As cordas da pequena Vênus.

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Emili tinha no teto de seu quarto seis linhas perpendiculares. Bem, acontece queessas linhas eram rachaduras. As linhas não a incomodavam, nem os sons que elasfaziam à noite. Os barulhos soavam como vibração de cordas. A garota acostumou-se aossons, tanto que sentia falta quando dormia fora. Em seu teto havia, além das rachaduras,toda uma galáxia desenhada por sua tia, artista plástica.Emili gostava daquilo. Tanto que, com o primeiro emprego veio o primeiroviolão, depois a primeira guitarra, o primeiro baixo, primeiro violino.... Aos vinte e trêsanos de idade, Emili tocava aqueles instrumentos muito bem, mas algo a incomodava.Não importava o quão bem tocasse, o som nunca era como o que ouvia em seu quarto. Otempo passava e cada vez mais ela se chateava por não conseguir reproduzir os sonsque aquelas rachaduras faziam. Estava quase desistindo.Todas as noites, antes de dormir, apreciava com atenção o som, mas nunca deraa mesma atenção a pintura feita por sua tia. Agora que prestara, notou que em várioslocais haviam desenhos peculiares. E lá, bem em Vênus, havia o desenho de uma harpa.Emili saltou da cama. Então era esse o segredo. Ali mesmo, sacou seu celular do bolso epesquisou pelo som daquele instrumento e ouviu atentamente. Como seus ouvidos a enganaram por tanto tempo? Nunca havia sido o som de uma guitarra ou de um violão. Tratava-se do som de uma harpa, que em nada tinha a ver com as rachaduras, mas sim com a galáxia.Vênus tocara para ela todas as noites desde que nascera.

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