CAPÍTULO V

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Eu não consegui dormir por muito tempo, então corri.
Meus membros pareciam de aço, fortalecidos em expectativa pela noite seguinte.

A ansiedade enchia meu corpo e eu cheguei ao topo da montanha mais rápido que nunca, meu corpo vibrava.
O vento batia no meu pelo e a brisa trazia cheiros novos, era uma sensação animalesca, rudimentar, que me levava a correr mais e mais, até esquecer tudo aquilo que rondava minha cabeça.

O cheiro de uma tempestade de neve se aproximava, a primeira do ano.
Continuei correndo, e pela primeira vez não tive vontade alguma de esperar o sol nascer, eu iria descer e ver Gus sair de casa, e quem sabe acompanhá-lo até a estrada.

A descida foi tão rápida quanto a subida,
eu estava quase na cabana dele quando senti a neve começar a cair, os delicados flocos desciam pelo céu, começando a manchar de branco todo a floresta quase sempre verde e marrom.

Consegui chegar a tempo de ver Gus descendo de sua escada até a caminhonete, olhando sorrindo para os flocos brancos.

Fui pra casa, e acabei dormindo parte do dia.
Acordei com a sensação de ter dormido demais, e olhando pra fora percebi que talvez fosse isso mesmo, a neve piorou e a temperatura caiu muito, fazendo os animais que quase sempre estão fazendo barulho por aqui se enfiarem em seus ninhos.

Sem saber que horas poderiam ser, já que o sol estava bem escondido, liguei um rádio velho que eu tenho, e depois de ouvir algumas músicas da década passada enquanto tomava banho, a voz do locutor anunciou que a cidade estaria "fechada" pelos próximos dois dias, a tempestade de neve seria uma das fortes e começaram a passar orientações para não haver pânico.

No mesmo momento eu entrei em pânico.
Por quê se as ruas já estivessem fechadas, Gus não iria conseguir subir a montanha, e mesmo que ele conseguisse, talvez pudesse ficar preso em algum dos muitos pontos de difícil acesso.

Eu quase que imediatamente saí pra fora como lobo e esperei que Gus fosse esperto e notasse que ele não deveria subir a montanha.

Ótimo momento para ter um celular, ou o número de Gus que fosse. Mas eu não tinha nenhuma das duas coisas.

Algumas horas depois e Gus não havia chego, já passou a muito do horário dele.

O vento estava forte num nível dificil até pra mim não tremer, a neve já estava incomodando e logo mais a estrada até aqui em cima ficaria parecendo um escorregador gigante. Gelo e terra não são as melhores combinações.

Peguei uma calça no meu guarda roupas, desci até a casa de Gus e acendi a lareira, se ele viesse pelo menos a casa já estaria quente, mas eu estava protelando, um desespero já me percorria.

Voltei pra fora como lobo, e pela primeira vez em muito tempo eu sentia frio, estava a alguns quilômetros das cabanas, esperando algum sinal dele, olhando pelas encostas montanha abaixo.

Já estava considerando descer todo o caminho até a cidade quando vi a caminhonete dele subindo devagar, com correntes de neve nos pneus e um empurrador acoplado no para-choque.

Suspirei aliviado, corri pra cima de novo, pus uma roupa e cheguei na frente da casa a tempo dele estacionar e sair.

Ele se abraçava e tremia e abriu um sorriso enorme quando me viu ali parado o esperando.

Eu não sabia bem o que fazer, mas sorri em resposta a animação dele.

Ele parou na minha frente, o vapor saindo em ondas dos lábios abertos.

Olhando pra ele senti que a ânsia dele de me ver, se parecia um pouco com a minha.

- Oi.

- Oi...

A montanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora