Capítulo 1

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Felícia....

Nunca fui uma pessoa doce,sempre me senti diferente de todos a minha volta,eu era uma estranha odiada por todos e fingida ser amada pela minoria,passei por boa  parte da minha vida vendo minha mãe ficando fraca,se rendendo a sua doença,foi o amor pelo meu pai que a destruiu,se ela fosse mais forte,nunca teria se entregado aquela doença,teria olhado para seus filhos e cuidado deles,senti inveja do meu irmão James ter sido o primeiro a se libertar da loucura que era conviver com nossa família,senti ódio por ele ter uma vida longe daqui,descontar toda  minha amargura em Audrey era a única coisa que me restava,mas sabe o que era mais irritante,o bom humor dela,seu sorriso,Audrey vivia sempre cheia de esperanças,havia uma luz em volta dela que a tornava especial,aquilo me irritava mais,eu não conseguia entender como ela ainda tinha esperanças sendo cercada pela loucura que era nossa família.
Vivi anos alimentando a magoa dentro de mim,estava com minha alma envenenada distribuindo ódio por onde passava.
A verdade era que minha vida era tão vazia quanto minha alma,hoje eu sei disso.
Sim eu sei,sou uma péssima pessoa,disfarço minha dor sendo cruel com as pessoas que não merecem,mas a verdade é que tudo que sinto é inveja de minha irmã Audrey,ela sim,tem a alma pura cheia de encantos,sua capacidade de ver romance,respirar e viver nesse mundo de merda,era algo que eu nunca entendia,mesmo depois da perda de nossa mãe,sua alma devastada pela dor,ainda se permanecia lá,com aquele brilho em volta,enquanto eu,me perdia na escuridão e no ódio,mas isso foi antes dele...
Estou caminhando sem prestar atenção em nada,pela primeira vez eu só queria caminhar sem destino,estava tudo tão difícil,depois que vi minha irmã naquele hospital chorando e se contorcendo pela perda de seu bebê,algo dentro de mim se rompeu,a dor dela estava me rasgando a alma,era como sangrar sem saber como estancar  todo aquele sangue de meu coração,toda maldade que fiz pra ela,aquilo me destruiu,foi como se naquele momento eu voltasse a ser humana,a ser a irmã segunda mais velha,James era o mais velho,sempre cuidou de todos mesmo a distância.
Exausta,era assim que estava me sentindo,enquanto passava por  um prédio antigo,uma placa me chamou atenção,era como se fosse atraída para aquele lugar,apenas me movi até lá e entrei...um som invadiu minha audição indo direto pra minha alma,fazendo sentir algo que nunca havia sentido,vontade de recomeçar.
O som de uma música quase como um lamento me atraí a cada passo que dou em direção aquela sala,eu conseguia sentir a dor em cada melodia,paro diante da porta entreaberta e olho a figura enigmática tocando seu violino,meus olhos estão fixos e eu não consigo respirar,ele tocava com tanta paixão,parecia que cada nota saia de seu coração.
Fecho os olhos e absorvo cada nota invadindo minha audição a onda de vibração penetrava minha alma e pela primeira vez,eu consegui senti,uma lágrima escapa e rola em minha face,solto um suspiro longo e nem me dou conta que ele parou de tocar,até ouvir o som da sua voz.

-Sei que esta me observando,eu consigo sentir as batidas do seu coração.

Sim,e pela primeira vez,eu estava sentindo minha alma queimar,mas agora era pelo som da voz grave que vinha da sala.

                   **************

Estou paralisada pelo som daquela voz,minha respiração parou,o ar em meus pulmões se esvaiu de repente.

-Para uma espiã,você não é nada discreta...

Ele diz enquanto tento acalmar a agitação dentro de mim..

-Desculpe,eu ouvi uma música e quando percebi já estava aqui...

-Sabe que esta invadindo,a escola não esta aberta pra visitas...

O tom sério e frio em sua voz não conseguia esconder aquele sotaque,Britânico ,eu tinha quase certeza.

-Escola?!

Ele ainda esta de costas,mas consigo ver seus cabelos negros,seus pés estão descalços e usa um jeans desbotado,ele caminha até uma espécie de parede onde ficam vários instrumentos organizados e ajeita o violino com tanto cuidado no espaço vazio,que estava reservado para ele,depois se volta finalmente pra mim,a luz que atravessa a sala paira levemente contra sua face,me dando a visão perfeita de parte de seu rosto,o homem cruza os braços,consigo ver as veias saltadas em cada linha de seu braço musculoso,eu me perguntava o que um homem que exibia tamanha estatura conseguia tocar com tanta leveza aquele violino frágil.

Um Amor de Maestro.( Série Recomeços Livro 4) Será Revisado Onde histórias criam vida. Descubra agora