O chuvisco deixava a trilha e as rochas escorregadias, e a descida, contornando a montanha, estava sendo mais morosa do que esperava Majore.
E o frio deixava o corpo rígido, com as articulações das mãos enrijecidas, obrigando todos a ter cautela redobrada.
Izaya caminhava com ainda mais dificuldade, o que fazia com que ela e o pai fossem os últimos da fila.
Ela não tinha a habilidade que é proporcionada pelo trabalho pesado, pois a sua função sempre fora a de cuidar do espaço magístico do Templo.
Ela sequer conseguia acreditar que sobrevivera ao Ditador Vermelho!
Sempre que ele a tocava, ela pensava que seus ossos se partiriam!
Isso, porém, nunca aconteceu, embora muitas vezes ficasse com horríveis hematomas em sua pele leitosa.
Um arrepio percorreu o seu corpo ao se lembrar das cenas passadas com aquele bruto, lembranças que ela não conseguia arrancar da memória!
Com isso, tropeçou na capa e se desequilibrou, escorregando alguns metros na rocha íngreme. Os mais próximos pararam alarmados, com exclamações sufocadas nas gargantas.
Após o instante de assombro, Naga recobrou a ação e, desesperado, quase se jogou para salvar a filha.
"Não faça isso!" – Impediu uma das mulheres. "Nós a pegaremos!"
Com a respiração acelerada, Izaya se mantinha imóvel, quase grudada à rocha.
Felizmente, ali era um declive cheio de protuberâncias em que ela podia se apoiar.
Seus braços e pernas ardiam pelos arranhões.
Pensou em seu pai que, apesar de velho, era muito mais vigoroso do que ela.
E pensou nos refugiados que suportavam calados a inconveniência e estorvo que ela era para o grupo.
Ao pensar que era apenas um peso-morto que atrapalhava a fuga, o desejo de acabar de vez com aquele sofrimento brilhou forte, e Izaya decidiu, naquele momento, que deveria parar por ali.
Olhou para baixo e só o que viu foi a escuridão convidativa que a levaria ao torpor que tanto ansiava.
Um relâmpago rasgou o céu num clarão vermelho ofuscante.
Por um segundo, foi como um fogo que queimava a atmosfera.
E aquilo prendeu o olhar de Izaya como se fosse hipnose, e o relâmpago vermelho assumiu a forma de um majestoso dragão-serpente que ondulava pelo céu escuro, espalhando faíscas incandescentes; de sua boca alongada, com poderosos dentes afiados, rugiu um trovão que estrondou no corpo, mente e espírito da sacerdotisa, e um grito agudo escapou de sua garganta ao sentir seu corpo sendo puxado com vigor e quase brutalidade.
Um dos refugiados, um homem muito forte que trabalhava com embarcações, agarra Izaya pela cintura com apenas um braço, colando-a firmemente ao seu corpo.
Uma longa tira de tecido negro o enrolava pelo tórax, sob os braços, e quando sentiu que a moça estava bem firme em seu abraço, gritou para que fossem erguidos.
O homem era forte o suficiente para suportar o peso da sacerdotisa e auxiliar na escalada de ambos.
Em menos de dois minutos estavam de volta à trilha.
O homem largou Izaya sem nenhuma delicadeza, ocupando-se em desamarrar o pano que lhe apertava as costelas, lhe dificultando a respiração.
"Izaya! Louvado seja Seiryû Wu-ki!"
Agradeceu o pai, erguendo a filha.
A mulher, que trocou o arroz pela carne com Izaya, sorria satisfeita para ela enquanto enrolava seu turbante na cabeça.
As outras duas mulheres e mais dois homens também ajeitavam seus turbantes no lugar.
"Pelo visto, Wu-ki ainda a protege, sacerdotisa!"
Depois de uma reverência com as mãos justapostas diante do peito, agradecendo a todos do grupo e em especial ao forte estivador, Izaya lançou um último olhar para o céu.
Em seu íntimo, pediu perdão por sua covarde fraqueza e agradeceu pela força dada ao homem que a resgatou.
E apenas seus olhos vislumbraram por instantes o belo dragão de fogo.
Sabia ser Seiryû Huang-ti, Divindade do Fogo e Deus-Dragão da Cidade de Luz.
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K'ien
Fantasy💥 Completa 💥 Conto de Ficção Fantástica sobre Dragões. História completa. Será postado em capítulos curtos conforme a demanda de leitura. Izaya, a sacerdotisa da Deusa-Dragão Wu-Ki, falha em sua missão de proteger a Cidade das Águas, e um golpe...