TRAIDOR DE SANGUE

De mau humor e de esquema

Hermione terminou o almoço e seguiu Draco até o galpão. Embora ela tentasse dissuadi-lo, Ron a acompanhou.

"Eu simplesmente não entendi", Ron reclamou, "O que resta dizer?"
"

Ron, se você estivesse prestes a enfrentar horas de agonia, não gostaria de saber que alguém se importa?" Hermione exigiu irritada.
"Ele quer mais de você do que algumas palavras bonitas", Ron murmurou.
"Por que você não espera aqui? Não vou demorar."
Ron não se intimidou, "Eu preciso ter certeza de que ele não está te manipulando com nenhuma mágica de Veela ou o que seja."
"E você está assumindo que eu sou burra demais para perceber se ele estava tentando fazer isso?"
Ron não percebeu que estava na areia movediça metafórica, "Não é estúpido, apenas confia. Você gosta de ver o melhor de todos."
"Talvez você esteja certo", Hermione disse com uma voz falsamente doce, "eu estou tentando apreciar sua preocupação em vez de ficar chateada por você achar que eu sou tão ingênua."
Ron começou a responder quando Malfoy o interrompeu.
"Se vocês dois terminarem de bicar um ao outro, eu gostaria de ficar em paz."
Hermione olhou para Ron antes de espiar pela porta. Ele estava deitado no colchão e sua varinha estava no chão ao lado dele.
"Desculpe Draco", ela disse rapidamente, "eu só queria perguntar se você precisava de alguma coisa."
"Normalmente, eu gostaria de ouvir as brigas e esperar que você desse uma surra no Weasley", Draco respondeu com um sorriso, "Infelizmente minha mente está em outras coisas."
"Eu não posso deixar de me perguntar se existem poções ou tratamentos trouxas para a dor", Hermione meditou.
"É um pouco tarde para isso", Draco suspirou, "E eu tenho certeza que Potter e Weasley gostariam de me ouvir gritar demais. Eu joguei alguns feitiços de silenciamento apenas para negar a eles o prazer".
"Bem, eu vou deixar você com isso."
"Na verdade, você pode me ajudar com uma coisa", Draco percebeu.
"Quer que eu a amordace?" Ron perguntou esperançoso. Hermione enfiou o cotovelo no estômago dele.
"Eu sabia que você era Weasley", Draco respondeu.
"Ron, vá. Eu terminarei em um minuto."
Ron se afastou enquanto murmurava algo sobre 'furões irritantes e chatos'.
"Com o que você precisa de ajuda?" Hermione perguntou assim que Ron ficou fora do alcance da voz.
"Você pode prender as algemas?" Draco perguntou, "Eu não quero ser capaz de me mover muito, para que eles precisem ser encurtados. Eu odiaria acabar com 'Loo Rat' nas minhas costas novamente".
Hermione foi para o lado oposto da cama e pegou a corrente. Foi surpreendentemente pesado. Draco estendeu o braço para que ela pudesse prendê-lo no pulso.
"Isso é muito bárbaro", comentou ela.
"Não quero arriscar-me a ceder a impulsos violentos e possessivos. Se tenho senso suficiente para usar minha varinha para me libertar, posso confiar em mim para não fazer algo estúpido", explicou Draco.
Hermione usou a varinha para encurtar a corrente e certificou-se de que a algema tivesse bordas lisas para que não afundassem muito na pele dele. Ela conjurou um par de lenços para fornecer um amortecedor entre o metal e os pulsos dele.
"Falei com Bill sobre isso", admitiu Hermione, "ele diz que você ainda terá a mesma personalidade e tudo mais. Duvido que essas correntes sejam necessárias."
Draco admirou seu perfil enquanto ela trabalhava. Enquanto ela gentilmente segurava a algema em torno de seu pulso, ele sabia que não a arriscaria.
"Não há evidências suficientes para provar que o Veela masculino reaja da mesma forma que a fêmea", ele disse suavemente, "prefiro usar correntes do que assustá-lo."
"Você sempre foi tão nobre?" Hermione perguntou categoricamente: "Vindo de um sonserino, é realmente estranho."
Draco riu enquanto ela se movia para segurar seu outro pulso. Ela moveu a varinha dele para que ela estivesse à beira de seu alcance.
"Astúcia e ambição são características principais dos sonserinos", Draco concordou, "Mas isso não significa que não temos outros atributos também."
"Snape estava na Sonserina e ele se mostrou incrivelmente corajoso", Hermione admitiu.
