Apenas na manhã do dia seguinte que Naga permitiu Izaya sair de casa.
Pelos três dias que ela permaneceu desacordada, ele não saiu para fazer seus fretes, e passou todo o tempo velando a filha, tendo a ajuda da cunhada e do irmão.
No entanto, precisavam de dinheiro, e um dia a mais sem trabalho complicaria muito, sobrecarregando ainda mais o pobre irmão, que também não possuía o suficiente para sustentar tantas pessoas.
Izaya esperou que Naga saísse para se aprontar e também sair. Precisava encontrar o rapaz, de qualquer jeito!
E a sua primeira tentativa foi o Templo do Fogo.
O monge responsável negou que ali houvesse algum soldado com as características citadas por Izaya.
Ela, no fundo, esperava por essa resposta.
Quando se viu a sós, ajoelhou-se diante da imagem do dragão esculpido em pedra, rezando para que o próprio Deus-Dragão se fizesse presente, como na primeira vez.
Mas foi em vão.
Esperou por quase uma hora até dar-se conta de que esse “milagre” não aconteceria.
Desanimada, caminhou sem rumo definido.
Seu instinto acabou a levando às margens do Kwan-yin, onde algumas pessoas pescavam com tarrafas.
Izaya olhou para o céu, certificando-se do clima que permanecia frio, mas estável com um Sol pálido.
Arriscou-se até a queda-d’água que quase a matou.
Quando chegou, percebeu que a vegetação à margem do córrego fora arrancada pela enxurrada.
Alguns galhos mais baixos pendiam quebrados.
Ainda assim era um lugar magnífico, com sua cascata soltando fagulhas de água que brilhavam ao Sol brando.
Frustrada, debruçou-se sobre uma rocha grande, sentindo o calor que emanava dela, deixando escapar um suspiro de decepção.
--Por duas vezes a senhorita desejou a morte, Pequena Lótus... por quê?
Izaya assustou-se, virando e sufocando um grito.
Às suas costas estava Huang-ti em seu altivo porte militar, mas trajando as vestes simples e com um semblante entristecido.
--Eu não... – Izaya murmurou, mas ao se dar conta de que nada adiantaria mentir, endireitou sua postura, confessando sua fraqueza.
--Sim, eu desejei a morte mais de uma vez... só não entendo porque... porque fui salva! Pessoas valorosas, que lutaram até o fim, morreram pelo terror da ditadura que se abateu sobre a Cidade das Águas! Por que eu, justamente eu que falhei com o povo de Seiryû... Wu-ki... por que fui salva? Eu me tornei indigna dos Deuses!
Huang-ti meneou a cabeça melancolicamente.
Aproximou-se de Izaya, estendendo a mão e deslizando os dedos pelo rosto dela.
--É preciso muito mais para se tornar indigno de um Deus, Izaya... e você jamais seria capaz disso!
A sua única falha foi a de não ter compreendido a sua missão, quando foi posta no caminho do Ditador...
Ele havia se encantado por você e bastaria que você reforçasse esse encanto... tomando-lhe o coração e a mente através do corpo e, então, talvez assim conseguisse mudar a crise na sua terra.
Izaya estava assombrada, sentindo-se tonta pela revelação de Huang-ti.
Então ela realmente falhou, mas de uma forma que jamais poderia imaginar!
--Na verdade, eu sequer chamaria a isso de falha... – O Deus-Dragão respondeu à pergunta não formulada. --E, sim, um grande contratempo. Mas ainda há jeito, sempre há, apesar das perdas.
--Mas... como?
--Primeiro, expurgando essa culpa, uma responsabilidade que não pertence a você. Segundo, abrindo-se novamente às influências astrais, permitindo que minha irmã Wu-ki tenha novamente acesso ao seu coração. Apenas depende de você, Pequena Lótus. Mas estou aqui para auxiliá-la, se me permitir.
Não sabia exatamente qual seria esse auxílio, mas Izaya aquiesceu concordando, sabendo-se incapaz, no momento, de eliminar sozinha os bloqueios que ela própria gerou em seu espírito, fechando-se ao Plano Astral.
Huang-ti sorriu, envolvendo o rosto da sacerdotisa com as mãos, e ambos sentiram suas peles faiscarem com o contato.
--E, apenas para deixá-la a par da situação, isso foi um pedido de sua madrinha Wu-ki... –
Curvou-se, tocando seus lábios nos de Izaya num beijo terno, morno e carregado com prazerosa eletricidade, pelos elementos dualistas que se reconheciam e se harmonizavam.
Aprofundaram o beijo, envolvendo-se em brumas, como se águas quentes os seduzissem num abraço tântrico.
E tudo o mais se modificou, desaparecendo forma, tempo e espaço.
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K'ien
Fantasy💥 Completa 💥 Conto de Ficção Fantástica sobre Dragões. História completa. Será postado em capítulos curtos conforme a demanda de leitura. Izaya, a sacerdotisa da Deusa-Dragão Wu-Ki, falha em sua missão de proteger a Cidade das Águas, e um golpe...