A mansão estava quieta demais, mesmo quando o jovem mestre dormia, nunca era quieto assim. Um dos convidados não havia voltado a sala de jogos mas mesmo assim todos pareciam os mesmos, se não fosse a leve sensação de que algo horrível acabara de acontecer, tudo estaria como sempre esteve. Devon caminhava em silêncio trazendo à mente as palavras de seu jovem mestre, "Estou com medo"... Devon nunca havia ouvido seu jovem mestre dizer tais palavras, não daquela forma, não em voz alta.
- Devon! - Karin, a empregada da casa, correu até ele com uma carta em mãos a qual ela entregou a Devon imediatamente, as mãos tremendo - Está enderessada "Aos empregados do duque Everfree", o que houve? Onde está o jovem mestre?!
- Acalme-se por favor Karin, está tudo correndo como planejado, só preciso buscá-lo agora.
Haviam alguns longos quilômetros entre Sapphire e seu demônio de estimação e isso não lhe agradava nem um pouco, o jovem duque fora acordado com uma pancada e a dor de cabeça resultante apenas o deixava mais mal humorado, seus sequestradores estavam em silêncio completo e a sala em que estava era iluminada apenas pelo luar, ele sorriu internamente ao reparar tal fato, mantê-lo em uma sala com janelas? Talvez devesse agradecer por facilitarem tanto o trabalho de Devon lhe dando uma entrada tão prática. O jovem duque estava muito bem amarrado com alguns cintos de couro grosso e um homem em especial lhe observava calmamente, conhecia aquele homem, Vincent era um de seus convidados naquela noite e traficava ópio antes da proibição, mas agora que o jovem duque não permitia nem mesmo que os navios fossem ancorados antes de checar a presença de tal droga, importar ou exportar estava lonje de ser uma opção e isso irritara o homem.
- Está preocupado em ser visto, "vossa altesa"? Não se preocupe, ninguém vai te encontrar aqui. - O homem deu uma risada baixa, se aproximou e se ajoelhou perto do garotinho, puxando os cabelos brancos como a neve do jovem duque e o forçando a olhar para si - Seria muito mais fácil se o lordezinho só desse o braço a torcer e fizesse vista grossa para o tráfico, não é?
- Precisa respirar tão perto? Você fede a ópio, Vincent.
- Ah, te encomoda é? Moleque! Você sozinho não consegue nem amarrar os cadarços, eu te aconselho a simplesmente ceder, é melhor para os dois assim! Não quer ir para casa?
- Huh? Ceder? Eu não conheço essa palavra, o que significa?
- Que insolente! Não tem medo da morte não seu pirralho?!
- Não, nem um pouquinho.
O jovem duque sorriu totalmente irônico, por quê ter medo da morte se Devon viria buscá-lo logo logo? Não tinha medo da morte, tinha medo de morrer em vão. A sensação ardente de um soco no estômago e o gosto ferruginoso de sangue subiram a garganta do jovem duque, não lhe parecia sensato se fazer de criança e chorar justo naquele momento, então ele apenas fechou os olhos e aguentou calado, estaria bem logo logo de qualquer maneira. O homem finalmente lhe deixou em paz ao ouvir o telefone tocar, não parecia nada satisfeito mesmo com o jovem duque sem mover um músculo.
- Não é tão insolente assim agora não é mesmo, "vossa alteza"? - Vincent pegou o telefone com um sorriso um tanto presunçoso - Alô? O que foi?
- Chefe, ele não está em lugar nenhum... Tem certesa que ele tem mesmo um cão de estimação?
- Claro que tem, eu já o vi! Procurem direito!
- Já procuramos por toda a parte, mas não está em... O que é aquilo?!
A ligação foi cortada no mesmo momento, aquilo fez o jovem duque sorrir abertamente agora, não sabia exatamente em que momento seu tapa-olho havia caido mas podia sentir a marca do contrato arder como fogo líquido sobre seu olho, não havia nada para lhe preocupar, logo Devon estaria ali para salvá-lo.
- Merda, bando de incompetentes! Não importa... Sem você aqui, jovem duque, não precisaremos nos preocupar com a competição ou as proibições da rainha... Hmm, talvez eu deva te vender no mercado negro? Não seria difícil... Não com essa carinha de bebê, com certeza vão pagar bem caro em você mesmo com os hematomas...
- Wof!
- Wof? Que porra é essa moleque?! Quer se passar por cachorro é?
- Que deselegante, senhor Vincent Derrbarthen... - O sorriso impecável de Devon cortou a escuridão da sala, os olhos azuis brilhavam frios como gelo, e seria indelicado dizer que era possível ignorar as orelhas e cauda de um lobo negro. - ... Não sabe que o bocchan odeia ser amarrado? Não é assim que se trata um convidado...
- Me tire daqui de uma vez, Devon, está doendo.
- Você está uma bagunça bocchan... Fica ainda mais difícil ignorar as suas semelhanças com aqueles seres quando você está tão impotente quanto agora... Fique tranquilo, já estou aqui, não é?
- Me salve de uma vez! É uma ordem!
- Yes, my lord. Wof!
- O-o quê é você há final?!
- Oh, veja só, senhor Derrbarthen, i'm simply... One hell of a butler.
A escuridão tomou a sala, revelando a marca do contrato no olho do jovem duque e os olhos azuis brilhantes até demais de Devon, típicos de um demônio. Não demorou muito até que o quarto todo cheirasse a sangue fresco e os únicos respirando fossem o jovem duque, o próprio Vincent e Devon, que se apressou em ir até seu jovem mestre, pegá-lo em seu colo com todo o cuidado para não tocar nos machucados do pequeno duque e rasgar os cintos que o impediam de se mover como se fossem feitos de papel.
- Você está bem, bocchan?
- Está doendo... Quero ir para casa, Devon...
- Está tudo bem agora jovem mestre... Estou aqui, certo? Vamos para casa...
- Está embassado...
- Seus olhos, bocchan?
- Aham...
- Chamarei um médico assim que estivermos de volta à mansão, não se preocupe, estou aqui há final...
"Build it up with bricks and mortar,
Bricks and mortar, bricks and mortar,
Build it up with bricks and mortar,
My fair lady."
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O pecado dos anjos - Uma nova história de Kuroshitsuji
Fiksi PenggemarHá muito tempo, na Inglaterra, havia um menino, apenas um menino, mais jovem que os cavaleiros e mais determinado de todos eles, com o contrato de um certo mordomo um tanto diferente, esse garotinho mudará o destino não de um, mas de todos que tiver...