Draco não queria falar sobre seu padrinho. Uma sonserina se apaixonando por uma bruxa nascida trouxa e sacrificando tudo por ela bateu um pouco perto demais de casa.
"Bem, você provavelmente deveria encontrar Weasley antes que ele caia em um buraco de gnomo ou ganhasse um dedão", Draco refletiu, "eu duvido que ele possa encontrar o caminho de casa sem ajuda."
Hermione franziu o cenho para ele. "Então, em vez de tomar um complemento, você tem que tentar me irritar, insultando uma das minhas melhores amigas. Existe o sonserino que eu conheço desde o primeiro ano. Vejo você mais tarde."
Hermione saiu com um bufo de irritação. Draco a observou partir, sabendo que tinha apenas alguns minutos antes que a dor começasse.
Ele tentou usar as técnicas de meditação que aprendeu enquanto dominava a Oclumência para relaxar o máximo possível. Quando ele começou a progredir, o formigamento no peito marcou a primeira sensação da mudança.
Não houve dor durante os primeiros minutos, apenas uma sensação quente fluindo através de seus membros. Ele tentou manter a calma e deixar a mudança acontecer, mas o calor logo se tornou um calor desconfortável.
Um assobio agonizante escapou de seus lábios e ele se lembrou agudamente das muitas vezes em que sofrera a maldição Cruciatus de seu pai ou do bastardo de olhos de cobra. A dor física era sempre mais intensa com o último, embora a dor emocional do sofrimento na ponta da varinha de seu pai doesse mais.
Draco se agarrou ao colchão enquanto queimava e manteve o rosto de Hermione em sua mente. Ele suportaria; ele sofrera demais para perdê-la.
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Hermione encontrou Ron de mau humor em seu quarto. Ela sabia que ele estava acordado e a ignorando; depois de compartilhar uma barraca por meses, ela podia facilmente dizer que ele estava fingindo dormir.
Ela sentou no final da cama e esperou. Alguns longos minutos se passaram antes que ele cedesse.
"Você não deveria estar aconchegando-se com Malfoy?" ele perguntou amargamente.
Assim que a acusação injusta chegou aos ouvidos, Hermione teve uma epifania; Ron não queria um parceiro, ele queria que alguém o zangasse como uma mãe. Como o caçula de seis filhos, sua necessidade de atenção feminina se desenvolveu sob a competição de irmãos mais velhos e mais bem-sucedidos. Mesmo depois de tudo o que havia feito, sua auto-estima permaneceu baixa.
"Isso não é justo, Ron, e você sabe disso", Hermione disse calmamente.
Ele não respondeu nem reagiu.
"Você estaria agindo assim se fosse Neville ou Dean?"
Ele deu de ombros: "Não sei. Pelo menos eu gosto de Neville e Dean".
"Eu gostaria de saber se você está com ciúmes de perder minha amizade, ou com raiva de que Malfoy pretenda me perseguir. Até você descobrir isso, não há mais nada a dizer."
Hermione se levantou, olhou para ele por um momento e depois saiu da sala. Quando ela passou, a porta piscou. Ela estendeu a mão e descobriu que não podia voltar a entrar no quarto dele, mesmo que quisesse.
Embora ela estivesse magoada por Rony não conseguir esquecer seu próprio preconceito, ela foi capaz de perdoá-lo com base em sua imaturidade. Mesmo com dezoito anos, ele não havia crescido verdadeiramente. Mais do que nunca, ela estava feliz por terem terminado antes que ela entregasse seu coração a ele.
"Hermione!"
Ginny espiou pela porta do quarto compartilhado, enrolada em torno da porta que estava quase toda fechada. Ela acenou freneticamente para a amiga.
Hermione ficou feliz por deixar de lado seus pensamentos sobre Draco em agonia e Ron afundando em amargura em favor da felicidade de Ginny.
Ginny puxou a amiga para o quarto, fechou a porta e lançou feitiços silenciadores. Hermione se esticou na cama e a observou com um sorriso.
"Como está Draco?" Ginny perguntou ansiosamente, "Ron está sendo um idiota, então algo aconteceu. Você o beijou?"
"Eu o acorrentei e o deixei sofrer a dor sozinho", admitiu Hermione, não querendo discutir Draco, "Ron está de mau humor porque falei com Draco. Ele pode explodir se realmente nos beijarmos".
Ginny assentiu, "Ele é como uma criança que não quer seu brinquedo favorito, mas também não quer que mais ninguém o tenha."
Hermione franziu a testa, "Eu nunca fui seu 'brinquedo'".
