GUS :
Eu não ouvi quando a neve se desprendeu, nem ouvi quando o vento soprou mais forte.
Mas eu ouvi o grito do Will, e olhei pra ele uma última vez antes dele me empurrar para me salvar.
Mesmo protegido atrás de uma pedra, eu fui soterrado por sabe se lá quantos metros de neve.Consegui sair quando a neve parou de descer, consegui me levantar e gritei por horas, até ficar rouco, até estar encharcado e tremendo de frio.
Procurei por um dia inteiro, e não encontrei nem sequer vestígios de onde Will tenha sido jogado.
Acionei o resgate depois de conseguir encontrar nossa casa, e eles fizeram buscas de horas com o helicóptero, e me disseram com palavras delicadas que ninguém sobreviveria a tamanha pressão por tanto tempo, eu tive sorte, eles disseram. Me ajudariam a achar o corpo em alguns dias quando a tempestade de neve amenizasse.
Eu não poderia descer a montanha de carro ou apé, então pedi uma carona com o helicóptero até a cidade.
Da última vez que Will se feriu, ele estava curado ao fim do dia. Então ele deveria ter voltado pra casa se tivesse apenas se machucado, ele seguiria meu cheiro. Mas já faz quase 48 horas desde a avalanche e não tivemos o mínimo sinal dele.
Sim, eu sei que ele é um lobo nas horas vagas, na verdade foi bem fácil descobrir, quando ele abriu a porta pra mim no primeiro dia ele tinha as mesmas cicatrizes que o lobo que eu ajudei, as mesmas marcas nas pernas, e o mesmo olhar sonolento também.
Mas apenas precisei olhar as câmeras da clínica logo depois que notei seu desaparecimento e lá estava ele, fugindo pela janela.
Ele me seguia em silêncio, mas eu sempre achava uma pegada dele na volta das trilhas, nunca foi realmente cauteloso com isso.
Foi natural me apaixonar por ele, mais natur ainda me entregar completamente e moldar minha vida toda em torno da dele.
Nós vivemos um ano maravilhoso, e eu sei que ele ainda está vivo, então vou achar alguém que encontre ele pra mim.
Porque eu não posso viver sem ele.Eu sempre soube que ser lobo não era um segredo só dele, porque aos poucos ele me falou de sua família, ele os amava, mas não pretendia vê-los de novo.
Apenas deduzi pela forma que falava deles, que eram sua matilha.
Estou dirigindo com o dobro da velocidade permitida, com um carro emprestado, sem comer e sem dormir, mas foda-se, que venham as multas.
O GPS finalmente indica meu destino a esquerda, faz duas horas que estou dirigindo, mais duas horas pra voltar, mais o tempo de subir a montanha.
O desespero me assombra, não sei quanto tempo ele poderia sobreviver debaixo da neve, ou machucado.
Imagens de pedaços do corpo dele espalhadas pela montanha que ele tanto ama piscam na minha mente ansiosa, eu coloco tudo de lado.
Will não está morto! não está! ele é forte, ele sempre consegue voltar pra casa! ele vai voltar!
Estaciono e desço do carro trêmulo, a fazenda é grande e o cheiro me é familiar, cheiro de cachorro molhado.
Sigo até a casa maior e bato na porta.
Já devem saber que tem alguém aqui, mas demoram a abrir mesmo assim.
Uma moça me recebe, franzindo o nariz pra mim.
Will faz a mesma coisa quando eu volto da clínica depois de cuidar de cachorros.
- Posso ajudar ? - Ela não parece querer ajudar em nada.

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A montanha
RomantizmWill é um jovem lobisomem, sua família é sua matilha. Sua família tem á gerações a tradição de manter casamentos entre a espécie, para que os jovens lobos cresçam e se fortaleçam juntos. Sendo o segundo na linhagem do Alfa ele deveria se casar e ter...