Ela observava o jardim oculta pela grosa e pesada cortina que cobria a janela. A neve entre os arbustos havia se tornado uma pintura abstrata de cor escarlate. Dois corpos e meio, cuidadosamente depositados um sobre o outro, aguardavam as chamas consumi-los por completo. Ela olhou para suas mãos e tentou limpar o resto de sangue seco que permanecia nos cantos de suas unhas. A barra de seu vestido estava suja de neve e lama. A renda branca que cobria o bordado de violetas escuras da saia rodada, estava completamente vermelha. Olhou na direção oposta a janela e posicionou-se diante do espelho que ali jazia. Fitou o abismo de seus olhos negros e sorriu sabendo que nenhum mortal poderia tocá-la novamente, pois em seu reino de sombras, até a mais delicada flor assumiria seu lado obscuro.