"Você sabe o que eu quero dizer; Ron não quer você como namorada, mas ele está ofendido por mais alguém querendo você", ela esclareceu.
"Ele também está ofendido por ser o Malfoy de todas as pessoas", acrescentou Hermione, "como se ele tivesse uma escolha."
"Bem, eu ainda te amo," Ginny declarou orgulhosa, "E Harry também. Se ele disser alguma coisa contra você, eu encaixotarei seus ouvidos."
Hermione riu, "Estou feliz que ele tenha você para mantê-lo na linha."
Ginny assentiu, "Ron estava tentando contar uma história sobre tudo isso ser uma farsa ou algo assim. Harry queria acreditar, eu podia dizer pelo jeito que ele estava agindo. Estou feliz por estar lá para chamá-los de idiotas".
"Eu juro, às vezes eles agem como se ainda tivessem onze anos de idade", Hermione concordou, "É tão difícil acreditar que Draco estava agindo? Ou que ele mudou do covarde fanático que costumava ser?"
Ginny sentou-se de pernas cruzadas na cama, "Os meninos acreditam no que veem; isso impede que suas mentes fiquem entulhadas com o que poderia ser. Acho que eles usam todo o poder cerebral disponível para pensar em sexo".
Risos borbulharam dentro de Hermione; Ginny nunca deixou de se divertir com suas observações sinceras e vontade de deixar escapar sem constrangimento.
"Por falar em sexo", brincou Hermione, "agora que você tem uma noiva, planeja alguma conversa aprofundada com Harry sobre isso?"
Ginny corou, "É com isso que eu queria sua ajuda. Quero dizer à mãe que vamos para o Beco Diagonal e depois para a casa de Grimmauld".
"Você não pode falar com ele aqui?" Hermione se perguntou.
Ginny estava tão vermelha que parecia um tomate. "Eu não estava planejando conversar muito quando chegamos lá", ela admitiu.
Choque inundou Hermione, "Você está planejando seduzi-lo?"
Ginny bufou, "Confie em mim, ele não precisa ser seduzido. Hoje de manhã -"
"Pare aí mesmo!" Hermione gritou, "Não me torture com detalhes."
Ginny deu de ombros, mas ficou em silêncio. Hermione sabia que não tinha conhecimento de sexo para oferecer. A conversa do dia anterior a preocupou. Ela nunca se propôs a investigar o assunto, embora sua pesquisa sobre várias poções e encantos de Cura tenha referenciado o problema algumas vezes.
"Ginny, se nenhum de vocês souber o que está fazendo, vai doer", Hermione disse finalmente.
"Eu sei", Ginny admitiu, "eu pensei em perguntar a Fleur, mas ela diria a Bill e a mãe não me deixariam usar o banheiro sem uma supervisão estrita. Há apenas uma pessoa que posso abordar que sabe sobre sexo, se a menina é virgem. "
Hermione esperou, imaginando quem Ginny estava se referindo também. Dromeda? Seria estranho, mas melhor do que perguntar a Molly.
"Quem?"
"Caro Merlin, isso é estranho. Promete que não vai surtar?"
Hermione esperou impaciente, "Eu não sei de quem você está falando, então não sei se vou surtar."
Ginny mordeu o lábio, claramente preocupada, "Bem, eu estava pensando em fazer Harry falar com Draco."
"O QUE?"
"Você prometeu não surtar!" Ginny implorou.
"Não, eu não fiz!"
"Apenas acalme-se! Não sei mais a quem perguntar. Ele esteve com algumas garotas -"
Hermione se encolheu com o lembrete.
"- então ele deve saber as coisas, certo? Ele sabe que você o mataria se ele se esforçasse para envergonhar Harry ou contar à mãe."
Hermione colocou o travesseiro sobre o rosto como se estivesse tentando se sufocar. Ela teve que admitir que a ideia de Ginny não era realmente terrível. Draco admitiu ter dormido com um punhado de meninas; as chances eram de uma ou mais virgens. Mesmo assim, a ideia a fez se sentir mal.
Ginny puxou o travesseiro, "Suicídio não é a resposta para a minha vida sexual."
"Como você vai convencer Harry a ter essa conversa?" Hermione perguntou seriamente.
A expressão determinada que Ginny usava se assemelhava à mãe mais obstinadamente.
"Se ele não cooperar, eu o imobilizarei e o apresentarei a Draco para ensinar."
"Se ele estiver disposto a compartilhar alguma coisa", apontou Hermione.