CAPÍTULO VIII

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GUS:

Não me lembro de quando essa ideia se formou na minha cabeça, nem como eu comecei a subir a montanha, mas quando me dei conta, estava tremendo e batendo os dentes enquanto afundava os pés no que poderia ou não ser uma via.

Está escuro demais pra ver qualquer coisa na minha frente e eu só tinha uma lanterna medíocre que mal iluminava um metro.

Algumas lágrimas desciam pelo meu rosto e sem perceber eu caí, o peso da minha dor era quase palpável, me encostei em uma árvore.

Sempre fui dramático, mas enquanto o vento congelante assobiava e minha respiração ficava cada vez mais instável eu deixei o pânico me dominar.

Eu chorei, soluçando e me arrependendo das malditas corujas, me arrependendo de desperdiçar tempo na clinica quando eu podia passar o dia todo com Will.

Me arrependendo ainda mais de demorar tanto pra demonstrar interesse, quando na verdade eu me senti atraído por ele desde o primeiro dia.

Eu queria tanto estar com ele que arrumei as desculpas mais ridículas, céus, eu dirigi por quilômetros para encontrar aquela quantidade de abóboras no halloween passado.

Me lembrei daquele primeiro beijo e do quanto eu lutei pra voltar pra casa na neve, do sorriso dele depois de ter feito comida pra mim, da paciência dele em me ensinar coisas que ele sabia que eu não iria gravar, do som que ele faz quando se espreguiça como um lobo, as mãos dele me apertando quando fazíamos amor.

Will se tornou tudo pra mim, em tão pouco tempo que até me desesperei, ele se tornou o apoio da minha vida, tudo que eu sempre sonhei. 

Me acalmei aos poucos.
Ele precisava de mim.

Quando minha respiração ficou estável eu me pus de pé, as lágrimas ainda caiam, mas eu firmei a lanterna na minha mão e continuei a subir, não havia certeza de ser uma via ou trilha, eu só implorava para não ser arrastado para baixo em um pisar falso e comecei a gritar.


Will:

A dor era tudo que eu registrava, minhas costas e a maior parte do meu corpo já estava parcialmente curado, mas alguma coisa prendia meu pé.
Não haviam forças pra me mover, ou gritar, ou mover minha cabeça que fosse.

A fraqueza do meu corpo não era algo a qual eu estava acostumado. Eu tentei me tornar um lobo, mas mesmo inconscientemente parecia impossível.

Percebi entre um ou outro momento de lucidez que eu devia estar tendo uma hipotermia, meu corpo estava frio demais pra gerar mais calor e me curar por completo, já que eu estava quase inteiro debaixo da neve.

Eu queria gritar, alguém precisava salvar o Gus!

Tentei gritar mais uma vez, mas eu não sabia onde estava minha voz, eu não conseguia pensar de forma coerente, e mais uma vez afundei na inconsciência delirando com a voz do Gus me chamando.

A montanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora