasse para imaginar a parte boa de mim, eu sentia nojo cada vez que olhava meu reflexo.
- Fraco. - Falei pra pessoa que me encarava de volta. - Deixou ele ir. - O reflexo sorriu pra mim, delírio ou não, eu conhecia meu próprio olhar, cheio de raiva. Soquei o espelho que caiu em estilhaços aos meus pés, minha mão sangrava, mas a dor física superava a sentimental.
Não saí do quarto pelo resto do dia, fiquei deitado, o sangue já havia coagulado, mas não antes de ensopar meus lençóis. Não limpei o ferimento, deixei latejar, olhei o celular e vi que já eram 02:00, todo mundo já devia estar na cama a essa hora, saí do quarto e fui ao banheiro tomar um banho e limpar minha mão. Tomei banho e fiz um curativo, encarei as faixas brancas nas minhas juntas, como pude me descontrolar assim de novo? Saí do banheiro e voltei pro quarto, joguei os lençóis sujos num canto qualquer e me atirei na cama, dormi até tarde no outro dia.
Acordei perto de 14:00, chequei o celular pra ver se tinha alguma mensagem do Deku. Nada. Embora Kirishima tivesse me chamado pra ir com ele ao shopping comprar um saco de pancada, avisei que iria, era melhor que ficar em casa remoendo sentimentos ruins. Me apoiei sobre minha mão machucada e gemi de dor, um filete de sangue apareceu nas ataduras, fui trocar o curativo, troquei de roupa e saí de casa. Encontrei Kirishima na porta do shopping.
- Nossa Bakugo, que cara de bosta.
- Não enche, só vim aqui por que meus pais tão em casa e não quero ficar lá. - Ele murchou um pouco, mas as palavras saíram antes que eu pudesse pensar.
Entramos no shopping, não tinha muita gente, estávamos no caminho até a loja quando meu estômago roncou alto, com tanta coisa em mente, esqueci completamente de comer ontem.
- Ainda não almoçou? - Lancei um olhar furioso pra ele, acho que entendeu o recado, pois mudou o trajeto e fomos para praça de alimentação.
Comprei um sanduíche e uma garrafa de água, sentamos para comer, ele estava comendo alguma coisa nojenta. Meu corpo agradeceu por eu finalmente estar colocando alguma coisa no estômago, não tinha percebido que estava com tanta fome até começar a comer. Terminei o sanduíche e fui pra loja que o Kirishima queria ir, ele veio andando rápido atrás de mim, não iria esperar ele termina de comer, queria cumprir logo o objetivo de ter ido lá. Ele foi falar com um atendente e eu comecei a olhar as prateleiras, fui até a parte de artigos de fogo, olhei umas granadas e umas bombas pequenas.
- Precisa de ajuda? - Uma atendente baixinha estava ao meu lado, olhei de soslaio pra ela e não respondi. - O senhor precisa comprar antes de pegar. - Virei completamente pra ela com um sorriso forçado, coloquei a bomba de volta no lugar.
- Não preciso disso. - Fiz uma explosão média com a mão e saí da loja. Lembrei que tinha ido com outra pessoa. - Vou nessa Kirishima. - Avisei da porta da loja e saí.
Hoje eu não tô legal. Pensei, estava perdendo o controle de novo. Mas a cena que eu presenciei assim que saí da loja foi um tapa na cara, Deku e aquela menina que ele anda, estavam muito perto um do outro, e ela o beijou. A raiva reagiu ao choque, fiquei cego de ódio, fui até eles pisando firma e tentando conter as explosões que clamavam pra sair. Ele me viu e se afastou rápido dela, estava com aquele olhar de medo, foi o suficiente pra me desarmar e fazer minha guarda ruir. Fiquei olhando de um pro outro, então eu também tinha sido um experimento.
- Experimento. - Saiu antes que eu pudesse conter, já tinha ido mesmo, foda-se. - Foda-se, parabéns ao casal.
Dei as costas aos dois e fui pra casa, não estava mais com raiva, só sentia tristeza. Fiz todo o trajeto a pé, não peguei ônibus, preferi fazer um caminho longo, assim encarar a realidade demoraria mais um pouco. Deku e aquela menina não saiam da minha cabeça, fui até uma zona deserta da cidade e liberei tudo o que estava guardado. Toda raiva, todo rancor, toda a tristeza. A última explosão acabou com minhas energias, sentei no chão com o rosto entre os joelhos e deixei as lágrimas rolarem. As explosões queimaram minhas ataduras, deixando os cortes profundos a mostra, olhei de novo pras consequências do meu descontrole. As consequências... Mas controlar de mais também não foi bom, controlei muito na hora que Deku me questionou e acabou mal. Eu estava perdido.
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Merak: Amor Profundo
Fiksi PenggemarDepois do ataque dos vilões ao centro de treinamento USJ, Deku e Kacchan são obrigados a trabalharem juntos fazendo rondas pela escola, e dessa aproximação, os dois vão descobrir um sentimento novo, nunca explorado por nenhum dos dois.