Noite Branca

2 0 0
                                    

As noites de Chicago eram como o pecado mais puro. Da sacada do quarto de hotel eu ouvia o jazz que vinha do gramofone lá dentro. A fumaça do cigarro nublava a cena estampada na rua. Parecia tão distante, mas estava bem ali. A moça hospedada no quarto abaixo do meu, havia se jogado da sacada abaixo da minha, e toda aquela comoção na rua era por ela. Ou pelo que restou dela. Queria ser atriz, ouvi das fofocas no corredor, mas trabalhava como cantora num clube. Me perguntei quantas vezes a garota morta na calçada havia cantado a música que estava tocando agora. Segurei o cigarro entre os dedos e me debrucei sobre a beirada. Ouvi murmúrios vindo de cima e percebi que naquela sacada também havia alguém debruçado, segurando um copo de whisky sem gelo. Talvez seus pensamentos fossem como os meus. Ou como os da garota. Se fosse, sinto que ansiasse por algo inexistente. Paz. Isso era impossível. Ninguém descansa ali. As luzes nunca se apagam nas noites de Chicago. 

Guirá-unaOnde histórias criam vida. Descubra agora