A montanha

CAPÍTULO l

Eu nasci diferente, minha família fingiu não ver os sinais que eu dava ao longo do meu crescimento, mas ficou óbvio pra todos no ensino médio, quando eu me apaixonei por um colega de classe.

- Will não é gay Marta, é só uma fase, ele sabe que manter a família é importante.

Ouvi meu pai dizer, enquanto minha mãe andava de um lado a outro na sala.

Suspirei no sofá olhando pra eles, eu os amava, muito.
São ótimos pais, e eu sou filho único, mas apenas porque mamãe teve um parto complicado que deixou sequelas, senão por certo eu teria uns três irmãos.

- Pai, não é uma fase. - Eu disse.

Eu não quero esconder o que eu sou, então me assumi tem alguns minutos.

Meu pai balançou a cabeça e cruzou os braços.

-Vontade...

- Não pai.

Meu pai respirou fundo enquanto minha mãe fungava baixinho.

- Will você tem um compromisso, o que vamos dizer pra família da Alicia?

Minha família é pequena, mas nosso legado não.

Somos lobisomens.

Eu sei, parece ridículo.

Temos o dever de manter a espécie, por isso nossos casamentos são arranjados, desde pequenas nossas famílias escolhem os parceiros de seus filhos, e dessa forma ao menos uma criança deve nascer.

É assim que mantemos a espécie.

Crescemos como pessoas comuns até o corpo exigir a primeira transformação, aconteceu comigo tem alguns meses. E agora, quando eu quero, me transformo em um lobo.

Não é nada demais quando se cresce vendo isso, como eu.

- Mãe, não posso me casar com ela, não vai ser justo e eu a faria infeliz. Euseria infeliz.

Mamãe me olhou suplicante.

- Você... pode tentar. Só precisam ter um filho, um só! E aí você... você... 

Me levantei e a abracei.

- Mãe, não é assim. Eu não posso me casar com ela. Não posso.

Faltam duas semanas pra minha formatura, a família de Alicia espera pelo pedido formal de casamento antes que eu vá para a faculdade.
Existem poucas regras em ser um lobisomem, porque na verdade as famílias protegem umas as outras.
Uma das regras é não ter filhos for a da espécie, por motivos óbvios.

E tem a coisa do casamento, não precisa ser oficial, mas nós temos uma cerimônia própria.
Alguns sortudos se apaixonam por seus parceiros, e Alicia seria uma ótima companhia pra mim, ela é um ano mais velha, tem um sorriso lindo e conversa sobre tudo.

Mas infelizmente, ela não exerce a mínima atração em mim.

Nem ela, nem mulher alguma.

Minha mãe se soltou do meu abraço, desviou os olhos e assentiu.

- Vamos falar com a família dela então.

Meu pai não disse mais nada.

 Ele mal me olhou depois disso.

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Era meia noite quando eu pulei a janela de casa em forma de lobo, moramos em uma fazenda, então foi bem fácil desaparecer no meio da escuridão.

Preciso ter cuidado, toda minha família mora próxima e eu não queria que ninguém me visse saindo hoje.

Esperei estar em uma distância segura e passei a correr.