T02E03 - O primeiro Natal | Por: Rose Moraes

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O primeiro Natal  (Personagens do livro Além das Aparências e À Flor da pele)

    Narrado por Fabrício

— Papai boinha qui?

— Sim meu amor.

—  Bunita.

— Sim, muito, você gostou da árvore?

— Gotei — Rafael  respondeu ao colocar a bolinha na árvore de natal que estávamos montando.

Era o primeiro natal que eu passava com meus filhos, meu primeiro natal como pai. João Pedro de 6 anos e Rafael de 2 aninhos estavam conosco há 10 meses e eu me apaixonava a cada dia mais. Rafa era muito amoroso e se jogava pra todo mundo, era a alegria em pessoa. João Pedro era arisco com os outros, comigo ele estava ficando cada dia mais agarrado.

Gabriel amava os dois demais, era maravilhoso ver como meu amor estava amando ser pai. Era cuidadoso e atencioso,  Rafael vivia pendurado nele. Quando o pai chegava da empresa era a festa dele que se agarrava no pai e não soltava mais, até banho Gabriel tinha que tomar com ele.

João ainda estava se adaptando, mas conversava com todos direitinho, só era econômico nas demonstrações de afeto, mas aos poucos estava se soltando. Ele já sorria mais para Gabriel e deixava o pai fazer carinho nele e quando isso acontecia o sorriso de Biel não saía de seu rosto.

A conexão que eu e João Pedro tínhamos eu não sabia explicar, mas para tudo ele me pedia permissão, ora falando, ora apenas com o olhar. Se ele fazia algo era a minha aprovação que ele precisava. Somente eu podia dar-lhe banho e ajudá-lo a se arrumar.

Meu filho era vaidoso e fui descobrindo aos poucos que por trás do seu semblante sempre fechado e seu jeito arisco existia um menininho que amava carinho e atenção. Que quando demonstrava afeto era algo tão gostoso que eu ficava a cada dia mais encantado e Gabriel também, que fazia de tudo para conquistá-lo e eu estava percebendo que ele estava conseguindo.

— Quer ajudar também João? — Perguntei para meu homenzinho que observava eu e seu irmão montarmos a árvore de natal.

Percebi que ele estava encantado, mas não tive coragem de perguntar se ele já teve alguma. Ele tinha os olhinhos brilhando a cada bolinha que colocávamos.

— Eu posso?

— Claro meu amorzinho, vem, me ajuda?

João veio e começou a colocar mais bolinhas e Rafael começou a sorrir e dar pulinhos, feliz por ver o irmão também montando a árvore.

— Eu nunca tive uma. — João falou tão baixinho que nem sei como ouvi e aquilo trouxe um nó para minha garganta que precisei pigarrear.

Ele era assim, falava as coisas no seu tempo, aos poucos se abria e nos mostrava seu interior tão ferido. E sempre que ele contava algo, ele falava baixinho como se fosse um crime confessar as coisas.

— Uma árvore de natal? — Perguntei tranquilo por fora, mas por dentro eu chorava.

— Sim, mamãe nunca quis, ela falava que não tinha paciência para isso por que  já gastava dinheiro para dar presentes pra gente, dois carrinhos de plástico.

— E seu...

— Meu pai? — Ele perguntou me olhando e seu olhar era forte.

— Sim.

— Ele nunca ficava em casa, só aparecia no outro dia, esquisito e brigava com mamãe. Agora eu tenho uma árvore. — Ele disse dando um de seus raros sorrisos que era deslumbrante.

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