O pecado dos anjos - Uma nova história de Kuroshitsuji

I.II.III

Os funcionários se reuniram no salão de entrada, haviam quatro equipes de três e cada uma era liderada por um funcionário de elite, mas nenhuma das quatro equipes foi capaz de encontrar Devon e o jovem mestre, estavam demorando demais para um simples passeio além dos muros da mansão e a preocupação estava começando a se tornar palpável, bem, isso até os dois sumidos passarem pela porta: Devon carregava o jovem duque que parecia extremamente machucado em seu colo como se carregasse um bebê, um olhar gelado e todos já sabiam o que fazer. Luke foi para a cozinha preparar uma sopa quente, Karin foi direto ao telefone para contatar o médico que sempre atendia o jovem mestre e o resto da equipe de funcionários deixou a mansão vazia, tudo deveria estar o mais silêncioso e pacífico possível para que o jovem duque pudesse se recuperar.
Enquanto os outros dois que ficaram na casa cumpriam suas tarefas, Devon tratava de cuidadosamente colocar um pijama em seu jovem mestre e colocá-lo na cama, os hematomas eram óbvios até demais na pele clara do pequeno duque e aos poucos passavam de vermelhos para roxos, raramente seu jovem mestre saia ileso de uma missão como essa, mas de longe essa foi a pior. Devon foi rápido em pegar água gelada e panos limpos, colocando cuidadosamente os pedaços de pano encharcados na água gelada sobre as marcas roxas na pele do jovem duque para aliviar os machucados, Sapphire o observava quieto enquanto seu mordomo cuidava de sí, estava cansado, sua cabeça doia e sua visão alternava entre clara e embassada o deixando um tanto tonto.

- Devon… - O jovem duque o chamou baixinho, logo vendo seu mordomo se aproximar e segurar sua mão delicadamente - … Promete que vai ficar?… Não quero ficar sozinho…

- Eu prometo, bocchan, não se preocupe, vou ficar bem aqui com você…

Devon respondeu ao pedido de seu pequeno mestre em um sussurro para evitar causar dores de cabeça, estava sendo cuidadoso, seu jovem mestre sempre fora uma criança sensível e a última coisa que queria era causar qualquer desconforto a ele, há final, ele já estava ferido o sulficiente. Karin entrou no quarto no maior silêncio possível assim como o médico, um antigo contato de Devon e que já estava acostumado a cuidar de crianças dessa família. Devon deu espaço ao homem como fazia normalmente, mas dessa vez seu jovem mestre se recusava a deixá-lo se afastar e forçá-lo a soltar não parecia uma boa idéia então Devon acomodou o jovem duque em seu colo como um bebê outra vez, apenas para apoiá-lo para que o médico o examinasse, ou pelo menos foi isso que disse a si mesmo.
O médico examinou o jovem duque de cima a baixo com todo o cuidado, não haviam ossos quebrados nem danos internos, apenas uma concussão leve gráças a pancada na cabeça e as marcas bem óbvias na pele branca até demais do garotinho, então ele apenas recomendou que o pequeno ficasse em repouso absoluto pelos próximos dias. Devon colocou seu jovem mestre deitado  na cama outra vez, mas dessa vez manteve a cabeça do pequeno duque apoiada em seu colo, queria ter certesa de que tudo estaria bem e com aquela criança agarrada em si as coisas se tornavam bem mais complicadas do que deveriam ser, mas mesmo assim preferia que o jovem duque ficasse ali ao alcance de seus dedos, aonde poderia fácilmente protegê-lo. Karin logo voltou ao quarto trazendo um prato de sopa para o jovem duque, deixou a sopa com Devon e saiu logo em seguida, não é como se o jovem mestre fosse permitir que qualquer outro de seus funcionários se aproximasse de si então não havia utilidade em insistir, o melhor a fazer era deixar os dois sozinhos na mansão para que Devon pudesse cuidar devidamente do jovem duque.

- Bocchan? - Devon chamou baixinho, passando seus dedos suavemente pelo cabelo do jovem duque enquanto o ajeitava na cama para que ficasse sentado - … Coma pelo menos um pouco, certo?… Vai ajudar a se recuperar…

- … Ahnn… Eu não quero…

- Vamos, só um pouco bocchan… E se eu te alimentar? Só um pouquinho pelo menos…

- … Tá… Só um pouco…

Devon pegou o prato de sopa e a colher e alimentou o jovem duque com cuidado para não derramar, era simplesmente estranho ver seu pequeno mestre sendo tão infantil assim, o jovem Sapphire quase nunca agia tão infantil, apenas… Apenas quando se lembrava de algum momento no passado em que estava vulnerável, apenas quando se sentia totalmente desprotegido. Devon o ajeitou outra vez deitado, passando os dedos devagar pelo cabelo branco do jovem duque em um carinho leve até o pequeno adormecer, encolhido como um filhotinho assustado. Fazia apenas um ano que haviam formado um contrato e mesmo assim Devon hava criado uma preferência por aquela criança, há final, por fora seria difícil encontrar um humano mais puro e doce que esse, mas apenas um olhar um pouco mais próximo já era capaz de revelar uma alma mais escura que as profundezas do inferno, era interessante a ironia em toda aquela cituação, ao menos aos olhos de um mordomo-demônio, talvez se fosse totalmente sincero, pudesse admitir que seu jovem mestre não era completamente humano, mas como confiar em um faro sensível até demais para idêntificar uma alma mágica?
Sapphire Everfree tinha o cheiro e as maneiras de um anjo, mas sua personalidade e sua alma não combinava em nada nem com o anjo mais puro, nem com o demônio mas escuro, seu jovem mestre era um belo mistério, um que Devon desejava solucionar, se possível.
Devon se perdera em seus pensamentos enquanto continuava fazendo um carinho suave nos cabelos do jovem duque que dormia enrolado e grudado a si como se isso fosse protegê-lo do mundo, tão vulnerável que chegava a lhe despertar o desejo de realmente provar o gosto da alma daquela criança… Não, não faria algo assim, pelo menos não enquanto o jovem duque dependia tanto de si, há final, seu dever acima de todos era cuidar da criaturinha ao seu lado o melhor possível, e a palavra de um demônio jamais pode ser quebrada.

"Bricks and mortar will not stay,
Will not stay, will not stay,
Bricks and mortar will not stay,
My fair lady."