EPÍLOGO

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Will:

Estar ansioso é bem ridículo agora, Gus está dormindo ainda.

É madrugada, e hoje é um dia muito importante.

Hoje minha matilha vai me aceitar de volta, meu exílio auto imposto vai ser destituído.
E hoje vão aceitar Gus como parte da família.

Não da matilha, da família.
Isso nunca aconteceu.
Nunca alguém de fora foi aceito na nossa casa, na nossa família. e ele nem é um lobo.

- Amor ?

Eu balanço ele um pouco, ele resmunga de um jeito fofinho se aconchegando mais em mim.

Ele é lindo demais, mesmo babando um pouco.

- Humm?

- Preciso te contar uma coisa, antes da gente ir viajar.

Se ele olhasse pra mim agora, veria que eu estou vermelho.
É constrangedor contar pra ele.

- Fala. - A voz dele sai arrastada, sonolenta.

- É que... é meio uma coisa da matilha. sabe? Não achei que ia precisar te contar algum dia.

Agora eu tenho a atenção dele, ele simplesmente ama curiosidades sobre a matilha.

Dou uma forçada na garganta, reunindo uma certa coragem.

- Nós... eu não sei se já te contei...

Nem sei como dizer.
Merda.

- Tô ficando nervoso Will...

- Não, não fica. É que os lobos tem um jeito diferente de mostrar que estão em um relacionamentos. Quando nos apegamos a alguém, nós exalamos um cheiro. É tipo um aviso, de que a outra pessoa é comprometida, é quase como usar uma aliança no dedo, uma aliança bem grande. E... eu meio que fiz isso com você, não foi consciente, quero dizer, não que eu não tenha me apegado, não é isso. É só que a matilha vai sentir o meu cheiro em você, e daí...

Eu parei de falar, sem fôlego, a cara dele estava sem expressões enquanto ele pensava. 

- O que significa, para os lobos ? 

- Significa que você é, bom não tem um termo mais específico do que... Casado.

Gus congelou.
Meu coração disparou.

Pronto, agora é a hora em que ele vai achar demais isso tudo de ter um relacionamento comigo e vai fugir, estou esperando isso desde o resgate, embora ele tenha aguentado muito firme até aqui.

- Eu sou casado com você ? - ele disse lentamente, como se estivesse experimentando as palavras.

- Não, quer dizer, não na sua concepção humana, não literalmente, essa é a parte básica.

Ele pareceu refletir mais um minuto. concentrado demais, com a testa franzida.

- Como assim ?

- Ah, bom, tem uma cerimônia, na matilha, pra oficializar. É bem bobo na verdade. Nem precisa se preocupar com essas coisas, nada disso importa pra gente. Só queria que soubesse antes de perceber todo mundo se afastar um pouco ou dizer alguma coisa indelicada.

Mentira.
É uma coisa muito sagrada pra nós.

A união de duas pessoas é a forma de manter a família, nada é mais reverenciado do que um casamento lobo. 

Eu só não quero pressionar ainda mais meu namorado que está quase juntando as duas sombrancelhas na cara de tanto pensar.

- E você quer ?

- Se eu quero ?

- casar comigo ?

Ah meu Deus.

- Tá... me pedindo em casamento?? - agora meu coração vai sair pela boca.

- Bom, não literalmente - ele disse sorrindo, debochando de mim.

- Você não precisa fazer isso, é só uma tradi...

- Você quer ? - Ele tá me olhando daquele jeito, com os olhos brilhando, a boca meio aberta num sorriso de lado.

- Eu quero. Quero muito.

- Então casa comigo, numa cerimônia boba... - ele diz isso sorrindo, abertamente.

Eu já não consigo falar, então faço que sim com a cabeça, puxo ele mais perto, encostando a cabeça dele na minha.
Eu tenho o homem perfeito.

Horas mais tarde, e eu já recebi a benção do meu avô, faço parte da matilha novamente.
Meu avô não se importou muito com essa parte, segundo ele mesmo, famílias se unem na adversidade, e por isso Gus seria um membro muito honrado na nossa.
Fiquei surpreso de ouvir algo assim, até porque, eu iria viver com Gus na montanha, e não aqui com eles.

Desde cedo, ouvi muito de como Gus entrou furiosamente pela porta, exigindo ajuda, e fez uma matilha inteira questionar a própria lei.
Existe um respeito para falar dele, que eu nunca ouvi sair da boca de nenhum lobo sobre um ser humano, deve ter algo haver com ele ter gritado com todo mundo pela demora no meu resgate.

Eu me orgulho dele mais do que tudo agora.

A família está reunida, a cerimônia de união é rápida, e geralmente feita ao amanhecer, mas dessa vez, faremos ao entardecer, e gosto que a nossa seja diferente.

Estou segurando a mão do Gus, vamos seguindo até a clareira onde estão todos.

Tem um silêncio agradável entre nós dois.
Quando chegamos, nos viramos um de frente para o outro, com as mãos dadas.

Meu avô diz as coisas de sempre. 
Eu queria prestar atenção, mas Gus está me olhando com uma seriedade, com um respeito; E eu sei que não existe nada que eu não faria por ele.

Quando meu avô termina de falar, ele pega uma faca pequena das mãos da minha mãe e me passa.
Eu contei sobre a cerimônia pro Gus, então não houve medo quando peguei a mão dele - delicadamente - e fiz um corte pequeno, na mão esquerda.
Ele pegou a faca e fez o mesmo corte em mim e demos as mãos, juntando nossos cortes.

E meu avô encerrou:

- Vocês agora são partes um do outro, sangue um do outro.

Nossos olhares se encontraram e se fixaram durante toda a frase.
Nunca antes eu realmente entendi essa parte, sobre ser parte um do outro.
Agora eu entendo, eu farei qualquer coisa por esse homem.

Quase morri por ele.
E eu faria de novo, e quantas vezes forem necessárias.

Sem que fosse parte da cerimônia, Gus avançou um passo, encostou nossas testas e sussurrou - eu te amo - e eu estou em casa.

Ele é minha casa.
 

                    










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