Carneval

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Veneza queimava durante o carnaval. Era assim todos os anos. As ruas, pontes e vielas eram tomadas por arlequins e seres mascarados. Mas a melhor parte estava nos becos escuros, onde a madrugada abrigava as criaturas diabólicas que eram atraídas pela energia mistica daquelas festividades. Foi numa dessas vielas que a conheci. Após muitas garrafas de vinho, tropecei num barril e caí sobre uma poça viscosa e escura que fedia a podre. Há alguns passos, debruçada sobre um senhor de meia idade, ela mordia e rasgava a carne do pobre infeliz com a avidez de um animal selvagem. O escuro, a musica e o álcool me impossibilitaram de compreender a cena que presenciei naquela madrugada. Mas na manhã seguinte, quando tudo fez sentido, fiquei em choque. E mais uma vez a noite veio e a trouxe consigo até meu quarto. Tive a certeza de que morreria como o velho do beco, mas as coisas saíram do controle. Nos devoramos até o amanhecer e ao acordar percebi que ela havia partido com a lua. Veneza nunca fora tão intensa. O carnaval nunca fora tão... carnal.

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