Capítulo 7

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Em suas andanças pelas margens do rio Kwan-yin em busca de ervas, onde Izaya encontrava o frescor e paz que sua alma tanto ansiava, acabou descobrindo a mata em que as águas atravessavam, ficando a menos de meia hora de caminhada, subindo o rio.

Foi com alegria que descobriu a primeira queda-d'água por onde descia o rio que levava o nome da Deusa da Misericórdia - uma pequena cachoeira aonde poderia fazer seu ritual de purificação!

E assim o fez, em todo período da Lua Minguante, sendo a ideal para descarregar energias deletérias.

Izaya sentia-se mais leve, com a vida, lentamente, se reacendendo dentro dela.

Mas a culpa, predadora voraz, permanecia agarrada à sua mente, nublando o seu coração.

Numa dessas manhãs em que terminava sua oração de purificação sob a cachoeira, quando saía da água para se secar ao pálido Sol antes de se vestir, Izaya é surpreendida por um homem, despreocupadamente sentado sobre uma rocha, olhando para ela com interesse.

Era o soldado-guardião do Templo do Fogo.

Ele estava à vontade, vestido apenas com uma túnica e calças enroladas até os joelhos.

Sem a armadura e tão natural, ele parecia ainda mais bonito.

Izaya gritou e se escondeu atrás da pedra em que deixara suas vestes.

Ela não estava nua, vestia uma túnica, mas molhada como estava, o tecido leve de algodão era praticamente transparente.

--Perdoe-me, senhorita! Não queria assustá-la. Mas não é necessário se esconder. Nada farei contra a vossa pessoa.

A moça vestiu-se atrás da pedra mesmo, com o corpo ainda úmido, molhando as barras do balandrau e das calças, por ainda estar com os pés dentro da água.

Resmungava contrariada, sentindo sua privacidade invadida.

Apesar do susto, ela não tinha medo do estranho, confiando nas palavras dele.

--Vejo que agora terei que dividir a minha pequena Kuen-luen com a senhorita... a propósito, por que não foi mais ao Templo do Fogo? -

O jovem perguntou com expressão divertida e olhos brilhantes.

Apesar do Sol fraco de princípios de Inverno, estava uma bela luminosidade que se intensificava pela mata virgem e as águas céleres da cachoeira.

Izaya se ruborizou ainda mais, se isso fosse possível.

Ela não retornou ao Templo exatamente por causa desse homem!

E, ironicamente, ali estava ele em seu templo natural!

Para disfarçar o nervosismo, ela torceu o cabelo para tirar o excesso de água e se ocupou em fazer uma trança.

--Estive no Templo apenas para agradecer à Divindade, mas ela não é o meu Deus-Dragão, então não há sentido que eu frequente o lugar!

--Hum, que interessante... então são os humanos que possuem os Deuses que lhes convêm... - O rapaz murmurou, com sarcasmo. --Então, qual é o Deus da senhorita?

Izaya baixou a cabeça, envergonhada.

Será que ela poderia falar o nome de Wu-ki? Sua língua também fora maculada, então não poderia pronunciar o nome de seu Deus-Dragão... e de nenhuma outra Divindade!

Huang-ti enxergava o íntimo de Izaya e via o conflito que havia nela.

Foi com pesar que percebeu o quanto ela se punia com culpas, se feria com algo que para eles, os Deuses, não tinha a menor importância.

--A senhorita me permite arriscar um palpite? - Interferiu para tirar a moça do conflito e do monoideísmo em que se entregava. --Por gostar tanto de água e por estar se purificando na cachoeira de Kwan-yin, acredito que a senhorita pertença a Seiryû Wu-ki, a Deusa-Dragão da Água.

Izaya arregalou os olhos azuis, surpresa pelo palpite certeiro e ainda mais pelo rapaz ter se referido a Wu-ki como sendo uma Deusa.

Aproximou-se, porém mantendo uma distância cautelosa da rocha em que o soldado estava encarapitado.

--A Divindade da Água é um Deus-Dragão, não uma Deusa...

--Isso não pode ser... - Huang-ti falou sorrindo complacente, debruçando-se sobre si mesmo. --O Elemento Água é Yin, de polaridade feminina, então a Divindade que controla esse elemento só pode ser feminina...

Izaya olhou para o rapaz ainda mais confusa, com a informação borbulhando em sua mente.

Ele transmitia tanta segurança que era difícil crer que estava enganado.

--Eu... eu fui sacerdotisa na Cidade das Águas, e lá sempre cultuamos Wu-ki como uma Divindade masculina... -

Sem perceber, Izaya pronunciou o nome de sua Deusa-Dragão de forma totalmente inocente e desarmada.

Huang-ti sorriu ante essa pequenina vitória.

--Bem, Pequena Lótus... lamento informar que vocês estavam equivocados.

A moça olhou mais uma vez para o rapaz, demonstrando em seus olhos toda a confusão que ia dentro de si.

Fez-lhe uma leve mesura, girou nos calcanhares e saiu quase correndo.

Havia muito em sua cabeça e coração para meditar a respeito.

Huang-ti acompanhou Izaya com o olhar, até ela sumir na estradinha entre as árvores.

Satisfeito, voltou seu rosto para o céu e o seu corpo inteiro se iluminou, até tornar-se um clarão ofuscante.

Assumiu a sua forma de dragão-serpente e deslizou em direção ao Sol.

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