vinte.

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Definitivamente, o Baile de Primavera foi a pior noite da minha vida. Eu deixei Seth Rowan lamber a minha cara e causar um impacto hormonal no meu corpo que eu desconhecia. Mas deixei Henry Hastings fazer pior. Eu entreguei o meu coração em suas mãos durante meses para ele esmagar em segundos.

E agora, estou no meio da chuva, arrastando um vestido molhado que pesa trinta quilos, porque a polícia acabou com a festa, os Rowan acham que fui eu quem liguei para o meu pai e ainda flagrei Georgia e Cherie se beijando!

Preciso organizar os meus pensamentos, então desabo no chão. A saia fofa e encharcada amortece a minha queda. Estou perto de casa, agora. Não a casa da senhora Dixie. Nossa casa em reforma, quero dizer. Posso vê-la no final da ladeira que desisti de descer porque prefiro ficar sentada na rua deserta sentindo pena de mim mesma.

― Meu Deus do céu! ― Eu grito. É importante que as gostas estejam tão nervosas contra o asfalto. Isso impede que a vizinhança me ouça. ― Como é que eu pude ser tão estúpida?

Acho que no meio de toda aquela água despencando do céu, estou chorando. Sinto algo quente e singelo tocar o meu rosto. Provavelmente são lágrimas. E elas doem. Porque o motivo que faz com que elas caiam são todos os últimos meses em que acreditei em Henry Hastings e de que ele poderia, finalmente, me dar a chance de viver o romance que nunca estive perto de experimentar.

Cubro o rosto com as mãos. Estou engasgando com o meu choro. Meus pulmões queimam, mas quero jogar aquilo para fora. Todas as mensagens de madrugada. Os vídeos que ele me marcava e sugeria algo a mais. O modo como ele sorria para mim atrás do balcão da Yesterday. Os presentes que tinham tanto a ver comigo! Tudo o que Henry fez foi mentir para me manter iludida em um sentimento que só eu criei.

― Eu te odeio, Henry Hastings e eu espero que o seu membro sexual tenha uma gangrena. ― Esfrego os olhos. Meu vestido está começando a boiar numa poça de água que se forma ao meu redor. ― Por isso ele não me beijou, meu Deus. Claro... Porque ele já sabia que ia ficar com Eloise Flume. Henry só estava esperando Eloise... Ai meu Deus do céu. Eu fui tão burra.

Até o meu choro decide me abandonar depois de um tempo. Fico em silêncio, sentindo a chuva bater contra o meu corpo como se os anjos estivessem me cutucando com raiva. Não dou a mínima. A noite foi um fiasco. Como tem sido minha vida. Sem graça, obediente e invisível. Vou para uma faculdade que meu pai escolheu, não tomei o controle do colégio dos Rowan, ninguém se apaixonou por mim e a minha única amiga vai embora depois do verão. E, até lá, suspeito que ela vá querer passar o tempo todo beijando Georgia Dayrell.

Céus, como isso aconteceu? Quero dizer, Georgia nunca... Ok, é Seven Heavens. Homossexuais não existem embaixo dos nossos sete céus. Todos eles esperam avidamente para fugir daqui e serem eles mesmos em outro lugar. A nossa cidade conservadora oprime qualquer coisa que não seja a droga de uma pessoa tradicional até que ela se sinta com vontade de desaparecer.

Talvez seja por isso que eu não fazia ideia de que Georgia Dayrell não gostava de meninos. Embora, parada na chuva, consigo reunir memórias de Georgia batendo nos Rowan, puxando-os por coleiras e sendo a única rainha do grupo. Começo a rir sozinha, me abraçando.

E Cherie estava embaixo do teto do homem mais machista e autoritário da cidade. Por mais que sejamos íntimas, acho que ela nunca me contaria nada por medo da minha reação. Por eu contar ao papai. Por não querer dormir no mesmo quarto que ela. O que é uma grande besteira, porque eu jamais faria qualquer uma dessas coisas. Mas posso imaginar o medo de Cherie e não vou culpá-la.

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