T01E05 - O Prato Principal da Ceia | Por: E. N. Andrade

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Durante toda a semana que antecede o natal, tenho visto meus colegas de trabalho fazendo planos para ir à missa e depois cear, alguns até ceariam juntos, os vi fazendo convites entre si, mas eu fiquei de fora, como sempre.

Em parte, por falta de convite, em parte por falta de vontade. Passaria esse natal como passei os últimos, sozinho em meu apartamento, assistindo a filmes ruins na TV com vários salgadinhos e um pote de sorvete do lado, depois faria umas coisinhas no banheiro e dormiria tranquilamente até essa maldita época do ano passar.

— Matheus, estamos planejando uma ceia de solteirões que vivem longe da família, quer vir com a gente? — Pâmela finalmente disse, vindo até mim com um sorriso de empolgação. Ela era uma das poucas pessoas legais ali.

— Agradeço Pam, mas eu já tenho compromisso, sabe? — menti.

Argh, você sempre tem compromisso! Fica pra próxima... mais uma vez.

Além de ser legal, embora vivesse tentando me incluir em sua patotinha, ela entendia que eu gostava de ter certo espaço, não insistia muito quando levava um não, e eu, que odeio insistência, ficava muito satisfeito com isso.

Terminamos nosso dia de trabalho na Donato IV às seis em ponto na sexta, dia 23 de dezembro, saí do prédio às seis e quinze, pois precisei esperar um Uber, infelizmente meu carro estava no conserto após um pequeno acidente dias atrás.

Em vez de pôr meu endereço no aplicativo, eu havia colocado endereço do meu bar favorito, conhecido popularmente como DK, para o meu happy hour solitário, como eu costumava chamar. Em quase todos os fins de semana eu ia lá e enchia a cara até cair de bêbado e o gerente me chamar um táxi.

Isso quando eu não encontrava algum desconhecido antes e o levava para casa, para na hora H, pedir para chamá-lo de Hector, alguns reagiam mal ao pedido e iam embora imediatamente, outros não se importavam, só queriam usufruir dos meus avantajados atributos, independente do que eu os chamasse.

Eu sou patético, sofro há anos por um cara casado que um dia foi meu melhor amigo, mas estraguei tudo no dia do seu casamento perfeito, no lugar perfeito com a noiva perfeita. Felizmente ninguém sabia o que realmente ocorreu quando ele me levou ao banheiro, ninguém sabe que aproveitei-me do nível de álcool no sangue, e do desespero por perdê-lo para aquela mulher, para dar uma bela apalpada naquele pau e dizer o quanto o amava. Pena que não deu muito certo.

A maioria achava que havíamos brigado por conta do vexame que dei na festa, minutos antes da ocorrência no banheiro. Era melhor que achassem isso, já era vergonha suficiente ter que olhar para Hector e ver o constrangimento em seu belo rosto sempre que precisava lidar comigo na empresa.

Muito se especulava, mas só nós dois sabíamos da verdade, só nós sabíamos o quanto eu era doido para beijá-lo, passar as minhas mãos por todo o seu corpo e foder com ele até perder as forças.

A vergonhosa ocorrência me rendeu uma transferência da empresa de seu pai para outra filial, que fica na mesma cidade, Constância, mas os bairros são tão distantes que é como se eu estivesse em outra.

Saí do Uber na porta do DK, agradeci ao motorista e entrei no bar, estava lotado como de costume. Tirei meu terno, a gravata coloquei no bolso e desabotoei dois botões da camisa branca.

— Não vai dar PT hoje hein Matheus? — disse o garçom ao me cumprimentar, eu era tão assíduo que já havíamos nos tornado um pouco íntimos.

— Claro que não Jeffinho, me traga uma dose de uísque barato...

Horas mais tarde, após algumas doses, eu já estava tonto, jogando baralho com desconhecidos apostando doses de bebidas que eu já nem sabia o nome, perdi de propósito algumas vezes só para poder ficar mais bêbado.

Orgasmos de Natal | Contos LGBTQ+Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora