O segredo de Avery

Cap 3. Cinza

POV YUGYEOM

Ela estava com tubos finos ligados ao braço por uma agulha pequena, sua pele estava pálida, sem o brilho levemente bronzeado que tinha pelos treinos de manhã que tanto gostava de fazer. Sempre fomos tão iguais, e ao mesmo tempo tão diferentes.

Às vezes eu penso que ela fazia algumas coisas pra se distanciar de mim de propósito, pelo menos no quesito aparência. Ela se bronzeava fácil, ao contrário de mim que sempre fiquei vermelho igual uma pimenta. Ela sempre pintou o cabelo, às vezes de umas cores extravagantes até demais, o que sempre atiçou a fúria de nosso pai e os olhares de reprovação da mamãe. Ela sempre pareceu se esforçar pra se sentir única, se sentir melhor. Se sentir diferente de mim.

Não a culpo. Eu sei que ela não faz por mal, ela só quer apagar da memória todas as vezes em que pegavam no pé dela no primário, dizendo que ela vivia como minha sombra. Eu a defendia com unhas e dentes, até ela aprender de vez a se defender sozinha.

Se formos falar de culpa, às vezes penso que a culpa é minha. Se eu não existisse talvez a vida dela fosse mais fácil.

Me pergunto se o que aconteceu ontem à noite foi realmente o que os médicos me disseram, uma reação alérgica que poderia ter sido fatal se eu não tivesse chegado à tempo. Só de pensar que ela se isolou num canto ao invés de pedir ajuda me dá nos nervos. Cabeça dura igual o papai.

E, até por o que eu sei, reações alérgicas não deixam as pessoas com as veias saltadas e escuras. Me parece uma desculpa péssima dada por um médico incompetente.

Eu giro o amuleto que ganhamos ao nascer, a figura dois lobos que formavam o símbolo yin e yang, com um sol preto estampado no lobo branco e a lua branca estampada no lobo preto. Essas duas cores formam uma paleta sem graça, que pintou nossas vidas de cinza muitas vezes.

Escuto batidas na porta do quarto, que em seguida é aberta e revela uma mulher alta, de cabelos pretos longos presos na metade entre dois palitos. Seus olhos negros se entristecem mais quando encontram minha irmã deitada na cama ao lado.

- Mãe, você já devia ter ido pra casa, já disse! Eu fico aqui com ela hoje à noite.

- Você está aqui desde ontem, querido - ela se aproxima, sem tirar os olhos de Hyemi, se sentando na beirada da cama. Tsoy Sorá era uma figura quase esquelética sob as vestes longas em um tecido fino, a falta de vaidade dela nesse momento denunciava sua maior fraqueza: sua própria família.

- E você também.

Minha mãe tinha um temperamento difícil de lidar quando se tratava de nós dois, ela era amorosa ao extremo, mas era rígida ao extremo também. Me lembro de como o gênio dela bateu de frente com Hyemi quando elas começaram a treinar dança com leques juntas e a mais nova quebrava todos eles enquanto tentava aprender.

- Jungkook está lá fora - ela me diz, seu olhar se amenizando um pouco - Disse que quer falar com você. Está morrendo de preocupação, coitado - um sorriso pequeno é capaz de se ver em seu rosto - Se pelo menos sua irmã retribuísse os sentimentos dele...

Balanço a cabeça negativamente, soltando uma risada seca.

- E o papai? Está ocupado demais pra ver a filha, por acaso?

Minha mãe engole em seco, suspirando pesadamente antes de me olhar.

- Seu pai está tentando entender o que houve - percebo que ela hesita - Ele acha que alguém tentou envenenar sua irmã, está comandando buscas por pistas e suspeitos desde ontem à noite, mas não encontrou nada ainda. Uma hora ele se cansa.

- Pelo menos nisso eu concordo com ele - me levanto e deposito um beijo em sua testa, indo em direção à porta em seguida - Não vou demorar.

- Vá pra casa Yugyeom - ela diz antes que eu possa fechar a porta quando saio, e eu paro no lugar - Leve Jungkook com você, vão conversando no caminho. Eu sei que se preocupa com ela, mas eu estou aqui agora. Você pode ir, ficar aqui não vai adiantar nada. Sabe, vocês nasceram juntos, mas não grudados - ela da um pequeno sorriso.