Meu corpo era um templo.
Ao menos era o que diziam quando mais nova.
Mas eu cresci.
E junto vieram os pelos.
Depois as estrias.
As celulites.
Ouvi que meu templo era feio.
Descuidado.
Abandonado.
Com cicatrizes e buracos.
Como alguém visitaria meu templo assim?
Mas você passou por mim e quis conhecer meu templo.
"Bom demais para ser verdade"
Era o que eu ouvia.
Você entrou em meu templo.
Observou cada imperfeição.
Mas não julgou.
Adentrou meu templo com devoção e adoração.
Quando choveu, você permaneceu.
Quando fez sol, você permaneceu.
Usou meu templo como refúgio.
De sua vida.
De seus problemas.
Eu me senti bem tendo alguém que adorava meu templo.
Mas como já diria a música
"To Good to be true to me".
Um dia você não me adorou
E eu entendi, afinal você também tinha sua vida.
Mas se passou uma semana.
E você não veio.
Eu me senti mal.
Será que fiz algo que te afastou?
Mas no final, todos eles estavam certos.
Você encontrou outro templo.
Um templo bonito e restaurado.
Um o quão você não precisava esconder.
E eu não te julgo. Afinal, quem quer frequentar um templo, tanto por dentro quanto por fora, destruído?
E eu tentei reformar ele.
Tentei te fazer ficar.
Mostrar que ele também tinha sua beleza.
Mas você fez como os outros.
Usou meu templo como abrigo.
Como refúgio.
Sorriu.
Chorou.
Sujou.
Quebrou.
E eu não me importei.
Eu pensei que seria diferente.
Você parecia ser diferente.
A sua devoção parecia verdadeira.
Mas você foi como os outros.
Me adorou só para que as portas de meu templo se abrissem.
Quando tocou minhas rachaduras, eu me senti diferente.
Quando admirou minhas manchas, eu me senti diferente.
Amada.
Adorada.
Bela.
"Too good to be true".
Eu te abriguei.
Em seus piores momentos.
Em seus melhores momentos.
Mas você partiu.
Abandonou meu templo.
E encontrou outro abrigo.
Hoje meu templo é abandonado.
Vez ou outra servindo de abrigo aos perdidos e infelizes.
Eu não sou adorada.
Eu não sou amada.
Eu não sou bela.
Eu sou abandonada.
Eu sou usada.
Eu sou suja.
